Por Redação

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Irapuan Costa Junior, perfil de um intelectual na Academia Goiana de Letras

Salatiel Soares Correia

Especial para o Jornal Opção

A Academia Goiana de Letras recebe, na quinta-feira, 21, um novo integrante — cujo nome dispensa apresentações: o engenheiro, escritor e ex-governador de Goiás Irapuan Costa Júnior.

Mais do que saudar sua posse, é momento de reconhecer um homem que, ao longo da vida, soube unir a precisão técnica do engenheiro à sensibilidade do artista da palavra. Do estilista da Língua Portuguesa.

Autor de obras que li com grande prazer — e cuja leitura recomendo — Irapuan Costa Junior revela-se, nas letras, um mestre do português impecável. Cada palavra ocupa seu devido lugar, como se fosse parte de uma engenharia textual perfeita.

Livro do filósofo inglês Herbert Spencer traduzido por Irapuan Costa Junior | Foto: Jornal Opção

Em “Jogo da Memória”, por exemplo, ele nos conduz aos tempos em que era estudante de Engenharia no Rio de Janeiro, costurando lembranças pessoais com o tecido vivo da história. Como tradutor, enfrentou com êxito a complexa obra de Herbert Spencer, demonstrando erudição e rigor intelectual. “Princípios de Filosofia” é um livro complexo. Para traduzi-lo não basta saber bem as línguas ponto de chegada e de partida. É preciso entender a filosofia do britânico. Traduziu também um opúsculo de Spencer.

Mas há dois (ou mais: é múltiplo como Mário de Andrade) Irapuans dentro de um só.

O técnico, de raciocínio preciso e metódico, que se transforma no político de visão estratégica. Na vida pública, seu olhar de artista se fez presente na construção de instituições fundamentais para o desenvolvimento de Goiás: a criação e institucionalização da Secretaria de Minas e Energia, a Secretaria de Transportes, a consolidação do Departamento de Águas e Esgotos (DAE) e a implantação do único distrito industrial que resistiu incólume à ação do tempo. O Daia é o maior distrito industrial de Goiás e um dos maiores do país — a rigor, é uma cidade. Fica em Anápolis e é um modelo para outros distritos industriais. Sua indústria farmoquímica é uma das maiores, senão a maior, da América Latina.

Irapuan Costa Junior e Salatiel Correia | Foto: Euler de França Belém/Jornal Opção

No setor elétrico, à frente da antiga Celg, Irapuan Costa Júnior construiu a tecnoestrutura da empresa e a transformou em referência nacional. Sob sua liderança, a companhia alcançou o posto de sexta melhor entre mais de quarenta existentes no país na época — feito que marcou o auge da estatal goiana.

Não à toa, foi considerado pelo corpo técnico como o melhor presidente da história da Celg.

A alma de artista aplicada à política fez de Irapuan Costa Junior um governante modernizador, voltado ao bem comum e não a interesses pessoais. Sua trajetória pública é marcada pela integridade e pela generosidade — atributos que, em tempos de tantas desilusões, tornam-se ainda mais valiosos.

Sabe quem recuperou o Teatro Goiânia, dando-lhe nova dinâmica? Irapuan Costa Júnior, que trouxe a notável bailarina Margot Fonteyn para dançar no seu palco.

Sabe quem publicou, em formato de livro, toda a coleção da revista “Informação Goyana”, editada nos primórdios do século 20? Pois sim: Irapuan Costa Junior.

Escrevendo há quase 30 anos no Jornal Opção, sem falhar uma semana, Irapuan Costa Junior é um dos mais lidos e respeitados. É polêmico, de firmeza rara. Posicionado, nunca fica em cima do muro. É um crítico contundente dos malfeitos dos governantes.

Irapuan Costa Junior é um ensaísta brilhante, um observador arguto da cena brasileira e global. E há também o prosador. Ele escreve contos e já participou de concurso literário em Portugal, onde mora por alguns meses do ano, em Aveiro.

Irapuan Costa Junior merece parabéns dos goianos. Sua história é, também, parte do melhor da história de Goiás.

Sua lucidez, que lhe permite entender a realidade com olhos aguçados, é uma dádiva para os leitores do país. Sim, do país: levantamento do Jornal Opção mostra que seus ensaios críticos são lidos na maioria das capitais brasileiras, notadamente em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Salatiel Soares Correia, engenheiro, mestre em Energia pela Unicamp, membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. É colaborador do Jornal Opção.

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Jales Mendonça 1 2025 Rio nova
As nuances entre os processos mudancistas de Goiás, Minas Gerais, Brasil e Alemanha

Jales Guedes Coelho Mendonça

O historiador Jaime Cortesão relata que em 1750, durante o período colonial brasileiro, o governador do Pará comunicou ao Conselho Ultramarino, órgão de assessoramento do rei de Portugal sediado em Lisboa, dificuldades em arregimentar tropas para defender seu Estado, sobretudo a estratégica região de Belém, foz dos rios Amazonas e Tocantins. Dois anos depois, ao analisar o tema, o diplomata Alexandre de Gusmão, integrante mais destacado daquele Conselho, em seu parecer, ponderou que a eventual invasão da bacia amazônica seria um mal menor do que a bacia do Tocantins, já que por este rio dar-se-ia acesso ao centro geográfico do Brasil e às minas dos Goyazes e do Mato Grosso. E sentenciou: “elas não poderiam ser socorridas dos portos do Brasil, senão com uma larguíssima e trabalhosa jornada por terra”. (Cortesão, 1957)

O Conselho Ultramarino acolheu o pedido de reforço da guarnição, mas logo surgiu outro impasse sobre o pagamento dessas tropas em decorrência das dificuldades financeiras enfrentadas pelos cofres paraenses. De novo, Alexandre de Gusmão tinha a resposta na ponta da língua: bastava que o rei permitisse o livre comércio entre o Pará e as minas dos Goyazes e do Mato Grosso, por meio da navegação fluvial do rio Tocantins. Na sequência, vaticinou: “com o afluxo do ouro cresceria o número dos moradores [do Pará], [...] e sobrariam rendimentos para cobrir com largueza a importância da sua folha.” (Cortesão, 1957)

Enviado o processo para a decisão final do rei, Dom José I acata o parecer do Conselho no tocante à defesa do Pará. No entanto, orientado pelo ministro Sebastião de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal, mantém a proibição da navegação fluvial na bacia do Tocantins. 

A despeito do desacolhimento da tese defendida por Alexandre de Gusmão, notadamente por sua conhecida rivalidade com o marquês de Pombal, fica nítido que Gusmão demonstrou profunda visão sobre o valor geopolítico da então recém-criada Capitania de Goiás, desmembrada da de São Paulo, e, ao mesmo tempo, compreensão de sua função unificadora para o território brasileiro. A propósito, naquele momento histórico, muito por obra do próprio Gusmão, as fronteiras da América portuguesa acabavam de ser dilatadas substancialmente a oeste, em razão da assinatura do Tratado de Madrid pelos reinos de Portugal e Espanha, que revogara o Tratado de Tordesilhas, vigente há mais de 250 anos.

Como dito, essa relevante e desconhecida história foi narrada por Jaime Cortesão, em uma série de artigos intitulada “Geopolítica de Goiás e da futura capital”, na qual ele defende magistralmente a singularidade incomparável do nosso país, porquanto dono de uma imensa riqueza em estradas fluviais, similar ao complexo sistema circulatório do corpo humano.

Com efeito, as quatro grandes bacias hidrográficas brasileiras – do Amazonas, Prata, São Francisco e Tocantins –, conectadas em suas cabeceiras, denominadas de varadouros, ou, no dizer dos sertanistas, “junta de rios”, formariam, de certo modo, um único conjunto fluvial, o que possibilitou, por exemplo, em 1613, a bandeira de André Fernandes partir de São Paulo, alcançar a confluência dos rios Araguaia-Tocantins, e regressar, no ano seguinte, a São Paulo.

Vale acrescentar que os povos indígenas, guias das primeiras expedições bandeirantes e monçoeiras, eram herdeiros de conhecimentos acumulados por mais de 600 gerações. De igual modo, dominavam essa interligada malha de cursos d’água e seus varadouros, motivo pelo qual passavam de uma bacia hidrográfica para outra, arrastando suas canoas por escassos quilômetros. Inúmeros exemplos poderiam ser mobilizados a fim de reforçar tal evidência. Um, contudo, ilustra suficientemente. No final do século XVIII, o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira explorava determinado rio. Ao indagar a um ameríndio sobre os seus afluentes, a resposta veio com a seguinte demonstração: o indígena pega uma corda de piaçá e, com ela, representa o leito principal do rio, inclusive com as suas curvas. Ato contínuo, de um e de outro lado da corda, estica fiapos para indicar os afluentes, respeitando igualmente as curvaturas e as distâncias entre eles. (Silva, 2018)  

De acordo com Jaime Cortesão (1957), “capitania alguma do Brasil, como a de Goiás, teve uma formação mais estritamente fluvial e de varadouros.” Para ele, a bacia do Tocantins-Araguaia significava a dupla coluna vertebral do Brasil. E Goiás, por sua vez, o Estado destes dois rios e de seus varadouros marginais, cumprindo assim uma função estratégica e unificadora. Tão unificadora que em uma de suas seis zonas de varadouros encontra-se o triplo “divortium aquarium” (divisor de águas) entre as bacias do Prata, São Francisco e Tocantins, vertendo águas para sentidos diferentes e representando o centro geográfico do país.

Tal ocorrência, extremamente simbólica, influiu para que a Comissão Cruls, no início da República, fixasse os vértices do quadrilátero da futura capital federal no Planalto Central de Goiás, secundando aliás a sugestão anteriormente enunciada por Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro.

Ao contrário dos Estados Unidos com o Mississipi, a verdade é que a navegação fluvial no Brasil nunca atingiu o patamar que as nossas potencialidades permitiriam, com razoáveis investimentos.

Se o parecer de Alexandre de Gusmão tivesse sido acatado, certamente a realização de uma outra história teria sido possível e, consequentemente, causaria impactos marcantes em outras realidades, como, por exemplo, a da Cidade de Goiás (outrora Vila Boa de Goiás – irmã siamesa de Vila Rica e Vila Bela, ambas também capitais de Minas Gerais e Mato Grosso, respectivamente).

Cortada pelo rio Vermelho, tributário do Araguaia, as condições das cercanias da Cidade de Goiás para o transporte aquaviário e, portanto, de acesso ao Oceano Atlântico, eram tantas que o historiador francês Laurent Vidal a qualifica de “capital atlântica da capitania de Goiás”.

Apesar de alguns momentos de maiores conexões com o Pará, via rio Araguaia, com destaque para a fase de Couto de Magalhães, o sonho de um pujante fluxo comercial com o porto atlântico jamais atingiu níveis capazes de impulsionar o desenvolvimento econômico de Goiás e de sua capital homônima, aliás, desde 2001, ostentando o título de patrimônio cultural da humanidade, conferido pela Unesco.

Esse descompasso do Estado de Goiás entre um horizonte de expectativas alvissareiro e uma realidade de pequena expressividade econômica até a década de 1930 justificou, em grande medida, o discurso utilizado para a execução da intermitente ideia de transferência da capital e da construção de Goiânia, episódio central da história goiana e objeto de estudo no meu doutorado, orientado pelo saudoso professor Noé Freire Sandes e publicado no livro intitulado “A Invenção de Goiânia: o outro lado da mudança” (Mendonça, 2018).

Secundado em robusta pesquisa, conseguimos identificar, tanto a grande influência em Goiás do processo mudancista ocorrido 40 anos antes em Minas Gerais, quanto a discrepância entre a principal tensão dos dois eventos históricos. Explico melhor.

A grande tensão em Minas eclodiu na ocasião da escolha do local da nova capital, a ponto de a sessão do Congresso Legislativo Mineiro que escolheu a região de Belo Horizonte ter ocorrido em Barbacena – e não em Ouro Preto – e ainda pelo apertado placar de 30 a 28 em detrimento de Várzea do Marçal.

Cumpre relembrar que, apesar da perda do título de sede dos poderes estaduais, Ouro Preto à época já possuía os serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, energia elétrica e até mesmo transporte ferroviário, benefício este conseguido pelo indisfarçável bem-querer do imperador Dom Pedro II pela cidade. Além de resguardada pelos mencionados fatores, a urbe dos inconfidentes igualmente teve preservada toda a sua rede de ensino pública, inclusive a acreditada Escola de Minas de Ouro Preto, estabelecimento objeto de interessante análise pelo historiador José Murilo de Carvalho.

Em sentido diametralmente oposto, encontrava-se a Cidade de Goiás em 1930, no tocante aos serviços públicos acima arrolados, presentes em Ouro Preto. A rigor, apenas o fornecimento de energia elétrica existia em Vila Boa. O abastecimento de água e a coleta de esgoto só seriam efetivamente implementados nas décadas seguintes e o sonho do silvo do trem de ferro ecoando nos contrafortes da Serra Dourada nunca passou de uma imagem projetada nos mapas geográficos. Justamente por isso, a grande tensão em Goiás concentrou-se no tema da compensação à sua antiga capital.

Muito embora a Constituição Goiana de 1935 e a legislação ordinária determinassem o amparo e a proteção à Cidade de Goiás, “resguardando-a da decadência”, a verdade é que a transferência se efetivou sem qualquer compensação ou indenização, malgrado as várias promessas. E pior:  toda a estrutura pública de ensino – a única existente no Estado até então –, inclusive o tradicional Lyceu de Goyaz, criado em 1846, e a Faculdade de Direito foram removidos para Goiânia. Ademais, todos os servidores federais e estaduais também restaram transferidos, além dos consulados existentes e ainda a unidade das Forças Armadas, incorporada ao 6º Batalhão de Caçadores, aquartelado em Ipameri. Lecionando sobre o assunto, o mestre Paulo Bertran (2006) sintetizou tudo: em Goiás, a mudança “provocou a ruptura do tecido cultural antigo, urdido na velhice de dois séculos pregressos de história.” Apesar de não a qualificar, a interpretação de Bertran, para mim, tem nome e sobrenome: chama-se genocídio cultural.

De outro lado, o processo mudancista da capital brasileira, executado em 1960 pelo presidente Juscelino Kubitschek, efetivou-se com dinâmica completamente diversa da de Goiás no nevrálgico quesito da compensação, sobretudo por inserir-se em um ciclo democrático. No campo educacional, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), maior instituição federal do país, manteve-se inalterada na cidade maravilhosa e ninguém nunca cogitou deslocá-la para Brasília, onde se construiu, como seria lógico e razoável, outro centro universitário de excelência, qual seja, a Universidade de Brasília (UnB). De igual forma, o tradicional Colégio Pedro II permaneceu no mesmo lugar de sua fundação.

De mais a mais, mesmo após mais de seis décadas da efetivação da transferência, o Rio de Janeiro, ainda hoje, possui mais servidores públicos federais civis do que o Distrito Federal (259 mil no Rio contra 181 mil no DF), além de ser a maior cidade-sede das Forças Armadas da América Latina, sem prejuízo de sediar mais de 1/3 dos órgãos da administração federal, a exemplo da Petrobras, Eletrobras e BNDES, o que, indubitavelmente, configura-se em uma compensação permanente.

Nessa mesma linha de argumentação, por último, o jornal “O Globo”, de 12 de abril de 1960, noticiou que, antes de deixar o Rio de Janeiro, o presidente JK assinara um decreto concedendo ao novo Estado da Guanabara “a soma excepcional de três bilhões de cruzeiros do orçamento da União para enfrentar os primeiros tempos.” (Vidal, 2012)

Maior compensação ainda parece ter havido na reunificação da Alemanha, onde a cidade de Bonn, antiga capital da Alemanha Oriental, recebeu “1,5 bilhão de euros e o direito de continuar a sediar dois quintos de todos os ministérios”. (Lynch, 2021)

Em arremate à exposição intitulada “As nuances entre os processos mudancistas de Goiás, Minas Gerais, Brasil e Alemanha”, é notório que a Cidade de Goiás não obteve a mesma compensação que Ouro Preto, Rio de Janeiro e Bonn, existindo uma necessidade de reparação histórica do Estado de Goiás para com a sua antiga capital. E ela virá, mais dia, menos dia.

Sem embargo, eis as duas conclusões a que chegamos: primeira, no quesito compensação, o procedimento adotado na transferência do Rio de Janeiro para Brasília exprime um modelo que deveria ser sempre adotado, em razão da expressividade dos benefícios e valores carreados à cidade impactada com a perda do título de capital. E segunda: toda conclusão depende muito da comparação realizada.  

Confesso, de coração na boca, que me comove demais essa cerimônia de posse. Ela significa um dos momentos mais importantes da minha existência, que recentemente completou meio século. Integrar o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, primeira entidade cultural do Brasil, é motivo de elevada honra para mim, especialmente por representar o meu Estado de Goiás e, concomitantemente, suceder notáveis conterrâneos como Leopoldo de Bulhões, Colemar Natal e Silva e José Mendonça Teles.

Chego a essa tradicional sociedade acadêmico-científica, da mesma forma com que ingressei em 2013 em sua congênere goiana, o IHGG: na condição de um aluno ávido em aprender e, ao mesmo tempo, com o espírito colaborativo, vibrante e disposto, sempre, a contribuir para o seu engrandecimento.

Agradeço imensamente a Deus; aos meus queridos amigos e amigas, que provaram a sua dedicação comparecendo a esta solenidade no Rio de Janeiro; aos companheiros da cultura e aos confrades e confreiras do IHGG, na pessoa do meu antecessor Geraldo Coelho Vaz, sem prejuízo dos colegas de Ministério Público já mencionados. Agradeço também à minha amada família, sobretudo a minha esposa Iara e os filhos Tales e Melissa, além de meus pais Eduardo e Fátima.  

 Agradeço ainda a todos os sócios do IHGB, especialmente ao presidente Vitorino Chermont e ao presidente de honra Arno Wehling, intelectuais que tanto fizeram e fazem pela entidade. A afinidade dos professores Vitorino e Arno faz lembrar a sintonizada dupla fundadora do IHGB: Januário da Cunha e Cunha Matos. Tão sintonizada que inclusive do mesmo tronco genealógico.

Consta dos anais que a nossa nação, por mais de um século e meio, esteve, em grande medida, entregue ao obscurantismo, como faz prova a ausência de faculdades, imprensa, liberdade de pensamento e até proibição de estrangeiros. Nessa direção, o intelectual Pedro Corrêa do Lago (2014) descreve, em seu impressionante livro “Brasiliana Itaú”, resenhado por mim em parceria com o professor Nilson Jaime, aqui presente, uma aquarela da baía da Guanabara de 1795, de autoria do artista inglês Thomas Sydeham. O que chama a atenção na referida obra de arte é que ela foi pintada da perspectiva da embarcação e não da terra, como geralmente acontece, pelo simples fato de o território brasileiro estar fechado, em regra, aos estrangeiros. Ainda nessa linha de pensamento, importante ressaltar que a Coleção Brasiliana Itaú, exposta na sede da corporação na Av. Paulista, denomina de “Brasil Secreto” o interregno de mais de 150 anos que medeia da expulsão dos holandeses em 1654 à chegada da família real em 1808.

Nessa marcha, 1838 representa um verdadeiro contrafluxo e um ano chave para o impulso cultural de nossa nação, em decorrência da fundação do Arquivo Nacional, com a finalidade de guardar o acervo documental; do funcionamento do Colégio Pedro II, com o objetivo de instruir; e da criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com a função de escrever a História de um país nascente, que precisava ser compreendido pelo seu próprio povo.

Dando concretude a tal meta, o IHGB lançou um concurso, vencido pelo alemão Carl von Martius, com a dissertação intitulada “Como se deve escrever a história do Brasil” (Sandes, 2000). Nela, Martius defendeu que as narrativas históricas deveriam enfatizar o cruzamento racial e cultural entre brancos, negros e indígenas – traço singular de nossa população.

Desde então, o pluridimensional, suprapartidário e quase bicentenário IHGB vem cumprindo sua missão de “Casa da Memória Nacional”, honrando seu lema transgeracional de “ocupação pacífica da ciência”, que expressa, simultaneamente, segundo os ensinamentos do querido professor Arno Wehling (2014), um fundamento humanista e o compromisso ético da ciência.

Ao encerrar, soaria natural aos ouvidos entoar agora as sempre sábias lições de Cora Coralina, a mais festejada escritora de minha terra. Contudo, cometeria um erro indesculpável se desconsiderasse, nesse momento em que se completam os exatos 50 anos da eleição para a Academia Brasileira de Letras do imortal Bernardo Élis – o único goiano, até hoje, a ingressar na Casa de Machado de Assis, registre-se. Em sua autobiografia “A vida são as sobras”, Bernardo consignou a seguinte anotação: “essa ausência de Goiás do panorama cultural nacional mexia com meus brios e me fazia prometer a mim mesmo que resgataria, um dia, o nome da minha terra, fazendo-a integrar-se na comunidade literária nacional.” (Élis, 2000) 

Palmilhando os mesmos caminhos acidentados trilhados por Bernardo Élis, encontrados apenas nos trieiros da nossa Serra dos Pirineus ou da Chapada dos Veadeiros, e sonhando os seus mesmos sonhos, humildemente, peço licença para ingressar no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e, em nome do Estado de Goiás, proclamo, em alto e bom som: ainda estou aqui!

Discurso de posse de Jales Guedes Coelho Mendonça como sócio-correspondente brasileiro do IHGB (dia 15/01/2025).

Jales Guedes Coelho Mendonça é promotor de justiça, doutor em história (UFG), presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG). Sócio-correspondente brasileiro do IHGB, autor do livro "A Invenção de Goiânia — O Outro Lado da Mudança". É colaborador do Jornal Opção.

Bibliografia

BERTRAN, Paulo. Memória consúltil e a goianidade. Revista da UFG, ano VIII, n. 1, jun. 2006, p. 66.

ÉLIS, Bernardo. A vida são as sobras. Goiânia: Kelps, 2000, contracapa.

CORTESÃO, Jaime. Geopolítica de Goiás e da futura capital. O Estado de São Paulo, São Paulo, 10 de fevereiro de 1957, p. 56.

LAGO, Pedro Corrêa do. Brasiliana Itaú: uma grande coleção dedicada ao Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Capivara, 2014, p. 46.

LYNCH, Christian Edward Cyril. O retorno da VELHACAP: o problema nacional fluminense e a proposta de um segundo Distrito Federal no Rio de Janeiro. In: Rio 2º Distrito Federal: diagnóstico da crise estadual e defesa da federalização/organização Cristian Edward Cyrill Lynch, Igor Abdalla Medina de Souza, Luiz Carlos Ramiro Junior. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2021, p. 112.

MENDONÇA, Jales Guedes Coelho. A Invenção de Goiânia: o outro lado da mudança. 2ª ed. Goiânia: Editora UFG, 2018.

MENDONÇA, Jales Guedes Coelho. As nuances entre os processos mudancistas de Goiás, Minas Gerais, Brasil e Alemanha. Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/opcao-cultural/as-nuances-entre-os-processos-mudancistas-de-goias-minas-gerais-brasil-e-alemanha-445807/ Acesso em: 14 de dezembro de 2024.

MENDONÇA, Jales Guedes Coelho; JAIME, Nilson. Coleção Brasiliana Itaú traduz o melhor da história, iconografia e literatura sobre o Brasil. Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/opcao-cultural/colecao-brasiliana-itau-traduz-o-melhor-da-historia-iconografia-e-literatura-sobre-o-brasil-257424/ Acesso em: 14 de dezembro de 2024.

SANDES, Noé Freire. A invenção da nação: entre a monarquia e a república. Goiânia: Editora UFG, 2000, p. 81.

SILVA, Elias Manoel da. Introdução: Ensaio sobre a cartografia dos “Sertões”. In: GOYAZ – Guia de Cartografia Histórica/Elias Manoel da Silva; Wilson Vieira Júnior, organizadores. Brasília: Arquivo Público do Distrito Federal, 2018, p. 26.

VIDAL, Laurent. As lágrimas do Rio: o último dia de uma capital: 20 de abril de 1960. São Paulo: Martins Fontes, 2012, p. 58.

WEHLING, Arno. O IHGB, Ethos e Acervo. In: Brasiliana IHGB/organização Pedro Côrrea do Lago. Rio de Janeiro: Capivara, 2014, p. 13.

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Márcio Corrêa anuncia Fique em Dia (Refis 2025) a partir desta segunda, 18

Atendimento presencial será no Rápido do Anashopping, de segunda a sexta-feira, em horário comercial