1º round: “Gayer x Silvye” abre disputa sobre eleitor de direita para 2024
04 junho 2023 às 00h05
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O agito da semana no Congresso Nacional ficou por conta da votação da medida provisória de restruturação ministerial, ou MP dos Ministérios. Se o placar fosse negativo para o Planalto, o governo Lula estaria em maus lençóis: teria de retomar o organograma de Jair Bolsonaro (PL) para montar sua equipe, o que, em outras palavras, significaria destruir todo o trabalho desde a transição.
O deputado federal Gustavo Gayer (PL), claro, torcia pelo caos – já que, em sua visão bolsonarista, caos é o próprio governo petista. O caos desejado não veio e ele divulgou, para seus seguidores nas redes sociais, a lista dos “deputados de Goiás que se renderam ao PT e votaram com Lula”. Em primeiro plano, a foto de Silvye Alves (UB).
A recordista de votos para a Câmara em 2022 não pensou duas vezes – e, pelo jeito e rapidez com que reagiu, pareceu tudo realmente “de impulso”. Respondendo diretamente no post do colega no Instagram, ela mandou Gayer “tomar vergonha na cara” e já iniciou o “lembrando” de que se envolveu em um acidente estando bêbado, segundo ela, no que deixou duas pessoas mortas e uma terceira “paralítica”.
Entre outras coisas, chamou Gayer de “moleque da internet”, “escória vergonhosa”, e alguém que “vive de falácia”.
Questionado pelo repórter Domingos Ketelbey sobre o que teria a dizer sobre a “réplica” de Silvye a sua postagem, Gayer respondeu, por WhatsApp: “Vi que a Silvye ficou muito chateada e acabou falando absurdos para me atingir. Não tenho nada contra ela e a única coisa q tenho a dizer é que espero que ela esteja bem”.
Primeiro, é preciso ressaltar que não enviar uma receita de bolo ao jornalista já é algum progresso na relação do deputado com a imprensa. Mas, mais do que apenas futrica pesada, o que está em jogo no debate são centenas de milhares de votos.
Tanto Gayer como Silvye são pré-candidatos de seus partidos às eleições municipais do próximo ano em Goiânia. Disputam o mesmo eleitorado conservador e de direita. Se Gayer tem Bolsonaro como seu padrinho político, a apresentadora tem o governador e correligionário Ronaldo Caiado.
Nesse primeiro duelo aberto, Silvye ganhou pontos? Ao que parece sim, porque acuou o adversário e, na mesma mensagem, ainda o convidou a “parar de ataques e fazer algo pelo povo do seu Estado”, a ir “trabalhar” em vez de ficar com “pedidos e videozinhos na tribuna para engajar suas redes”.
Ao mesmo tempo, ainda que na reação duríssima, deixou recado de que ela, sim, faz alguma coisa: “Diferente de você tenho projetos reais para a população, mulheres, esporte, idoso, autismo etc.”, tudo isso escrito de forma telegráfica e com o “português de internet”.
O fato é que a guerra política por espaço está se abrindo com mais vigor, até porque as pautas de direita contra o governo estão diluídas, sem foco, porque atacam sem mostrar alternativa. Assim, vão se desgastando.
Silvye, pelo menos, já sabe que tem de ter algo a mostrar de “construção” quando a corrida eleitoral começar. Porque, ao contrário do Legislativo, apenas em situações anômalas alguém consegue se eleger para o Executivo se pautando apenas em ser “do contra”.
Por fim, a despeito de toda a questão político-eleitoral envolvida, é preciso pontuar: as redes sociais puxam para baixo até mesmo o nível de baixaria do Parlamento brasileiro.