O quadro eleitoral para a disputa da Prefeitura de Goiânia não está, obviamente, definido. Porque o pleito só vai ser disputado daqui a um ano e um mês. Entretanto, é possível especular sobre os políticos que realmente serão candidatos, observando suas movimentações e conversações com as lideranças locais.

A rigor, são cinco os políticos efetivamente cotados para a disputa: Adriana Accorsi (PT), Bruno Peixoto (União Brasil), Gustavo Gayer (PL), Rogério Cruz (Republicanos) e Vanderlan Cardoso (PSD). Claro que os chamados micropartidos vão lançar candidatos, para marcar posição e expor suas ideologias, mas não têm nenhuma chance de vitória.

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Bruno Peixoto, do MDB

Por que Ana Paula do Iris não figura na lista acima? Porque a advogada não é articulada e não conversa com aqueles que realmente têm voto. Por não ter a estatura do pai, Iris Rezende — uma das figuras políticas mais respeitadas da história de Goiás, tendo sido prefeito, governador, ministro e senador —, ela teria de buscar apoio. Porém, não se sabe por que — talvez por falta de experiência ou orientação errada (estaria cercada de amadores) —, a empresária parece que quer ser ungida por todos. Por isso não vai à luta. Na semana passada, não foi a dois eventos. Não quis ir num deles — o lançamento do escritório político da deputada federal Marussa Boldrin —, alegando problema de agenda. Ora, qual agenda era mais importante do que prestigiar uma parlamentar do MDB e, importante, uma mulher de fibra do interior? Nenhuma.

Mais grave, para o evento de filiação do prefeito de Aparecida de Goiânia, Vilmar Mariano, ao MDB, num evento articulado pelo vice-governador Daniel Vilela e pelo ex-prefeito Gustavo Mendanha, Ana Paula admitiu que não foi convidada.

Ronaldo Caiado, Gracinha Caiado e Bruno Peixoto: objetivo é ampliar a força do UB em Goiânia

Se realmente fosse a pré-candidata do MDB a prefeita da capital, se entusiasmasse os integrantes do partido, teria sido convidada, até convocada. E, se realmente fosse uma política atenta — que quer mesmo (e não fazer figuração, por vaidade pessoal) disputar uma prefeitura do porte da de Goiânia —, teria ido ao evento mesmo sem convite. O problema crucial de Ana Paula é este: não se expõe. Quer ser paparicada — o que não será. E simplesmente porque é Ana Paula — e não Iris Rezende. Para se apresentar como herdeira de Iris Rezende não pode dizer apenas que é filha — precisa fazer por merecer.

A “queda” de Ana Paula — que se derruba, não precisa ser derrubada — significa a elevação de Bruno Peixoto, do União Brasil.

Qual o diferencial de Bruno Peixoto? Ao contrário de Ana Paula, o presidente da Assembleia Legislativa se apresenta à sociedade e aos políticos. Ele diz, em alto e bom som, que quer disputar a Prefeitura de Goiânia. Isto conta muito.

Bruno Peixoto articula com os políticos, diz a eles o que pensa sobre a cidade e o que, se eleito, poderá fazer. É visto como um político que cumpre compromissos e que aprecia dialogar com os políticos.

Há outra questão-chave. O MDB terá o apoio do União Brasil em Aparecida de Goiânia, ou seja, o governismo bancará a candidatura do prefeito Vilmar Mariano. Em Goiânia, para manter a correlação de forças de maneira proporcional, a tendência é que o União Brasil banque o candidato a prefeito — no caso Bruno Peixoto.

Na questão dos apoios, a maioria dos deputados que operam em Goiânia já está apoiando Bruno Peixoto. E o deputado poderá ter como vice o presidente da Câmara Municipal, Romário Policarpo, que pode se filiar ao MDB de Daniel Vilela.

O exército eleitoral de Bruno Peixoto, se for definido como candidato, será poderoso: Ronaldo Caiado, Daniel Vilela, Silvye Alves, Gustavo Mendanha, Delegado Waldir Soares, Romário Policarpo — entre outros. As chapas de candidatos a vereador que irão apoiá-lo não serão pequenas e tampouco fracas.

Portanto, é provável que Bruno Bruno não apareça bem ranqueado nas pesquisas de intenção de voto, num primeiro momento, mas a tendência é que se consolide e polarize a disputa em Goiânia contra Vanderlan Cardoso, Adriana Accorsi ou Gustavo Gayer.

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Vanderlan Cardoso, do PSD

O senador Vanderlan Cardoso, do PSD, aparece bem nas pesquisas de intenção de voto. Por três motivos. Primeiro, seu recall de administrador eficiente — em Senador Canedo, um município bem menor do que Goiânia. Segundo, porque, até o momento, o governismo não definiu seu candidato. Terceiro, o prefeito Rogério Cruz não está bem avaliado.

Vanderlan Cardoso: senador por Goiás | Foto: Câmara dos Deputados

A “frente” talvez possa ser denominada de inercial. Quer dizer: é o mais conhecido, porque disputa todas as eleições, durante anos. “Conhecimento” pesa sobretudo no período pré-eleitoral — e nem se está em pré-campanha, a rigor.

Pode-se dizer que, em Goiânia, Vanderlan Cardoso não tem grupo político — tanto que é acompanhado por políticos sem expressão, como Samuel Almeida e Simeyzon Silveira. O ex-presidente do PSD Vilmar Rocha pode até apoiá-lo, mas sem nenhum entusiasmo.

Os políticos não estão motivados com o senador porque ele não tem o hábito de cumprir compromissos. Ele recebe o apoio de um político hoje e não retribui amanhã. Em 2020, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) o apoiou para prefeito, mas, quando chegou 2022, Vanderlan esqueceu da contrapartida. Aliás, não se sabe direito se apoiou Gustavo Mendanha (então no Patriota) ou Major Vitor Hugo (PL).

Neste momento, Vanderlan Cardoso está “rondando” Ronaldo Caiado, em busca de apoio, porque sabe que, sem o governador, ficará isolado e terá de ir para a disputa praticamente sozinho, ou apenas com uma espécie de exército de Brancaleone.

O lema dos políticos de Goiânia é: “Vanderlan? Tô fora!”

O senador vai enfrentar uma pedreira: Gustavo Gayer vai partir para cima dele durante a campanha. Sem dó nem piedade. E o deputado é influente e sabe bater como poucos.

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Adriana Accorsi, do PT

A deputada federal Adriana Accorsi, do PT, é uma política respeitável. Foi bem como deputada estadual, sempre posicionada, e está com bom desempenho em Brasília. O PT nacional a pressionou para disputar a Prefeitura de Goiânia, por considerar que o bolsonarismo precisa ter um contraponto de esquerda na capital do Estado.

Lula da Silva e Adriana Accorsi: a deputada é a aposta do presidente | Foto: Reprodução

O desafio de Adriana Accorsi é constituir uma frente política que dê substância à sua candidatura. A candidata é qualitativa, mas não se ganha eleição sem alianças consistentes. Não basta ter na campanha o PSB de Elias Vaz e o PC de B de Isaura Lemos e Tatiana Lemos. Os dois partidos, se dão reforço ideológico e ajudar a marcar posição, não atraem votos e não rendem votos em quantidade suficiente para se ganhar uma eleição majoritária numa cidade como Goiânia.

O fato de Lula da Silva ser o presidente do país, e ser a âncora política do PT, ajuda, e muito, Adriana Accorsi. Porém, ao menos em Goiânia, o nacional nunca substituiu o local. Mas a petista é uma candidata consistente e, desta vez, pode surpreender e ser eleita.

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Gustavo Gayer, do PL

Ao lado de Adriana Accorsi, o deputado Gustavo Gayer será, por certo, o postulante mais ideologizado da disputa na capital.

Radical de direita, sempre posicionado, Gustavo Gayer aparece bem-posicionado nas pesquisas, talvez porque seja ele o nome do bolsonarismo na capital.

Jair Bolsonaro e Gustavo Gayer: o deputado é a aposta do bolsonarismo | Foto: Reprodução

O principal problema do parlamentar é que, se quiser ampliar sua base política, terá de moderar o discurso — o que ele dificilmente fará. Porque seu sucesso eleitoral, para cargo proporcional, deriva exatamente da radicalidade de seu discurso.

Sem moderar o discurso, Gustavo Gayer terá dificuldade para atrair apoios novos, sobretudo de setores de centro. Numa eleição com candidatos de esquerda e de direita, o centro pode ser decisivo. Quem conquistá-lo tende a ganhar a eleição.

Até o momento, o deputado não tem um discurso para o centro — só para o eleitorado conservador. É pouco para quem ser prefeito de uma cidade com 1 milhão de eleitores. Ou seja, o eleitorado é multifacetado.

Mas Gustavo Gayer pode surpreender? É provável, sobretudo se conseguir apresentar um ideário mais propositivo, para além do discurso ideológico.

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Rogério Cruz, do Republicanos

Não há equívoco maior do que tratar o prefeito Rogério Cruz como “galinha morta”. Jamais se deve subestimar um político que controla uma máquina tão poderosa quanto a Prefeitura de Goiânia.

Os próximos seis meses serão decisivos para Rogério Cruz. Se o preciso conseguir dar uma nova cara à cidade, terminando algumas obras — notadamente na área de mobilidade (os corredores de ônibus se tornaram uma novela interminável) —, o prefeito se manterá no jogo (do qual, a rigor, nunca saiu).

Rogério Cruz: o prefeito de Goiânia está no jogo | Foto: Reprodução/Prefeitura de Goiânia

O desafio do marketing do líder do Republicanos é criar empatia entre ele e a cidade, quer dizer, com seus moradores (e não só os eleitores). Rogério Cruz é um político simpático, afável, mas isto não aparece em seu marketing. O que prevalece é a visão de que se trata de um prefeito “ausente” — quase absenteísta (o que não é).

Surpreendendo o coro do contentes, Rogério Cruz pode acabar indo para o segundo turno? Loucura? Não. Pode se mudar a imagem de um político em seis meses. Não é fácil, claro. Se a má imagem estiver cristalizada, tendo se tornado pedra, será difícil removê-la e substitui-la. Mas, nos novos tempos, com as redes sociais, imagens podem ser construídas — e, claro, destruídas — rapidamente. Enfim, o prefeito está “vivo”. Só precisa ficar mais vivo. Ele terá adversários duríssimos, como Vanderlan Cardoso, Bruno Peixoto, Gustavo Gayer e Adriana Accorsi. E, crucial, todos vão bater nele, se melhorar seus índices nas pesquisas. Quando quatro batem, aquele que apanha, solitário, acaba muito “machucado”. (E.F.B.)