A dura (mas possível) tarefa de Caiado na corrida ao Planalto

05 março 2023 às 00h07

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Depois que Fernando Collor foi alçado do governo de Alagoas para a Presidência da República via a campanha publicitária que o colocava como “caçador de marajás” – alcunha importada da monarquia indiana para designar servidores públicos com mordomias e salários altos –, o Brasil não teve mais ninguém eleito ao cargo que não fosse do chamado “eixo”, os Estados que detém tradicionalmente maior poder político e também poder econômico. Encaixam-se aí Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ambos com título eleitoral de São Paulo; Dilma Rousseff (PT), gaúcha baseada em Minas Gerais; e Jair Bolsonaro (PSL, depois PL), paulista que fez carreira no Rio.
Além de Collor, na história brasileira, apenas dois brasileiros sem domicílio eleitoral no Eixo SP-RJ-MG-RS que ganharam no voto popular para presidente: em 1919, o paraibano Epitácio Pessoa, em uma condição muito especial – sucedia um vice-presidente, Delfim Moreira, que havia assumido e venceria Rui Barbosa mesmo estando em missão na França –, e o militar mato-grossense Eurico Gaspar Dutra, em 1945, depois da deposição de Getúlio Vargas.
Isso demonstra o tamanho do feito que seria ter um goiano eleito presidente da República pela primeira vez. Para ter ideia, nem mesmo a Bahia, quarto maior eleitorado nacional, já teve alguém nato ocupando a principal cadeira do Executivo, nem mesmo indireta ou provisoriamente.
Ronaldo Caiado já deu mostras que, se for para concorrer a algum cargo eletivo em 2026, certamente será esse o intento. O primeiro desafio que está posto é superar os possíveis postulantes de seu campo, o da direita, que estão no principal trampolim para o Planalto, o governo dos Estados hegemônicos: Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo; Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais; e Eduardo Leite (PSDB), no Rio Grande do Sul.
Extrair o melhor da exposição na mídia e nas redes sociais será um fator chave para os oposicionistas nas eleições presidenciais. Tarcísio naturalmente sai em vantagem: São Paulo é um “país” cujo PIB é superior ao de todos os Estados do Nordeste, Norte e Centro-Oeste somados. Assim como Bolsonaro viu João Doria (PSDB) como seu principal rival durante um bom tempo, é assim que Lula vê o atual governador paulista.
Porém, política é um conjunto de circunstâncias. Nada impede que, em algum momento até o ano eleitoral, Ronaldo Caiado consiga uma projeção maior que o faça competitivo nacionalmente. Para tanto, precisa fazer sua “tarefa de casa”, que é se destacar diante da fatia do eleitorado que poderia votar nele: um centro antipetista, a direita convencional e também a direita militante, que muito provavelmente não terá Bolsonaro como opção – o ex deve ficar inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Emular o discurso bolsonarista não compõe o perfil do goiano – basta ver as crises entre ele e o então presidente por conta de posicionamentos opostos durante a pandemia. “Tomar” os eleitores a partir do centro para a direita é a tarefa que ele precisa mirar. No caso, o tem fizer e for bem visto por esse público, somado a um eventual desgaste de Tarcísio, principalmente, além de Zema e Eduardo, o colocará em posição de destaque diante desse alvo eleitoral.
Em seu favor, Caiado conta com o “trunfo” União Brasil: hoje o governador é sem dúvida o maior nome do partido em nível nacional – um partido que pode ficar ainda maior, caso realmente se una ao Progressistas dos nordestinos Ciro Nogueira (PI) e Arthur Lira (AL), respectivamente presidente da sigla e presidente da Câmara dos Deputados.