Goiânia quer um prefeito gestor; um candidato do perfil já se apresentou, outros virão

17 setembro 2023 às 00h12
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Em julho de 2019, o Jornal Opção publicou: “O perfil de gestor do candidato empresário pode ser bem recebido pelos eleitores [de Goiânia], tendo em vista a predileção por empresários verificada nos últimos pleitos no Brasil”. Em maio deste ano, outra reportagem com o mesmo escopo ouviu profissionais da pesquisa eleitoral e constatou que, quatro anos depois, o desejo permanece o mesmo. “O eleitorado quer um gestor em Goiânia”, afirmou Jorge Lima, diretor do Instituto Goiás Pesquisas, ouvido na reportagem de 2023.
Por que o perfil dos políticos administradores de empresas foi tão valorizado? O próprio Jorge Lima explica parte do fenômeno: “A escolha pelo político gestor geralmente significa o desejo de alguém que resolva problemas e que arrume as coisas. É um anseio que frequentemente aparece em administrações mal avaliadas. As pessoas querem alguém que conserte a situação.”
A hipótese faz sentido. Complementando a explicação do ponto de vista do marketing político, temos a impressão de que os profissionais que construiram carreiras na iniciativa privada são mais honestos. Eles parecem já ser ricos o suficiente para se desinteressarem pelo tesouro. Eles parecem self made men bem sucedidos, com habilidades que independem da máquina pública. Se suas empresas funcionam, por que não funcionaria o Estado em suas mãos?
Entretanto, na maior parte do Brasil, esse perfil sofreu um baque com a pandemia de Covid-19. Nos anos de pandemia, foi solicitada do Estado uma atuação diferente daquela esperada gestor (pagar a folha em dia, cortar gastos, otimizar processos). No deserto de empatia do governo federal, a população procurou acolhimento e humanidade nas instâncias mais próximas, além esperar coordenação de esforços conjuntos pelo bem coletivo.
Esse fator explica, por exemplo, o fato de que hoje Guilherme Boulos (PSOL) é o primeiro colocado na corrida pela a prefeitura de São Paulo, com 32% das intenções de votos. Por que então Goiânia continua esperando que um político gestor assuma a Prefeitura? A principal explicação é a própria pandemia de Covid-19. Ao contrário de São Paulo, que teve o empresário Ricardo Nunes (MDB) no comando da capital paulista durante a pandemia, Goiânia não experimentou um prefeito gestor.
Mais ainda: Maguito Vilela já havia sido diagnosticado com Covid-19 quando foi o candidato mais votado de Goiânia em 15 de novembro de 2020, o mesmo dia em que foi entubado. Ter preterido Vanderlan Cardoso (PSD), o clássico político empresário, pode ter gerado no eleitorado goianiense uma sensação de injustiça. Agora, o perfil do gestor, que está em baixa em muitas capitais, é aposta em Goiânia.
Em geral, as últimas pesquisas de intenção de voto na Capital colocam Gustavo Mendanha (MDB) em primeiro lugar. Como há a possibilidade de Mendanha não conseguir disputar, vamos imaginar um cenário sem o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia. Vanderlan Cardoso aparece logo em seguida, oito pontos percentuais atrás (dados da Serpes). Com as pesquisas qualitativas revelando há anos que o eleitorado quer um gestor, é natural que nomes do empresariado comecem a surgir nas vésperas da eleição.
O nome de Sandro Mabel (Republicanos), por exemplo, atende a demanda. O ex-deputado federal tem afirmado em entrevistas que avalia colocar seu nome no jogo. Ele afirma que está já se preparava para se afastar do cenário político, mas admite que ouvir o chamado do eleitorado por um perfil que coincide exatamente com o seu o fez repensar. Além de se preencher os requisitos, Mabel é um veterano que já disputou a prefeitura e seu nome tem o recall – está na memória dos eleitores.
E se Mabel concorrer, o que acontece? A primeira coisa é uma divisão no grupo que hoje tende a votar em Vanderlan Cardoso por falta de outro gestor de empresas no páreo. A queda de Vanderlan Cardoso (primeiro sem Mendanha) e a subida de Mabel poderia tornar a corrida mais competitiva, sem um líder destacado. E se isso acontecer? Outros políticos gestores podem ser encorajados a testar seus nomes, atraídos pela aparente facilidade para sua classe no pleito.
Gustavo Gayer (PL) poderia se assumir como um candidato gestor, mas parece ter optado por outro caminho. Gayer é empresário, tem ao menos duas empresas – apesar de uma ter sido ocultada ao Tribunal Superior Eleitoral – a Academia Gayer Ltda. e a Gayer & Gayer Idiomas Ltda. O bolsonarista, entretanto, nunca se colocou como um gestor. Nunca chamou para si os adjetivos de administrador ou de gestor. Pelo contrário: se mostra um dogmático, apaixonado por uma ideologia e visão de mundo muito específica. Talvez Gayer pudesse obter uma vantagem eleitoral ao se apresentar como um gestor de empresas à população (e ao TSE também).
(I.C.W.)