Conta-se que, candidato a governador de Minas Gerais, em 1982, Tancredo Neves convocou uma turma de jovens para participar da coordenação de sua campanha. Entre eles estava Aécio Neves, então um garoto de 22 anos.

Durante uma reunião, um dos jovens pediu a palavra e “exigiu”: “Nós não queremos Newton Cardoso na campanha”. O jovem falou muito, “ensinando” um homem que havia sido ministro da Justiça de Getúlio Vargas, na década de 1950, e primeiro-ministro da República, na década de 1960. Há quem acredite que, se tivesse continuado como primeiro-ministro, se o presidente João Goulart não tivesse trabalhado para “derrubar” o Parlamentarismo, não teria ocorrido o golpe de 1964, pois os militares sabiam que era um político moderado e nada “red”.

Newton Cardoso (à esquerda), o Newtão-Trator, e Tancredo Neves | Foto: Reprodução

Depois de ouvir o garoto, aparentemente do Rio de Janeiro, Tancredo teria perguntado, com sua humildade habitual: “Agora, eu posso falar?”. O jovem autorizou: “Pode”.

Tancredo então teria dito: “Amigos, eu não quero ser apenas candidato a governador de Minas”. Sua fala provocou um estranhamento na plateia. Num aparte, alguém perguntou: “O quê: o sr. não quer ser candidato?” O veterano de tantas lutas redarguiu: “Pois é, meu filho. O que quero mesmo é ser governador. Portanto, traga o Newtão para a minha campanha. E, se possível, conquiste até mais de um Trator”. Newton Cardoso, o Trator (político de Contagem que amealhou uma imensa fortuna, possivelmente por meios não muito católicos), havia sido prefeito de Contagem e, mais tarde, foi deputado federal e governador de Minas.

A história pode ser lenda, folclore político. Ainda assim, a mensagem é realista. Em política, sobretudo em eleições majoritárias, não se “dispensa” apoio. Porque não se ganha uma eleição só com os “bons”, os “puros” e os “escolhidos”. Ganha-se, isto sim, com “todos” que querem apoiar o candidato.

Talvez por inexperiência política, por não ter malícia de vida mesmo, o candidato a governador de Goiás pela “ong” Patriota, Gustavo Mendanha, se recusou a fazer a fazer fotografia com o ex-governador Marconi Perillo e não o aceitou na sua chapa como candidato a senador.

A rejeição a Perillo teria sido uma decisão tomada a partir de pesquisas quantitativas e qualitativas. O que se temia é que o desgaste do tucano, que é alto, contaminasse a campanha de Mendanha.

Gustavo Mendanha e Marconi Perillo: o primeiro fez tudo para esconder o segundo | Foto: Reprodução

Porém, como não aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto e ainda é desconhecido de grande parte do eleitorado, Mendanha deveria ter dispensado o apoio do tucano? A lição de Tancredo, que ele não quis levar em conta, sugere que não deveria.

Mendanha pode perder, brevemente, o apoio do presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Romário Policarpo, do Patriota, e do deputado estadual Max Menezes, do PSD. Tudo por falta de perícia e experiência política dos articuladores de sua pré-campanha e da campanha. O ex-prefeito não entendeu que o papel do marqueteiro não é o de coordenador de campanha política.

Agora, enfraquecido, Mendanha tentou evitar que prefeitos que apoiam Perillo para senador embarcasse na campanha de Ronaldo Caiado (União Brasil). É tarde. Os prefeitos estão passando para o lado do governador não porque Perillo “pediu”, e sim porque acreditam que será reeleito no primeiro turno. O postulante do Patriota está ficando só — solamente só. Isolado. A tendência é que saia menor do processo eleitoral do que quando decidiu ser candidato.

Alguns aliados já dizem que Mendanha deve ser candidato a vereador em Goiânia, em 2024, com o objetivo de ser candidato a prefeito na capital em 2028. Ou seja, a eleição de 2022 nem foi realizada e o ex-prefeito de Aparecida já está de olho na eleição municipal de 2024. É um mau sinal.