Por Do Leitor

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Cartas

“A Revista Playboy, infelizmente, só sobreviveria se fosse reinventada”

EDSON ARAN Sobre “Livro resgata histórias secretas da revista Playboy, como a da filha de Fidel Castro que posou nua” [Jornal Opção, Coluna Imprensa, 2148]: Boa matéria. A melhor que li sobre o livro, na verdade. Relutei mesmo em escrever meu texto porque existe uma confraria do ego inflado entre ex-playboy que não corresponde à verdade dos fatos. É só pegar os exemplares antigos e conferir se a revista era assim tão espetacular depois de Mário de Andrade. Não era. Mas a confraria segue batendo bumbo e contando histórias requentadas, muitas delas falsas. Ninguém diz, por exemplo, que a descoberta da identidade de Carlos Zéfiro foi contestada por Jaguar, que apresentou outro Carlos Zéfiro no Pasquim como prova. Mas é assim mesmo. Imprima-se a lenda. Não na Playboy, infelizmente, que só sobreviveria se fosse reinventada. Edson Aran é ex-editor da Revista Playboy.  
“Paulo Henriques Britto também se perguntaria por que Augusto de Campos não faz referência às traduções brasileiras de Emily Dickinson”
ADALBERTO DE QUEIROZ Sobre “Augusto de Campos lança edição revista e ampliada de traduções da poesia de Emily Dickinson” [Jornal Opção, Coluna Imprensa, 2148]: Excelente, Euler. A pergunta final é também interessantíssima, e creio que um tradutor da altura e qualidade de Paulo Henriques Britto a endossaria. “Por que Augusto de Campos não faz nenhuma referência ao trabalho de outros tradutores brasileiros ou portugueses?”. Sabe você e meus seis leitores que minha tradutora favorita é a dona Aila de Oliveira Gomes, mas aguardo o livro do xará [Adalberto] Müller e tiro o chapéu para este Campos, que já desejo ler. Aqui do Báltico, efusivas saudações. *Adalberto de Queiroz é empresário e editor.  
 “Melhor Portugal ficar quietinho onde está”
*EVERALDO LEITE Sobre “O Prêmio Nobel Joseph Stiglitz sugere que Por­tugal saia do euro para recuperar sua economia” [Jornal Opção, Coluna Imprensa, 2148]: O economista Joseph Stiglitz imagina que, com uma política fiscal mais flexível, o governo português poderia incentivar a economia, melhorando o ambiente num prazo mais curto. Talvez pudesse também realizar acordos bilaterais de comércio internacional a partir de uma moeda mais barata. Além disso, seus salários poderiam se flexibilizar em relação aos salários de outros países europeus. Bem, tudo isso seria possível, mas não antes que todas as empresas fugissem desesperadamente do país. Melhor Portugal ficar quietinho onde está! *Everaldo Leite é economista.  
“Quem sai a noite não tem transporte”
VICTOR HUGO CUNHA Sobre “‘Projeto proíbe aplicativos de informar blitz e não de funcionar’, garante relator” [Jornal Opção Online, 2148]: Quanto ao pessoal da balada que bebe e dirige? Libera logo o Uber, libera também o número de licenças de táxi, obriga o transporte coletivo a funcionar 24 horas e isenta-os de impostos. Daí todo mundo que quer ir à balada, que vá de Uber, de táxi, de coletivo. Quem sai à noite não tem transporte, então acaba indo no próprio carro. Queria o quê? O Estado brasileiro não cumpre basicamente nada de sua obrigação de garantir o direito de ir e vir, mas depois vem querendo punir exemplarmente. Primeiro garanta transporte. E tem mais, tolerância zero absoluto, foi exagero, um país com transporte público de terceiro mundo querendo fazer legislação para motoristas de primeiro mundo. Lá no primeiro mundo, não falta transporte coletivo 24 horas, aí sim cobram dos motoristas particulares, mas só cobram de quem realmente exagera.  
“A região do Marista, que já sofre nos horários de pico, vai travar após a implantação do Nexus”
RENATO CASTRO Sobre a matéria “A pedido da Consciente, Prefeitura de Goiânia arranca árvores saudáveis da calçada do Nexus” [Jornal Opção Online, 2148]: Eu apoio a medida por reconhecer que as árvores realmente atrapalhavam o trânsito na calçada. Entre­tanto não apoio o projeto pelo porte e localização. A calçada já está desse tamanho devido ao viaduto que construíram para tentar melhorar um pouco o trânsito de veículos na região. Imaginem como ficará após a implantação do shopping. A região que já sofre nos horários de pico vai travar. [caption id="attachment_74440" align="alignleft" width="620"]Foto: Marcelo Gouveia/Jornal Opção Foto: Marcelo Gouveia/Jornal Opção[/caption]
“Sustentabilidade é uma palavra que não existe na antiga capital mais arborizada do país”
Sobre a matéria “A pedido da Consciente, Prefeitura de Goiâ­nia arranca árvores saudáveis da calçada do Nexus” [Jornal Opção On­line, 2148]: Fico decepcionada. Várias vezes vi árvores saudáveis sendo retiradas em nome de um “projeto mais sustentável” que as construtoras pregam. Goiânia está perdendo cada vez mais seu espaço verde, em nome de grandes edifícios, que só servem para encher ainda mais lu­ga­res/bairros que já estão saturados e onde seria inimaginável a existência de outro “empreendimento”. E a “fiscalização” na cidade corre frouxa. Sustentabilidade é uma palavra que não existe na antiga capital mais arborizada do país. Email: [email protected]

“A ideologia e parcialidade embaçam a percepção de muitos intelectuais”

Parabéns pelo texto, Euler Fagundes De França Belém. O mais impressionante nesse cenário político é constatar o quanto a ideologia e a parcialidade embaçam a percepção de tantos intelectuais, escritores, artistas, pessoas conhecidas... A viseira é imensa. Muito boa sua análise, principalmente o trânsito respeitoso e lúcido entre o escritor, sua obra, sua miopia, o quadro político todo e seus “personagens”. Abraço grande.

“O fanatismo leva ao nivelamento intelectual”

Lourenço Pinto de Castro Brilhante trabalho, como é de seu feitio, retrata cabalmente a fidelidade, a subordinação da esquerda psicopata - não aos ideais - porém, ao amparo da conduta de seus membros; a verdade, o fanatismo, o autoritarismo, supondo estar acima de todos e da lei, levam ao nivelamento intelectual, daí, a falta de lógica de seus intelectuais.

“Só se pode falar bem de Raduan na imprensa brasileira”

Carlos William Leite Sem dúvida, Euler, um de seus melhores textos. Sobretudo, pela coragem. Basta observar que sobre Raduan, na imprensa brasileira, só se pode falar bem.

“Caluniam a Igreja afirmando que ela impôs regras, que forçou a catequização”

Lucimar Jesus Sobre o artigo “Vaca Amarela, Jesus, Maria e a hipocrisia” [Jornal Opção Online, 2146]: Realmente é possível “certas” pessoas não terem compreendido a razão e o sentimento de indignação dos católicos e dos que respeitam o Direito, visto que vivem tão fechados no “eu”, no grupinho “dos nós”, tão excluídos, tão marginalizados e tão estereotipados, que não percebem que fazem o mesmo com tais atitudes. Caluniam a Igreja afirmando que ela impôs regras, que forçou a catequização, que roubou, etc. O direito de um cidadão não deve de maneira nenhuma ferir o direito do outro. Mas, e se tal ato fosse feito com Iemanjá? Ou com o busto de Anita Garibaldi ou Malala Yousafzai? Será que seria errado nossa indignação? Pois estaríamos, do mesmo jeito, indignados. Seria falta de respeito ao sagrado para um grupo, no primeiro caso; no segundo, desrespeito à história nacional; e no terceiro, façam e verá a confusão diplomática que o país enfrentará. A Igreja Católica não te pede pra viver conforme a Boa Nova, exige apenas para quem fez a opção de ser católico. Assim sendo, porque acha o julgo dela pesado se não faz parte do seu corpo? Se sente esse desejo de fazer o certo, o bem, é por ser uma pessoa boa, e cada um tem um dom, que você não coloque o seu acima do Amor, mas no cotidiano, no servir ao próximo em suas necessidades a exemplo de Maria. Email: [email protected]

“Não dá pra esquecer das ‘Casas do Brasil’, que promovem o estudo da língua e cultura brasileiras em vários países”

Laura Duarte Muito boa a entrevista com o professor Marcos Bagno [Jornal Opção, 2084], de quem sou fã. Só questionaria dois aspectos: um é quanto à divisão entre professores e pesquisadores na universidade. Sou formada em letras na USP [Universidade de São Paulo] e agradeço profundamente ao curso justamente por me oferecer os dois tipos de formação. Acredito que, para formar esse tipo de professor — que possa ensinar a usar e a pensar a língua —, é sim necessária uma formação linguística e literária de profundidade que se confunde com o trabalho do pesquisador. Um professor de língua deve ser um pesquisador da língua. Também estudei na Argentina e acho que, apesar da incrível qualidade, falta espaço para o estudo das línguas estrangeiras de forma científica. Quanto às políticas linguísticas do Brasil no exterior, concordo que ainda falta muito. Mas não dá pra esquecer das “Casas do Brasil”, que existem em vários países e promovem o estudo da língua e cultura brasileiras. E-mail: [email protected]

“As línguas acompanham sempre o progresso ou o retrocesso ideológico e moral dos povos”

Moacir Romeiro Gostaria de ter participado da entrevista com o sr. Marcos Bagno, para mostrar as incongruências da fala dele. Na ânsia de defesa de seu discurso corrompido, ele mente para o leitor. As línguas acompanham sempre o progresso ou o retrocesso ideológico e moral dos povos, já disse um excelente escritor; e o linguista Bagno é um símbolo do retrocesso moral e ideológica da sociedade brasileira. E-mail: [email protected]

“Nosso português tem importância no cenário internacional”

Macgyver Freitas Acho que a importância numérica e econômica do português brasileiro já superou o português de Portugal há muito tempo e concordo que não seria difícil a "independência" de nosso idioma, digo isso pelo que presencio no mercado de softwares. Quando eu era pequeno, os programas costumavam ter como opção apenas o “português”. Com o passar dos anos surgiu a opção “português brasileiro”, e atualmente na maioria dos softwares e jogos que eu utilizo, a opção “português” é cada vez mais rara, tendo apenas a opção “português brasileiro”, o que evidencia a maior importância que o nosso português tem no cenário internacional, sobretudo no nicho de softwares. Imagino que o mesmo se repita em outros segmentos.

Sobre “Eleitor não banca candidato que, não sendo gestor, quer usar Goiânia pra obter experiência” [Jornal Opção, Editorial, 2146]:

“Mau gestor é um mau negócio para o bolso do eleitor”

Gilberto Marinho O eleitorado não pode ser analisado de forma global. Por alto, deve ser dividido em, pelo menos, dois tipos: o primeiro, a maioria, vota por fatores emocionais e, dessa forma, vota sem levar em conta fatores racionais e sem perceber que, no fim das “contas”, ele é que vai pagar o pato. O outro tipo é o leitor esclarecido e bem informado que tem os meios intelectuais para perceber os benefícios e/ou malefícios de uma escolha. É evidente que nesse segundo tipo de eleitor há aqueles que votam ideologicamente. Mas os demais têm condição de perceber que o principal objetivo do mau gestor é aumentar a arrecadação (impostos) para manter privilégios e uma corte de correligionários. E aumentar impostos, direta e indiretamente. Exemplo de aumento indireto: o anúncio de que o boleto do IPTU deixará de ser enviado – e que caberá ao contribuinte imprimi-lo – criará confusão e dificuldades para o contribuinte, resultando no aumento do volume de multas, aumentando, portanto, a arrecadação. Ou seja, o mau gestor é um mau negócio para o bolso do eleitor. Gilberto Marinho é jornalista.

“Será que experiência é realmente importante?”

Antônio Macedo O eleitorado é bem heterogêneo. Um número significativo de eleitores segue o partido político e é fiel a ele, mesmo quando não gosta do candidato. Outro número expressivo é influenciado pela mídia, pelas pesquisas. Temos ainda um bom número não ligado a partidos políticos e que avalia experiência e honestidade. Será que experiência é realmente importante? Iris Rezende e Marconi Perillo, respectivamente eleitos pela primeira vez para prefeito e governador, fizeram uma administração com uma ótima aprovação popular. E existem aqueles políticos com reiteradas passagens pelo poder que não conseguem atender os anseios da população. Antônio Macedo é médico dermatologista.

“Novo prefeito eleito deverá ver economia e gestão acima da política”

João Bosco de Carvalho Freire A economia em si (Global) é apolítica, escolhendo seus caminhos por outros mecanismos independentes de quem está no governo A ou B. Ela manuseia, mas não se submete. Quando Fernando Collor de Mello deixou definitivamente o governo, houve um grande fluxo de investimentos externos que aguardavam a estabilidade política. Houve uma súbita melhora na economia e os investidores bem orientados tiraram proveito antes e após o momento. É possível que isso ocorra novamente quando Michel Temer assumir definitivamente. Enquanto houver mínimo risco, isso não acontece. Quero dizer com isso que é necessário, além de popularidade e ideologia, o traquejo com a economia e um razoável potencial para a gestão. Disso advirá ou não o sucesso do mandato. Uma visão macro e micro da situação e como reagir a ela são indispensáveis ao novo eleito, que deverá ver a economia e a gestão acima da política, uma vez instalado no poder. Temer sinalizou bem aos investidores, logo no primeiro dia, com a medida 727 e a indicação de Henrique Meirelles. Isso é válido também para os governos estaduais e municipais extensivamente, uma vez que a economia é a base para a realização, no campo social, da saúde, educação, segurança e demais áreas. João Bosco de Carvalho Freire é advogado.

“Zé Mulato & Cassiano são ‘maiores’ que Pena Branca & Xavantinho”

Arnaldo Salu Muito boa a lista “As 13 maiores duplas sertanejas de todos os tempos” [Opção Cultural, 2089). Vai repercutir, e causar polêmica também. Muitos não vão concordar o artigo, apesar das ótimas (e engraçadas) justificativas do historiador Ademir Luiz. O resultado da “complexa equação envolvendo valor histórico, influência, permanência, proposta estética e representatividade em seu período de atuação” na ponta do meu lápis faz, por exemplo, com que não concorde com a inclusão de alguns nomes e a exclusão de outros. Nomes como Raul Torres & Florêncio, grandes intérpretes das músicas do lendário João Pacífico, que atuaram por 30 anos, até o ano de 1970, e eternizaram clássicos como “Cabocla Tereza”, “Pingo d’água” e “A moda da mula preta”, e que exerceu grande influência na origem estético-musical das duplas subsequentes, inclusive Tonico & Tinoco, não poderiam estar fora de uma lista de maiores de “todos os tempos”. Em sua equação, um elemento deve ser considerado: a regionalidade. A música batizada pela indústria fonográfica como sertaneja, e de fato a música caipira, antes das facilidades de comunicação tão comuns na atualidade, nos idos dos anos 30, 40 e 50 do século passado, contava somente com o comércio de discos, das apresentações musicais e do rádio ainda pouco difundido nos rincões do País para chegar aos ouvidos do público. Desse modo, muitas duplas tiveram grande repercussão, valor histórico e representatividade regional. Ainda nos tempos mais recentes acredito que esse fator deve ser considerado. Acredito, por exemplo, que Zé Mulato & Cassiano, dupla de Brasília com reconhecimento nacional (ganharam o Prêmio Sharp em 98 e o Prêmio da Música Brasileira em 2015, ambos na categoria música regional e eram considerados por Inezita Barroso como a dupla mais representativa da música caipira na atualidade) são “maiores” que Pena Branca & Xavantinho. De qualquer forma, gostei de observar Ademir Luiz interessado em um tema da cultura caipira para além do trabalho de orientação acadêmica. Gostei de ver também seu pai antenado nos novos talentos da viola, como Mayck & Lyan. Fale para ele procurar também por Lucas Reis & Thácio e também um tal de João Carreiro. Arnaldo Salu é cineasta.

Vaca Amarela, Jesus, Maria e a hipocrisia

Jornalista goiana rebate críticas sobre cartaz do festival goiano Vaca Amarela que traz imagem da Virgem Maria vestida de vaca

Cartas

“Propaganda excessiva sobre o Coringa de Jared Leto em ‘Esquadrão Suicida’ foi o tiro no pé da Warner”

joker Benjamim Santos É inevitável não fazer comparações ao falar de “Esquadrão Sui­cida”. O título da matéria “Marke­ting exagerado é o maior vilão de Es­quadrão Suicida” [Opção Cultu­ral, 2145] não poderia ser mais acertado, visto que a Warner tentou repetir o sucesso de marketing alcançado por sua concorrente, Marvel, em “Dead­pool”. Não conseguiu. O marketing foi bem feito, sobretudo com as milhares de notícias que circularam sobre a “genial” interpretação de Jared Leto como o Coringa, mas o filme deixa muito a desejar. Aliás, essa propagação toda sobre o Coringa foi o tiro no pé da Warner, afinal Leto é melhor cantor que ator. Ok, não deram espaço o suficiente para que ele mostrasse sua “genialidade”, mas isso não é argumento. Talvez não tenham dado porque ele é mau ator. Ganhou um Oscar por seu papel em “Clube de Compras Dallas” unicamente pelo fato de ter emagrecido tanto — a Academia ama esse tipo de atuação: Charlize Theron — que é uma boa atriz — também ganhou a estatueta com a ajuda de uma mudança corporal drástica, visto que engordou 13 quilos para viver a serial killer Aileen Wuornos no filme “Monster – Desejo Assassino” (2003); Christian Bale — que é muito melhor que Leto — também ganhou o Oscar por seu papel em “O Vencedor” (2010), para o qual emagreceu 28 quilos. É possível dizer que Leto foi premiado, por assim dizer, pela persistência: em 2007, engordou 28 quilos para interpretar o assassino de John Lennon no filme “Chapter 27”. Anos antes, emagreceu 11 quilos para fazer o seu papel em “Requiem for a Dream”. Pronto. Foi isso. Nada demais. Não é que ele seja um excelente ator. Além disso, Leto teria que ser mais que genial para superar o Coringa de Heath Ledger em “Batman: o Cavaleiro das Trevas” (2008). É impossível não comparar. Então, voltando ao argumento inicial: o marketing da Warner foi tão bom quanto o de “Deadpool”. A diferença é que Ryan Reynolds conseguiu entregar o que a propaganda vendeu; Leto, muito longe disso. Reynolds está muito bem no filme, que foi bem executado pelo estúdio e olha que estamos falando da Fox, aquela mesma empresa responsável por todos os desastres da franquia “X-Men”. Além disso, por incrível que pareça, Leto não é Reynolds — e isso é algo triste de se dizer, afinal, Reynolds, como ator, é tão bom quanto o seu filme do “Lanterna Verde”. Benjamim Santos é estudante de Letras.  

“Tentaram dar mais profundidade às personagens, mas o tiro saiu pela culatra. Uma pena”

Thiago Burigato* Muito boa a análise. Eu vi o filme no dia em que foi exibido em Goiânia com boas expectativas e até entendi o que os criadores quiseram fazer, tentando dar uma profundidade às personagens, estabelecendo um vínculo maior com o Batman, mas... o tiro acabou saindo pela culatra. Uma pena. Thiago Burigato é jornalista.  

“Ela disse tudo o que eu ia dizer”

Anderson Fonseca* Adorei o artigo da Ana Amélia Ribeiro, no Opção Cultural, sobre o filme “Esquadrão Sui­ci­da”. Eu ia escrever para o mes­mo jornal, mas depois que li, pensei: “Ela disse tudo o que eu ia dizer!”. Anderson Fonseca é escritor.  

“Se Coco Chanel foi nazista, não sei, mas uma coisa é fato: tinha grande talento para a moda”

[caption id="attachment_73111" align="alignleft" width="620"]Coco Chanel considerava Adolf Hitler um “grande europeu” Coco Chanel considerava Adolf Hitler um “grande europeu”[/caption] Greice Guerra* Sobre o artigo: “Coco Chanel foi nazista e antissemita convicta” [Coluna Imprensa, 1884] Não sabia desse lado de Coco Chanel. Já assisti documentários e filmes sobre sua vida, onde observei infância e juventude muito difíceis! Nunca ouvi ou vi nada a respeito deste “outro” lado de Coco. Deve ser uma leitura interessante. Não li o livro, mas talvez a mesma tenha tido essa postura por uma questão de sobrevivência. Claro que não justifica, mas pelos documentários e filmes que já vi a respeito de Coco Chanel, ela sofreu muito preconceito, opressão e até mesmo perseguição devido ao seu estilo “vanguardista” de ver a vida e a moda também. Era uma mulher muito à frente de seu tempo, sendo a criadora da calça comprida para mulheres, sendo uma das primeiras a usá-las. Em Paris, principalmente na Champs-Élysées, existem várias homenagens e inspirações a Coco Chanel. Eu a adoro e a admiro! E gosto e uso seu “estilo”. Se ela foi nazista ou simpatizante, eu não sei e não vou julgá-la, mas uma coisa é fato: ela possuía grande talento para a moda! Independente de qualquer coisa, sou sua fã e seguidora de seu estilo. Adoro o estilo Coco Chanel! *Greice Guerra é economista.

“Goiânia, cidade cosmopolita mas que tem um pé na roça, identifica-se com Iris”

Talmon Pinheiro Lima Leio os editoriais do Jornal Opção com prazer, na certeza de que estou sempre a aprender com seus conhecimentos. São excelentes e seminais. Sobre o editorial “Pedro Ludovico diria a Iris Rezende e Vanderlan Cardoso: ‘Modernizem-se!’” [Jornal Opção, 2144], apenas algumas observações pontuais, fora um pouco do contexto apresentado pelo editor Euler de França Belém: Anápolis detesta Iris (questões paroquiais), tanto que na eleição de 2º turno de 2014, ele sequer apareceu por aqui. Por outro lado, sempre vi Iris como aquele homem “simples”, conforme a imagem descrita pelo consultor [Carlos] Manhanelli, em entrevista recente [publicada na edição 2142 do Jornal Opção]. Iris tem certas características que o distinguem: é autêntico, tem carisma, não tem medo do povo, é prático, e seu linguajar é compreensível por todos. Acredito que Goiânia, cidade cosmopolita mas com um pé na roça, identifica-se com Iris, justamente por tais características. Em nível estadual, o tempo do Iris já passou, mas, para a Pre­feitura, acredito que ele venha a vencer, mesmo com esse comportamento defasado (com o qual concordo) exposto no texto. Quanto a Van­derlan, vejo-o sem muita consistência e/ou discurso político. Troca sempre de partido, demostrando uma falta de firmeza e/ou compromisso ideológico. Além do mais, ele é muito insosso, o que dificulta sua empatia com o eleitor. Ele parece muito com [governador de São Paulo, Geraldo] Alckmin, ou seja, outro “picolé de chuchu”. Certa­mente, é muito competente, observando-se suas gestões na prefeitura de Senador Canedo e sua trajetória de empresário bem-sucedido. Mas, sinceramente, não antevejo chances eleitorais para ele, não.

Talmon Pinheiro Lima é advogado.

“Empreendimentos autorizados continuam bombeando águas e esgotando nascentes”

José Carlos Marqui Sobre a matéria “Boom da construção civil poderá ‘matar’ a cidade em menos tempo do que se imagina” [Jornal Opção, 2144]: O delegado Dr. Luziano está certo, o ideal é ‘subsolo zero’; não há outra saída. Não confio nesses laudos de sondagens, porque o entorno dos parques está cheio de garagens subterrâneas: de prédios antigos, de obras de hoje, de obras de amanhã, de projetos aprovados para o futuro, sendo que todos os empreendimentos autorizados pelos laudos técnicos continuam bombeando águas da drenagem e esgotando as nascentes em volta. Além de tudo, por que não aplicar o princípio consagrado no Di­reito Ambiental da precaução e da pre­venção? Essa engrenagem do bombeamento da recirculação das águas subterrâneas das garagens nunca me convenceu; chamo isso de o verdadeiro desperdício de energia, equipamentos, mão de obra e manutenção, pois o líquido vive dentro de um círculo vicioso que volta sempre para onde saiu; isso se as águas forem bombeadas à montante, coisa que nunca acontece. A cultura da facilidade é sempre esgotar a riqueza hídrica à jusante (para baixo).
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“Não existe nada de nobre ou elevado na política. Há tão somente disputa pelo poder”

Arnaldo B. S. Neto Assim como sou um leitor pluralista, também gosto de conversar com pessoas de várias opiniões. Não me desagrada que pensem diferente de mim, desde que a conversa seja interessante, estimulante. Mas confesso que tenho tido dificuldade de conversar com pessoas muito comprometidas com projetos políticos. Não me refiro a pessoas que possuem opiniões políticas, pois isto todos temos, em maior ou menor medida, mas sim com quem está engajado num projeto de poder. A conversa, neste caso, passa a ter limites sempre muito definidos. Antes de tudo porque a pessoa está sempre defendendo posições que não podem ser mudadas senão institucionalmente, pelo seu grupo político. Mesmo que a pessoa não concorde, são as opiniões do grupo que ela deve defender. Esta postura, que me parece necessária na política prática, é compreensível. Quem está dentro de um projeto de poder pensa tão somente em aumentar o capital político do grupo. Ocorre que, na minha perspectiva pessoal, esta é uma experiência muito empobrecedora do ponto de vista intelectual. As pessoas verdadeiramente interessantes que conheci são sempre surpreendentes nas suas opiniões. Conversam abertamente, sem preconceitos. Riem e fazem troça de teorias e posições políticas. Não há conversação minimamente interessante sem um pingo de iconoclastia e irreverência. No caso das pessoas muito engajadas, tanto de direita quanto de esquerda, depois de um tempo e já sabemos o que a pessoa vai dizer. Em alguns casos parece até que não estamos conversando com um indivíduo, mas sim com um órgão partidário. Talvez por isso muitos intelectuais importantes recusaram engajamentos políticos partidários. Há exceções, claro. Um amigo dileto, muito engajado, sempre respeita a especificidade da nossa conversação, e simplesmente se despe de sua persona partidária. O resultado é que tenho sempre a impressão de que me diz coisas em privado que certamente não diria em público. Eu entendo a dimensão da política, que é um mal necessário. Também entendo que as pessoas precisam defender as causas que irão atrair ganhos políticos para o seu grupo. E que busquem justificar hoje o que era injustificável ontem. Trata-se de uma disputa, de um combate, de uma competição. Não existe nada de nobre ou elevado na política. Há tão somente disputa pelo poder. A busca pelo poder é a moral secreta do político, mesmo que ele não veja este ponto cego. Tanto que as pessoas, via de regra, se tornam piores e não melhores, após se envolverem com a política. Repito: a política é necessária, dada a imperfeição insolúvel das sociedades humanas, mas para alguém com mais consciência do que se trata, é sempre um sacrifício, uma perda que se consente. Eu acho sinceramente que somente alguém com muito preparo humano e experiência de vida pode se envolver com política prática e não se perder como pessoa.
Arnaldo B. S. Neto é professor

“‘Parada Hétero’ é um sinal de que estamos involuindo”

Paulo R. Cane Comentário sobre a matéria “Página no Facebook vira piada após criar campanha incentivando heterossexualidade” [Jornal Opção Online, 2142]: Pelo que eu entendi, o movimento “Parada Hétero Brasil” é basicamente um palanque político. Mas é óbvio que sim, afinal, uma parada hétero luta por qual ideal? Quantos héteros são assassinados diariamente somente por serem héteros? Quais são as proibições que lhes impuseram e não estão previstas em lei? Quem os ridiculariza em público ou lhe incita discurso de ódio? Os posts desta página são basicamente formados por: Apoio a Bolsonaro, Ustra e militares em geral. Criticam as ações progressistas e seus argumentos são rasos, sem base numa teoria sólida ou comprobatória. São frases que só podem ter sido escritas por crianças mal instruídas na faixa dos 12 anos de idade, tais como: “ser hétero é legal, divertido e popular”. (Se não foi, dá-se a impressão). É uma pena que o(a) criador (a) desta piada marqueteira realmente acredite em tudo o que publica. É um sinal de que estamos involuindo. Não por que estão contra o que eu acredito, mas porque estão lutando contra o avanço da própria sociedade na qual vivem. Estão exaltando pessoas de caráter duvidoso, alimentando discursos de ódio, espalhando mensagens de que orientação sexual é uma mera decisão e, por fim, ridicularizando todo um grupo de pessoas que fazem de suas vidas uma luta diária, que são as verdadeiras merecedoras de uma parada e que, como todo mundo, só está lutando pelo direito de ser sem prejudicar a vida de ninguém. Parada Hétero é uma piada, formada por pessoas que provavelmente desconhecem o significado de tolerância, analfabetos funcionais seguidores de figuras duvidosas como Bolsonaro, que para serem levados a sério vão precisar de muito mais que uma página e uma parada.
Email: [email protected]

“A honestidade da escrita de Sue Klebold faz parecer que estamos presentes nos fatos”

Luís Carlos Freire Sobre o artigo “Mãe de assassino faz relato pungente e sem concessões sobre a tragédia de Co­lumbine” [Jornal Opção, 2139]: Li o livro. Há momentos muito tristes. Às vezes parece que estamos presentes nos fatos, haja vista a honestidade da escrita de Sue Klebold. Eles não tiveram culpa de nada. Foram bons pais, mas a mente humana é indescritível. Dylan parecia um suicida em potencial. Ele não gostava de viver. É muito complexo. Mas é importante que pais, professores e pessoas que trabalham com as coisas da mente leiam o livro.

“Julian Assange, do WikiLeaks, desmascarou a santa Hillary Clinton”

Adalberto de Queiroz A santa Hillary é desmascarada pelo bom-moço Julian Assange, fundador do WikiLeaks. No segundo mandato de Barack Obama [presidente dos Estados Unidos (EUA)], a secretária de Estado Hillary Clinton autorizou o carregamento de armas fabricadas nos EUA e Qatar, um país em dívida com a Irmandade Muçulmana, e amigável para os rebeldes da Líbia, em um esforço para derrubar o governo Gaddafi da Líbia e, em seguida, enviar essas armas para a Síria, a fim de financiar a Al Qaeda, e derrubar Assad na Síria. Clinton assumiu o papel principal na organização dos chamados “Amigos da Síria” (aka Al Qaeda / ISIS) para apoiar a insurgência liderada pela CIA para mudança de regime na Síria. Sob juramento, Hillary Clinton negou que ela sabia sobre os carregamentos de armas durante testemunho público no início de 2013, após o ataque terrorista Benghazi. Em entrevista ao Democracy Now, Julian Assange está agora afirmando que 1.700 e-mails contidos no cache de Clinton conectam diretamente Hillary à Líbia à Síria, e diretamente a Al Qaeda e ISIS. Aqui está a revelação de Assange, transcrita: “Juan González: Julian, eu quero mencionar outra coisa. Em março, você lançou um arquivo pesquisável de mais de 30.000 e-mails e anexos de e-mail enviados para e do servidor de e-mail privado de Hillary Clinton, enquanto ela era secretária de Estado. As 50,547 páginas de documentos abrangem o tempo a partir de junho de 2010 a agosto de 2014; 7.500 dos documentos foram enviados por Hillary Clinton. Os e-mails foram disponibilizados na forma de milhares de PDFs pelo Departamento de Estado dos EUA como o resultado de um ‘Freedom of Information Act’. Por que você fez isso, e qual é a importância, a partir de sua perspectiva, de ser capaz de criar uma base pesquisável? “Julian Assange: Bem, WikiLeaks tornou-se a biblioteca rebelde de Alexandria. É a coleção mais significativa e única de informações que não existe em outros lugares, em uma forma pesquisável e acessível, citável, sobre como as instituições modernas realmente se comportam. E é para libertar as pessoas da prisão, pois os documentos foram utilizados em seus processos judiciais. Também é para alimentar ciclos eleitorais, que resultaram no desligamento e contribuiu para a rescisão dos governos. Então, você sabe, as nossas civilizações só podem ser tão boas quanto o nosso conhecimento sobre o que elas são. Não podemos esperar para reformar aquilo que nós não entendemos. “Os e-mails de Hillary Clinton se conectam em conjunto com os casos que temos publicados dela, criando um retrato rico de como o Depar­tamento de Estado dos EUA opera. Assim, por exemplo, a intervenção absolutamente desastrosa na Líbia e a destruição do governo Gaddafi, que levou à ocupação pelo ISIS de grandes segmentos desse país, armas indo para a Síria, sendo empurradas por Hillary Clinton para jihadistas dentro da Síria, incluindo ISIS, tudo está lá nesses e-mails. Há mais de 1.700 e-mails da coleção de Hillary Clinton, que temos lançado, apenas sobre a Líbia”. [Comentário sobre o artigo “O jornalista que vendeu a alma ao diabo e Donald Trump à América”, Coluna Imprensa, 2143].

Adalberto de Queiroz é empresário e escritor
 

“O paciente deve ter sua saúde e integridade resguardadas por um atendimento global e multidisciplinar adequado”

Bruno Machado Trabalho com saúde pública e privada há quase 12 anos, em sintonia com equipes de profissionais médicos e não-médicos, e concordo que os assuntos abordados pela reportagem “Possível revisão da Lei do Ato Médico retoma velhas polêmicas em relação à saúde no Brasil” [Jornal Opção, 2142] merecem total atenção. O paciente, por sua vez, deve ter sua saúde e integridade resguardadas por um atendimento global e multidisciplinar adequado. Ainda assim, o inesperado pode acontecer, seja nas mãos de médicos ou não-médicos. O que tem ocorrido, por exemplo, na realidade de consultórios dermatológico e de cirurgia plástica, é a chegada de complicações não solucionadas por aqueles que se responsabilizaram por sua execução, mas covardemente visam apenas o “bônus” (sem o possível “ônus”). O ônus, por vezes, é representado por uma complicação que requer diagnóstico e intervenção técnica super especializada, desde a identificação de quais estruturas anatômicas foram danificadas, saber se há a necessidade de antibióticos endovenosos e, em alguns casos, até mesmo enxerto de pele. Ora, a quem caberá essa responsabilidade de tentar remediar o problema? Respondo: ao médico. Então, a lei merece ser revista e se adequar às possíveis situações em que a saúde do cidadão for colocada em risco. O governo não pode tirar de si essa responsabilidade e jogar nas costas de toda uma classe médica que, nos últimos anos, tem servido de “bode expiatório” das ações governamentais mal empregadas ou mal geridas. Chega!
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“Estamos muito longe de Portugal de seu português europeu”

Mari Sobre a entrevista “O português brasileiro precisa ser reconhecido como uma nova língua. E isso é uma decisão política” [Jornal Opção, 2084]: Finalmente alguém se pronunciou sobre esse assunto! Sou professora de português e fico irritada ao esbarrar em provas que testam alunos em conjugações verbais como vós falais, vós quereis, e assim por diante. Quem conversa dessa maneira? Ensino português para estrangeiros e deixo bem claro que na nossa língua, o português brasileiro, isso não se usa! Ensino que a segunda pessoa do singular é “você” e não tu. E que o plural é “vocês” e não vós, e que nossa conjugação verbal tornou-se mais simples. Escrevemos “estou”, mas falamos e cantamos “tô”. A língua é viva, e transforma-se de acordo com a cultura e com a região. Estamos muito longe de Portugal, da sua política e costumes, para continuar falando o Português que trouxeram para o Brasil há séculos atrás, e que, por sinal, nem usam o gerúndio “falando”. Afora isso, a pronúncia é como um outro dialeto. Como intérprete, frequentemente recebo ligações da Europa para traduzir para o inglês, e, muitas vezes, tanto eu quanto a outra pessoa, as quais supostamente estariam falando o mesmo idioma, não nos entendemos e até sentimos a necessidade de interromper a conversa e pedir a ajuda de um intérprete que fale português europeu.  

“Elemento português é, de longe, o principal na formação cultural brasileira”

Fabio Tomaz “Nós, brasileiros, não temos a mínima obrigação de falar o português PT, uma vez que os portugueses invadiram essas terras, roubaram ouro daqui, estupraram índias além de movimentar o tráfico negreiro. É claro que Portugal é um elemento importantíssimo para a nossa identidade nacional, mas não é o único, tampouco o principal.” Não há relação de causa e efeito entre aprender a gramática da língua portuguesa (sem PT ou BR, apenas língua portuguesa) e os pormenores da colonização lusitana (inclusive os míticos que muitos acredita, ignorando, por exemplo, que o tráfico negreiro não seria possível sem a atuação maciça de... outros negros, lá na África). E o elemento português é, de longe, sim, o principal na formação cultural brasileira. A influência ibérica é de longe hegemônica no campo linguístico, no campo cultural, no campo religioso, no campo da forma de pensamento. Os elementos indígenas, africanos e de outros povos europeus são apenas superstratos sobre uma base totalmente ibérica, com exceção de povoados e comunidades que se encerram na cultura de seus antecessores, como certas comunidades ítalo-alemãs do sul, aldeias indígenas, etc.  

“Valorizamos tanto a língua do colonizador quanto a nossa”

Daniela Fontes Moura Acho que o que mais difere o português do Brasil do português de Portugal é o fato de termos a influência do tupi-guarani e dos vários dialetos trazidos pelos negros da África. Só isso já é um bom motivo para criar essa alteração de nomenclatura. Assim como acontece no espanhol, a língua falada na América não é exatamente a mesma da Europa. Isso não quer dizer que neguemos nossa origem, muito pelo contrário: estamos valorizando não só a língua do colonizador, mas também a do colonizado, a língua original da terra, e todas as que chegaram depois e tiveram igual importância na nossa formação cultural.  

“Nós homens, sejamos gays, bi ou héteros, nunca saberemos o que é sofrer da cultura machista”

Chris Monteiro Sobre o artigo “Sim, precisamos falar sobre o feminismo” [Jornal Opção, 2135]: A cultura machista prejudica a nós, homens? Sim, cobra de nós muita coisa injusta. Mas N-U-N-C-A chegará aos pés do que as mulheres sofrem. E digo isso como homem cis, mas gay. O problema é que nós, homens, independente de gay, bi ou hétero, nunca saberemos o que é sofrer da cultura machista da forma como as mulheres sofrem. Portanto, nunca vamos saber quando nossa opi­nião/nossa fala estará fortificando o movimento ou quando estaremos assumindo um lugar de fala que não é nosso (mesmo sem querer). Por isso eu entendo, depois de muito tempo também refletindo sobre o meu papel no movimento feminista, o porquê de muitas mulheres resistirem à presença de homens em certos momentos. E aprendi isso por meio dxs amigxs que tenho, feministas e aliados, cis e trans. O fato das feministas dizerem que todos os homens são "estupradores em potencial" reflete esse dia-a-dia machista do qual nós, homens, nunca saberemos como é. Reflete que nem sempre nas ações, mas nos ideais os homens estupram mulheres, despem mulheres de sua existência como pessoas, as objetificam, as reduzem. Isso é violência. Essa reação das mulheres é reação, não é opressão. Portanto, muito cuidado ao comparar em nível de igualdade homens falarem que feminismo é “mimimi” e mulheres falarem que todo homem é uma ameaça em potencial. São patamares completamente diferentes, contextos completamente diferentes, relações de poder completamente diferentes.
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“A sensação de que o vinho brasileiro é ruim está mudando”

Douglas B.C. Esta sensação de que o vinho brasileiro é ruim da qual fala o artigo “O Brasil tem excelentes vinhos; o que falta é divulgação de qualidade” [Jornal Opção, 2135], vem de um paradigma infindável, que parece não ter fim. Mas isto está mudando, de forma lenta e passível. Muito se deve, além da falta de publicidade de produtores e adegas, também ao sommelier e aos enófilos responsáveis por indicarem e orientarem aos consumidores rótulos de bons vinhos. O fato de os rótulos nacionais serem vistos como ruins advém muito de vinhos muito populares e da falta de orientação para maturar o paladar dos futuros enófilos, estes que pré-julgam um vinho seco como muito amargo e “horrível”. Como um discurso que ouvi outro dia, começou a simplificar o modo de entendimento da maturação de paladar pessoal: “Pode ser grosso o modo como vou exemplificar ao senhor, mas é simples a compreensão desta comparação, o vinho é como um café dado a uma criança, se você oferecer um café amargo, forte e encorpado a ela, pode ser que nunca mais mude sua concepção de que existem bons cafés. Comece com algo mais fácil, simples e suave, sem agredir o paladar dela. Assim sendo como a indicação do vinho. Nós apreciadores, assim como literários, somos responsáveis por fazer mudar a cultura de nossos grupos sociais; façamos isto com amor”. O comentário extenso foi no intuito de, apenas, apresentar meu ponto de vista. A coluna ficou ótima. Meus parabéns Francisco Araújo, e parabéns ao Jornal Opção, pelo belíssimo trabalho.
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“Voltaire elevou a ironia a um estado de arte poucas vezes superado”

Arnaldo B. S. Neto Se tivesse de fazer a lista dos dez livros que mais me causaram impressão e condicionaram minha maneira de pensar, seria uma injustiça não colocar “Cândido, ou o Otimismo” entre os primeiros. Diria que Voltaire foi o meu primeiro professor de realismo, apesar dessa palavra não ser comumente associada ao famoso escritor francês, que elevou a ironia a um estado de arte poucas vezes superado. Sua mordacidade e cinismo fizeram escola: há muito de Voltaire em mestres como Millôr Fernandes [desenhista, humorista, escritor, jornalista e tradutor brasileiro] e H. L. Mencken [jornalista norte-americano], só para mencionar dois autores indispensáveis para uma educação humorística. Este pequeno tratado contra a ingenuidade, escrito como uma diatribe sofisticada contra Leibniz, coloca Voltaire como um grande mestre do realismo. Todo jovem deveria ler.
Arnaldo B. S. Neto é professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutor em Direito Público pela Universidade Vale dos Sinos (Unisinos-RS).

Cartas

“A aterrissagem final da pipa mágica”

JOÃO PAULO LOPES TITO Quando a gente é pequeno, uma das coisas mais legais de um adulto é saber fazer tudo. Nada é impossível, e pequenos milagres acontecem toda hora. Era assim com o tio Tonim ensinando a fazer estilingue, meu vô Bernardino construindo carrinho de rolamento (e outras mil coisas em madeira) e o tio Jomar colocando linha, chumbada e anzol na vara de pescar. E era simplesmente genial como meu pai sabia fazer pipas. Uma manhã de domingo qualquer ganhava outro tom quando, na época de vento, ele aparecia com pedaços de bambu (projeto tradicional) ou de buriti (tecnologia de ponta, mais leve), facão, cola, linha e saíamos para a papelaria, para providenciar as folhas de papel de seda. A molecada jogando bola na rua e a gente sentado ali do lado, assistindo aquela operação delicada de aparar as varetas, juntá-las com linha de costura, recortar o papel de seda no formato da armação. Era preciso balanceá-las antes e depois de tudo colado. E ter muita paciência. E por fim, a parte mais divertida pra gen­te (e a em que efetivamente botávamos a mão na massa): fazer a rabiola. Às vezes até minha mãe participava. Ela enrolava sacolas plásticas de forma tão engenhosa que era só passar a tesoura para sair as argolas do outro lado. Depois de tudo pronto e seco, levantar voo. A pipa (nunca me acostumei a chamar de “raia” – que era coisa de quem usava cerol na linha) mais antiga da qual me lembro foi uma que ele fez para meu irmão. Com as iniciais “CV”, de azul, coladas na estrutura de papel branco. E essa pipa voou como eu nunca tinha visto nada voar. Esgotou toda a linha do carretel, virou só aquele pontinho azul claro lá em cima, em meio ao céu do final do dia. Mas a mágica não tinha acabado. “Quem quer mandar telegrama?”, minha mãe perguntou. Que diabos era aquilo? Como assim? Ela recortou pedacinhos quadrados de papel, fez pequenos cortes no meio e encaixou na linha esticada da pipa. E voilà: o papel começou a subir sozinho, caramba! E foi subindo, subindo, até quase sumir. Fomos colocando um por um, diversos, todos subindo obedientes pela linha. Acontece que, antes de o dia acabar, o vento deu uma “minguada”. A pipa reduziu ligeiramente sua altura, e uma árvore maliciosa surgiu no caminho. Aquela árvore amarelada e de galhos nus, quase sem folhas (“canela de velho”, dizia meu avô), parecendo se esticar para alcançar a pipa. E ali ela fez sua aterrissagem final. Um artefato tão engenhoso, preso para sempre num galho invejoso de uma árvore alta. Chorei demais aquele dia. Mas logo outras pipas vieram e não me deixaram esquecer que, mais importante do que o papel de seda enganchado na árvore lá em cima, era ter o mágico sempre presente aqui embaixo. João Paulo Lopes Tito é assessor jurídico no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO).  

“Não vejo ninguém do Executivo falar em reflorestamento em massa”

ALEXANDRE CAMPOS Houve um estudo na Flo­resta Amazônica que foi denominado “Sobre o Amazonas Vo­ador”. As águas em forma de nuvens que evaporam da mata são levadas pelos ventos em direção às regiões centrais do Brasil, até chegar ao Estado do Rio de Janeiro, em direção ao Oceano Atlântico — basta observar a “moça do tempo” nos programas jornalísticos. Essas nuvens irrigam toda a região central do Brasil e também a Região Sudeste. Com o desmatamento desenfreado da Amazônia, isso iria provocar grandes secas em todo o Brasil e, até 2150, uma desertificação na maior parte do território nacional. A seca está acontecendo. Até mesmo no Amazonas. Em São Paulo, todos já sabem o que vai acontecer; Aqui no Estado do Rio, onde moro, na região norte fluminense, já está ocorrendo o processo de desertificação em alguns locais. O maior rio do Estado, o Paraíba do Sul, está 1,5 metro em média abaixo de seu nível normal. Na região serrana, o quadro está se agravando com as plantações de eucalipto: onde se plantam esses, secam-se as águas ao redor. Estaremos, aqui na região serrana, passando por maus momentos em breve, pois nossa água é daqui mesmo, não teremos como importar essa. Infelizmente todas as “previsões alarmistas” do passado estão se concretizando e não vejo ninguém do Executivo falar em reflorestamento em massa. Assim, a continuar, o Brasil se tornará um grande deserto em 150 anos. E-mail: [email protected]  

“É urgente uma atividade agrícola sem agrotóxicos”

ARGEMIRO DE OLIVEIRA Na lista dos países verdes, o Brasil ocupa apenas o 77º lugar. É urgente a adoção de políticas públicas que permitam uma atividade agrícola sem a utilização de agrotóxicos que exterminam os insetos e contaminam os seres humanos. Há de se pensar em uma agricultura mais familiar e orgânica. A atividade pecuária já não tem futuro. Gastam-se milhões de litros de água para sustentar o consumo de carne, que, além disso, causa insustentabilidade social e ecológica: secas, crises hídricas, desertificação etc. E-mail: [email protected]  

“É preciso investir em ciclovias para a periferia”

GERLIÉZER PAULO As ciclovias de lazer estão crescendo na capital, mas acredito que é preciso investir nos trajetos que liguem a periferia aos principais centros comercial da cidade. Outro ponto: é preciso ter infraestrutura para o ciclista, que, por exemplo, quer ir de bicicleta para o trabalho. Gerliézer Paulo é jornalista.  

“Coluna Imprensa faz boa análise sobre quem sai de ‘O Popular’”

ADALBERTO DE QUEIROZ
Boa reportagem sobre o tema na coluna “Imprensa”. Meu destaque: “Diz um velho ditado que corre entre os que deixaram o maior diário de Goiás que, depois de sair do ‘Pop’, a vida (e a qualidade de vida) só pode melhorar. Talvez não exatamente por ter deixado o jornal, mas por ter levado consigo uma boa bagagem depois de se doar a uma grande estrutura. Longe de lá, Cileide se mostra mais leve para fazer o que mais gosta: jornalismo com pesquisa e análise.” Similares situações parecem acontecer com Karla Jaime e Rosângela Chaves, além do professor-repórter Rogério Borges, com a revista digital “Ermira”. [“Em fase pós-Pop, Cileide Alves se revigora e acerta em temas nas redes”, Jornal Opção 2141] Adalberto de Queiroz é escritor, jornalista e empresário. E-mail: [email protected]  

“Não podemos mais aceitar nenhuma forma de discriminação”

ELOISO MATOS A maldade, a inveja, os preconceitos, o racismo, a soberba, a arrogância, a injúria racial, a indiferença, o desprezo e tantos outros sentimentos ruins estão presentes na vida das pessoas. No entanto, praticá-los dependerá do caráter, da formação e da educação de cada um de nós. Não existe um racismo e um preconceito institucionalizado que refletem a lei da vadiagem que um dia existiu no Brasil? No entanto, se formos observar com honestidade, sem hipocrisia e máscaras perceberemos que nossa sociedade tem dados estatísticos que comprovam com nitidez como alguns adoecidos nas emoções tratam os afrodescendentes no Brasil, porque se veem no direito de humilhar quem eles considerem inferior. Na vida sempre teremos pessoas diferentes de nós com características físicas e outras tantas. Mas quando um ser humano tenta se esconder atrás de uma multidão — ou de um cargo, de uma posição — a fim de oprimir, diminuir os outros e praticar o racismo, demonstra realmente qual é seu caráter, pois isso é o meio que os mais frágeis utilizam a fim de esconder sua monstruosidade e mau-caratismo. Afinal, “caráter é aquilo que você é quando ninguém está te olhando, ou pelo menos acreditamos que não estamos sendo observados”, já dizia Epicuro. Não são poucos os que constantemente se valem de posições, status, cor da pele, “inteligência” e conhecimento a fim de privilegiar alguns e diminuírem outros. Mas isso é apenas uma “brincadeira”. Mas, por causa desse lamentável fato, muitos deram entrevista. Por isso vamos analisar parte do que o técnico Vanderlei Luxemburgo disse, certa vez: “Isso é algo comum, pois o Pelé e outros tantos sofreram preconceitos, racismos, mas venceram.” A declaração é uma sandice, porque devemos banir da sociedade qualquer forma de discriminação, preconceito, palavras de baixo calão, que desprezam as pessoas. Mesmo porque o técnico disse que “o Pelé sofreu”, mas o que causa sofrimento não é bom para ninguém. Não podemos discriminar por gênero. Mas isso ocorre no Brasil. Será que o treinador defendia isso ou aceitava como natural? Pois é “normal” considerar a mulher inferior. Basta observarmos a diferença salarial que existe entre os gêneros masculino e feminino. Não podemos aceitar o preconceito e o ódio contra os pobres, os deficientes físicos, mas isso em muitos casos ocorre. Será que por existir devemos aceitar? Não podemos aceitar o preconceito e as discriminações que ocorrem contra as pessoas “velhas”. São comuns no Brasil essas práticas — vejamos como são os asilos e como muitos tratam os idosos no dia a dia. Talvez devêssemos entender que gentileza, cordialidade, amabilidade são as formas de linguagem correta que devem prevalecer entre as pessoas civilizadas. Esse argumento frágil — de que alguém pode ser humilhado ou desprezado por orientação sexual, gênero, religião, cor da pele, condição socioeconômica, aspecto físico ou cognitivo — não pode existir em nenhuma esfera de nossa Nação, mesmo com o argumento de que é apenas uma “brincadeira” ou quem está ouvindo não deve se importar. Nossas instituições públicas, religiosas, políticas, econômicas precisam ser repensadas e não aceitar essas práticas, mas combatê-las. Esse argumento de que podemos utilizar de sentimentos e praticas vis para destruir e humilhar os outros não pode existir, apenas com a falácia que vamos vencer o adversário em um jogo ou na vida intimidando-o não pode prevalecer. Talvez o grande conselho que devêssemos dar a qualquer ser humano que se sentir humilhado, desprezado e vítima de preconceito seria o de não acreditar no que está sendo falado e também recorrer à Justiça, a fim de processar os que ainda estão adoecidos, os que se consideram como a madrasta malvada que olha no espelho e diz “espelho, espelho meu, existe alguém mais bonito do que eu?”, ao descobrir que existe ela abriu seu saco de maldade e tenta destruir a Branca de Neve e envenená-la. Quem estamos tentando envenenar? Quem acreditamos que podemos maltratar? Contra quem praticamos nossos preconceitos e racismos? Muitos estão com este conceito deturpado de se considerarem superiores apenas por ter dinheiro, poder, inteligência, profissão, cor da pele, religião, cargo público de destaque e assim, pensam, serem “melhores”. Será que isto é saudável para uma nação? Sejamos sinceros e indaguemos: alguém se sente bem com atitudes que não são respeitosas? Muitos acreditam que são mais “belos” os homens musculosos, as mulheres saradas, os que ganharam títulos nacionais, internacionais, ou foram eleitos etc. Estes se dão o direito de humilhar e praticar preconceito. Isso é semelhante ao que fez Bruno Fernandes, ex-goleiro do Flamengo que, juntamente com outros, deu cabo à vida de uma “garota de programa”, pois não a consideravam digna de ser feliz e ter uma vida respeitosa. Quais são os preconceitos que carregamos dentro de nós a fim de nos fazer sentir superiores? Vejamos nos meios de comunicação se todos podem ocupar este espaço. Vamos observar francamente se todos têm oportunidades semelhantes no Brasil? Por que alguns adoecidos têm tanto ódio dos que não são tão semelhantes a eles? Isso é preconceito, arrogância e ódio. Talvez devêssemos observar o que Martin Luther King disse: “A lei pode não dar o coração a ninguém, mas podem coibir as ações dos que não tem.” Infelizmente, ainda precisaremos de leis duras para alcançar os famosos, poderosos e os que tentam se esconder na multidão para expressar práticas racistas e preconceituosas. Será que, diante do espelho da vida, você se sente incomodado com o diferente e por isso é tão racista, deseja xingá-lo e não concebe a felicidade e a vitória dele? Mas, se isso é feito somente em campo de futebol, isso vale. Esse é o nosso pensamento? Em Roma, gladiadores proporcionavam a diversão de muitos com seu próprio sofrimento. César apoiava quem alegrava a população. Será que ao ver tanto o “superior” ou “o inferior” nós conseguimos tratar com dignidade, como cidadãos ou fazemos acepção das pessoas? Eloiso Matos é professor. E-mail: [email protected]

“Por que Erdogan insiste para que os EUA passem por cima de sua própria lei”

Bayram Ozturk [caption id="attachment_26972" align="alignnone" width="620"]Jornalista turco analisa estratégia de Erdogan para dobrar os EUA | Foto: Divulgação Jornalista turco analisa estratégia de Erdogan para dobrar os EUA | Foto: Divulgação[/caption] A grande barreira que o presidente turco Recep Tayyip Erdogan enfrenta são os princípios fundamentais da lei. Podemos resumir os comportamentos dele com a seguinte parábola: “A lei é semelhante a uma teia de aranha, os mosquitos menores ficam presos, os mosquitos maiores furam-na e passam”. Erdogan muitas vezes furou essa teia que representa a lei na Turquia. Foi implantado o território da paz e da jurisdição penal que obedecem somente a ele próprio. Ele usou sua maioria forte no Parlamento e estabeleceu leis contra a própria Constituição da República. E as aplicou. Muitas vezes ele declarou em público que não reconhece a constituição do Supremo Tribunal e que não respeitaria as decisões da Suprema Corte. Depois do golpe frustrado de 15 de julho, alguns ministros da Suprema Corte foram afastados e destituídos. Assim, ele mostrou a todos que poderia esmagar a Constituição da Turquia. Erdogan não reconhece as leis no seu próprio país e rejeita as leis de outros países também. Por exemplo: Fethullah Gülen [teólogo turco] reside nos Estados Unidos e o governo de Erdogan, para poder condenar Gülen, deseja que ele retorne à Turquia. Mas existe uma barreira, que se chama lei. Quando o pais exige comprovação oficial documentada para poder condená-lo, Erdogan se põe nervoso, com muita raiva e pergunta: “Por que vocês nos pedem documento? Não somos amigos?” O primeiro-ministro, Binali Yıldırım, confirmou a sentença do presidente Erdogan: “Se vocês desejam ser nossos amigos, quando forem requisitados por nós, devem agir sem considerar as leis. Se os Estados Unidos exigirem documentos que comprovem o envolvimento de Gülen na tentativa de golpe contra o governo turco, ficaremos decepcionados.” Assim temos uma consideração importante, enquanto o golpe está sendo arranjado. Suleyman Soylu, um dos ministros do governo, proclamou :“Os Estados Unidos forjaram o golpe.” Os EUA negam. O embaixador norte-americano, John Bass, disse: “O governo dos Estados Unidos não planejou, não apoiou ou administrou esse golpe, nem antes mesmo dele começar ou até o presente momento em que teve começo. O governo dos Estados Unidos não teve nenhum envolvimento. E mais; as autoridades americanas ressaltam as provas claras que este golpe frustrado é um artifício usado pelo governo turco para a troca de sistema parlamentarista para presidencialista.” De um lado temos o governo de Erdogan visando responsabilizar o governo norte-americano, que estaria por trás do golpe. Se os americanos extraditarem Gülen, fica comprovado que eles não têm quaisquer esponsais pela tentativa de golpe. Por outro lado, existe a avaliação norte-americana de que esse golpe fracassado foi planejado justamente para a mudança do regime de parlamentarista para o presidencialista. Foi exigido um documento jurídico para a extradição de Gülen. O governo de Erdogan afirmou que não há nenhum documento jurídico e insiste na extradição de Gülen e, para isso, se apoia na ajuda do governo norte-americano. Se este pedido não for aceito, o governo turco ameaça o fim da amizade com os americanos e sua saída da OTAN [Organização Militar do Atlântico Norte]. Isso significa se distanciar dos Estados Unidos e se aproximar de Rússia e Irã. O confronto continua pela “linha da amizade” por Erdogan. E ainda ganha uma nova perspectiva pelas explicações do ministro da Justiça, Bekir Bozdag, e do ministro das Relações Exteriores do governo norte-americano, John Kerry. Segundo o acordo entre a Turquia e os EUA sobre extradições criminais, os partidos podem pedir detenção quando existe fuga de criminosos. Para efetivação desse pedido, não há exigência documental em primeira instância. Agora, o governo turco vai fazer um pedido de detenção de Gülen nos Estados Unidos, conforme acordo entre os dois países. O governo turco exige a detenção de Gülen. Exatamente neste ponto reaparece a lei, que não tem significância para o governo de Erdogan. Nos Estados Unidos há leis que impedem esse tipo de detenção. Digamos que as barreiras da lei sejam ultrapassadas e Gülen fique detido. Então, o que vai acontecer? O governo de Erdogan deve apresentar as devidas provas dentro de 60 dias. Pessoalmente, Erdogan sabe muito bem que não existem provas para serem apresentadas. Então qual é o motivo da insistência, mesmo sabendo da impossibilidade do desfecho da detenção ? A resposta é muito fácil. Ele começaria a fazer um grande trabalho dizendo que os Estados Unidos entenderam a verdade e prenderam Gülen. Erdogan se apresentaria como o grande líder que obrigou os Estados Unidos a lhe obedecer. Ele anseia demasiadamente que isto realmente aconteça.

Bayram Ozturk é jornalista.
“O que falar de um cadeirante ter de disputar espaço com os carros?” Antoniel Benevides Os corredores feitos pela Prefeitura de Goiânia deixam muito a desejar quando se trata de calçada ao pedestre. Veja o grande exemplo do corredor da T-63, que, no sentido Praça da Nova Suíça – Parque Anhanguera ou vice-versa — onde dizem que já está pronto: não se tem a mínima condição de um cadeirante ou pessoa com mobilidade reduzida mover-se pelo local. Deveria ser o grande exemplo, pois se trata de uma região de grande fluxo. Então, creio que isso seja um grande absurdo aos olhos dos goianienses, e algo que faz com que as pessoas não acreditem na tal acessibilidade. O governo municipal deveria ter mais zelo pelas obras que são realizadas no município. O que falar de um cadeirante ou idoso ter de disputar com os carros o espaço de passagem no asfalto? Creiam, aqui em Goiânia isso acontece em vários lugares, inclusive onde a Prefeitura já considera como pronto o corredor de ônibus. Quanto a Senador Canedo, a reportagem é correta ao diz que o bicicletário é bastante usado, sendo que quem gerencia o terminal deve, com urgência, fazer um plano para mais espaço para as bicicletas, para que o local não passe de “lotado” para “bagunçado”. [“Sem um plano para estruturar sua mobilidade, Goiânia tende a entrar em colapso”, Jornal Opção 2141]
Antoniel Benevides é funcionário público.

“Direto de Brasília, rumo a Goiânia”

Alisson Azevedo Desde que o homem deixou de ser nômade, quase sempre que se muda é para fugir da falta de água, de víveres, de paz e, bem mais recentemente, pra fugir do tédio. Vim para Brasília para fugir do tédio; saio de Brasília para fugir do caos. Brasília não tem esquina. Essa é uma daquelas verdades triviais que dão em boa metáfora. Para quem veio de Goiânia, com suas quadrinhas sob medida pra pedestre preguiçoso, essa verdade dói nos calcanhares – agora sem metáfora. Mas a metáfora, para quem veio de Goiânia, com seu “à vontade”, seu “bem ali”, seu “deix’eu te falar”, dói mais ainda. Brasília não tem esquina, mas tem céu. “Céu de Brasília / Traço do arquiteto / Gosto tanto dela...” Podendo ela ser a própria Brasília, a mulher para quem Niemeyer desenhou suas curvas, ou ainda uma daquelas deliciosas elipses de Djavan, de quem roubo os versos. Mas Brasília anda cada vez mais prosa e menos poesia. E prosa ruim. A narrativa da política oscila entre o caos e o tédio, e parece não haver sinal de equilíbrio no horizonte. Aliás, estes são tempos duros: estão pouco ligando para as sutilezas do olhar — e menos ainda do horizonte. Minha formação política foi nos anos 90 e naquela época eu não poderia imaginar que sentiria saudade da polarização PT versus PSDB. O PSDB perdeu o sotaque da USP, o PT perdeu o sotaque da Teologia da Libertação, e ambos deram o PMDB de presente ao Brasil. Pobre presente, triste Brasília. Mas gosto tanto dela! Brasília não tem esquina. E a distância — ou melhor, o distanciamento que disso resulta — tem seu quê de cortesia, de civilidade, de cosmopolitismo. Em Brasília, aprendo, se trabalha muito (apesar de uns poucos...). Dia a dia, governo a governo, a capital do poder aprende a respeitar o espaço público e a preservar a esfera privada. Anfitriã dos três Poderes de uma frágil República, Brasília está mais suscetível à pressão e à vigilância. Talvez por isso alguns bons frutos da Constituinte dos já distantes 1987/88 sejam mais maduros por aqui. Concursos públicos para valorizar o mérito, cotas para equiparar as oportunidades, carros oficiais menos notívagos. Esses são alguns dos sintomas republicanos já comuns em Brasília, mas ainda pouco notados e sentidos pelo Brasil grande — e profundo. Brasília não tem esquina. Mas tem entorno. E seu entorno é onde o povo mora — e ninguém vai a passeio. Não há República no entorno de Brasília. Fora do Plano — e sem plano de voo —, a capital da República dá lugar à miséria, à violência, à barbárie. E há muito de Goiás no entorno de Brasília. Um Goiás miserável, violento, bárbaro. Mas talvez esse seja o calcanhar de Aquiles da nossa ufanista goianidade.

Alisson Azevedo é servidor do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO)
 

“Falcão merece estar no panteão dos craques”

Talmon Pinheiro Lima Palavras de Maradona sobre Falcão: “Um líder. Você o via fora de campo e ele parecia um médico, mas quando colocava o calção sabia muito bem o que fazer com a bola. Foi campeão com a Roma, o que não é pouca coisa.” Não tem como discordar desse gênio da bola. Adoro falar sobre o Falcão, afinal é meu ídolo no futebol. Situá-lo como um mero volante é reduzir o tamanho e a importância do seu futebol. Falcão e Cerezo foram os primeiros meio-campistas brasileiros que assimilaram a revolução trazida pela Holanda de 74. Jogavam um futebol total: defendiam, atacavam, lideravam, faziam gols, utilizando-se de um estilo e classe jamais vistos no futebol brasileiro. A elegância de Falcão em campo era imperial. Parecia um kaiser, a exemplo de Becken­bauer, outro “finesse” da bola. Eu o vi jogando duas vezes no Estádio Serra Dourada, naquele time mítico do Inter de 75/76 que foi bicampeão brasileiro. Na seleção de 82, foi o expoente em um time de craques como Zico, Sócrates, Cerezo, Junior e Luizinho. Ele, sim, foi um cracaço. Merece um panteão ao lado de outros dois grandes da “zona de inteligência”, como diziam os experts de antanho: Didi e Gérson. [“O volante que parou e provocou expulsão de Pelé”, Jornal Opção 2035]
Talmon Pinheiro Lima é advogado.
 

“A morte anunciada do PM e a ausência do Estado”

Jeblin Abraão A morte do sargento PM Uires Alves da Silva em Itacaiu, distrito de Britânia, é aquilo que se pode dizer ser uma “morte anunciada”. A única coisa desta tragédia é que não se conhecia qual seria a vítima da vez e que seria filmada pelo celular — grande invenção deste início de século — de uma pessoa comum, daí todos tomarem conhecimento do que ocorreu. No caso dessa tragédia, os ingredientes estavam todos juntos: álcool, som alto, ausência de elementos essenciais do Estado (esfera estadual e esfera municipal), legislação pífia sobre os direitos da comunidade, Judiciário totalmente ausente das demandas da comunidade e mais outros itens. A única presença do Estado nestes ca­sos tem sido a da Polícia Militar. Aqui, em nossa região — entorno do Campus Samam­baia, da Universidade Federal de Goiás —, quem tentou ligar para a Amma para reclamar de som, suposta responsável pela qualidade do meio ambiente, conseguiu falar com alguém? Quem conseguiu teve algum resultado? Há uma Delegacia Estadual do Meio Ambiente, mas parece ser apenas uma para todo o Estado. Poucos sabem da sua existência; você já viu alguma ação desta delegacia? Ela tem pessoal para isso? Relata um funcionário da Amma que, quando um fiscal vai autuar um estabelecimento comercial, aí podem autuar e entrar no ambiente, por som alto. Só que, antes de chegar ao local, recebe ligação de vereador, do presidente da Amma [Agência Municipal do Meio Ambiente], de seu chefe imediato, com a contraordem. Aliás, quem financia as campanhas eleitorais de quase todos nossos políticos eleitos? Tem um abaixo assinado circulando em nossa região solicitando às “autoridades” providência contra o abuso do uso de som muito alto. Quan­tos assinaram? “Quem tem que fazer alguma coisa é sempre o outro eu não me envolvo com isto...”.
Jeblin Abraão é professor aposentado da Universidade Federal de Goiás.

“O Estado quer ser o pai e a mãe de seu filho”

Cristovam do Espírito Santo Filho O pátrio poder é definido como sendo o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores. Na legislação civil brasileira (Código Civil), no artigo 1.631, está definido: “Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade“. Nota-se que o exercício do pátrio poder é atribuição “exclusiva” dos pais e não pode ser delegada, nem mesmo ao Estado, sem a autorização dos mesmos. Na verdade, o ordenamento jurídico vigente tem por objetivo proteger a família e proteger o direito dos pais de educar seus filhos de acordo com seus valores e conceitos, sem a interferência desnecessária e abusiva do governo em qualquer esfera. No Brasil, por conta dos mais diversos radicalismos, depois da completa doutrinação “revolucionária” já vigente nas universidades, sejam públicas ou privadas, covardemente, em um projeto muito bem orquestrado e que se traveste do bem para vender o mal, alegando-se a defesa de “minorias”, querem alcançar nossas crianças na mais tenra idade. Querem formar os “radicais” do futuro e garantir um projeto de poder, passando por cima, como um rolo compressor, sobre o direito exclusivo e inequívoco dos pais de educar seus filhos sem a influência estatal. Em Campo Grande, por meio do Projeto de Lei nº 8.242/16, pretende-se, de forma definitiva, evitar o abuso do Estado, seja por parte do Ministério da Educação, seja pelo governo estadual ou pelo municipal, em relação à doutrinação política ou religiosa de nossas crianças, exigindo da escola o respeito ao pátrio poder, portanto, cumprindo-se o que já está assegurado na legislação vigente. O projeto referido é equilibrado e vem atender o interesse dos pais e alunos. Em seu artigo 2º preceitua que o Poder Público não deve imiscuir na orientação sexual dos alunos ou qualquer outra prática capaz de comprometer o desenvolvimento da personalidade dos mesmos. Em outras palavras, o Estado não tem o direito de interferir na educação, em qualquer esfera da vida privada das famílias, pois tal direito compete exclusivamente aos pais como já asseverado anteriormente. É interessante notar que vivemos um momento histórico único. De um lado o Estado brasileiro, especialmente na esfera federal, foi ocupado por radicais que defendem à primeira vista a ideia de uma sociedade justa, sem exploração entre os homens, o que soa bastante atraente. Não haveria pobreza, as pessoas teriam a mesma condição social, não existiram preconceitos de classes, ou de qualquer ordem e todos seriam felizes. Em contrapartida, do outro lado, o cidadão, empobrecido moralmente e financeiramente, está ameaçado por este Estado com sonhos de grandeza! O problema são as propostas e as contraditórias práticas governamentais em busca deste ideal. Como já afirmado, tenta-se vender o “mal” como se fosse um “bem”. Em 1867, Karl Marx lançou sua obra “O Capital”, antecedido pelo “Manifesto Comu­nista” (1848). Em tese, desenhava em sua teoria a sociedade ideal, na qual todos os objetivos referidos no parágrafo anterior seriam alcançados. Só havia um problema, pois o que fazer com os frutos honestos do trabalho humano inerentes a qualquer sociedade? Segundo Marx, tais frutos seriam entregues integralmente ao chamado Estado que além dos frutos ainda estaria no controle de tudo e de todos (meios de produção). Em suma, sua casa não seria sua, seu carro, se você conseguisse um, não seria seu, ou seja, teríamos uma nação de servidores públicos a serviço de um Estado todo poderoso. Obviamente, em decorrência da visão referida anteriormente e que está atrás destas iniciativas contra o pátrio poder, o chamado Estado socialista seria gerido por pessoas com defeitos e virtudes como qualquer ser humano normal. Estas pessoas formariam uma espécie de elite política e administrativa que comandaria tudo e todos. Em relação ao restante da sociedade, seria uma minoria, mas bastante poderosa, literalmente com poder de vida e morte sobre todos. Isto foi realidade na antiga União Soviética e é fato em países com brutais regimes a exemplo de Cuba e Coreia do Norte. Quem defende esta política educacional contra a família e contra os direitos dos pais, inspira-se nestas ditaduras e buscam um Estado cada vez mais invasivo, ou seja, almejam ao Estado totalitário. Outro problema, para que este tipo de Estado sobreviva as pessoas precisam valorizá-lo acima de qualquer coisa. A individualidade não existe. O coletivo predomina sobre todos. Sendo assim, o que fazer com a família? Simples, destruir este conceito e criar conceitos novos que interessam a esta elite política radical, destruindo valores como identidade sexual, moral e bons costumes. Em uma fase pré-revolucionária para se chegar a isto, quanto mais pornografia, criminalidade e sexualização, inclusive de nossas crianças, melhor para esta pretensa elite política. Na verdade, esta elite já se tornou a nova classe opressora. No final das contas, a atual sociedade está sendo destruída em relação aos valores que sempre cultivou e agora os pedagogos governistas (ou seriam demagogos) querem usar o ensino para atender seus mais obscuros interesses e sede de poder. Não interessa ao totalitário Estado a figura do pai, da mãe e de filhos educados dentro dos valores de uma determinada família. O Estado não tem interesse em concorrer com nada e não divide sua glória com ninguém. O que você deseja para sua família? Você quer viver debaixo de um governo que, a pretexto de ajudar aos pobres, aos necessitados, aos discriminados, busca uma Ditadura para, ao contrário, empobrecer ainda mais a todos, inclusive moralmente? É isto que nossas famílias merecem? Você entregará o pátrio poder ao mesmo Estado que quebrou a Petrobrás, faliu os governos estaduais e municipais e acha que pode educar seu filho no seu lugar? Campo Grande tem a chance de dar um basta à invasão do Estado naquilo que é exclusividade dos pais, das famílias, ou seja, o sagrado direito de educar seus filhos sem a ingerência de governos autoritários e prepotentes, ou seus prepostos. Nossos filhos precisam de boas escolas, de boa instrução, o que deveria ser mais prioritário que a doutrinação de nossas crianças. O projeto de lei nº 8.242/16 representa uma das últimas oportunidades de oposição aos radicais que hoje ocupam as universidades, a pedagogia e o governo. Que os vereadores tenham a coragem histórica de dizer “não” à doutrinação ideológica e totalitária nas escolas. Basta.

­Cristovam do Espírito Santo Filho é advogado tributarista.
 

“Desvio do uso dos subsídios é mais grave do que não tê-los”

Edival Lourenço Obras culturais de qualidade, exatamente por serem de qualidade, não têm público espontaneamente. Daí a necessidade de subsídios públicos para sua sobrevivência, até que caiam no gosto do povo. Sem subsídios, a cultura de um país é massacrada pelo “mainstream” (cultura de massa global). Mas quando há desvio do uso dos subsídios, é mais grave do que não ter subsídios. Porque as culturas genuínas ficam sem apoio e ainda têm de concorrer com a cultura de massa global turbinada com recursos públicos. [“Cultura de qualidade merece subsídio mas a Lei Rouanet não pode se tornar a Lei Roubanet”, Jornal Opção 2139]
Edival Lourenço é escritor.
 

“É uma injustiça falar em Lei ‘Roubanet’”

Amauri Garcia Em relação ao Editorial “Cultura de qualidade merece subsídio mas a Lei Rouanet não pode se tornar a Lei Roubanet” (Jornal Opção 2139), em nenhum momento se falou do contrário. É óbvio que a cultura tenha de ter subsídios, e isso não significa ser conivente com roubalheiras e infração às leis. Nas vezes em que tive acesso aos benefícios de lei cultural, prestei todas as contas e fiz rigorosamente o que define a lei. Eu e mais um monte de gente. É uma injustiça falar em “Roubanet” e defender seu fim é mostrar desconhecimento do assunto e desprezo pelo setor cultural.
Amauri Garcia é músico e jornalista.
 

“Gostaria que a Rede Globo focasse mais em enredos do bem”

Wladya Jade Antunes Eu acho muito boa a proposta de “Velho Chico”. Quero ver sempre mais novelas de época e fantasias, pois de vida cotidiana atual e chata já bastam os noticiários de guerra e morte das TVs. Chega, basta: na verdade, eu gostaria que a Rede Globo focasse mais em enredos do bem, em que os personagens mostrem mais inteligência emocional, solidariedade, fé e ação. Muitas novelas da Record são assim e cativam mais. A Globo está decaindo e não percebe? Em “Velho Chico” é preciso acelerar os fatos importantes, como a parte política, e mostrar mais sobre os projetos da terra. E os personagens também precisam aprender a se perdoar. Do jeito que está, já está ficando chata demais. [“Velho Chico amarga baixa audiência e Globo passa vexame nacional em Goiânia”, Jornal Opção Online]
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“A OS é instrumento de gestão pública moderna”

Welbi Maia Brito As OSs tornaram a gestão da saúde pública mais eficiente por não ficarem presas à legislação que rege o serviço público. É instrumento de gestão pública moderna que ajuda a aplicar com mais eficiência os recursos e melhorar a qualidade dos serviços. [“Marconi recebe convite para liderar campanha nacional em defesa das OSs”, Jornal Opção Online]
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“Curiosa para ler ‘Grande Sertão’ no inglês”

Clelia Nobrega Em relação à entrevista de Eric M. B. Becker ao “Opção Cultural”, intitulada “Se os tradutores não lutassem por seus projetos, muitos escritores não seriam conhecidos” (Jornal Opção 2139), tenho a dizer que estou curiosíssima para ler a nova tradução de “Grande Sertão: Veredas” para o inglês!
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“Último trago: alucinação ética da lucidez sem moral no Planalto Central”

Antônio Lopes Canta Belchior, em “Alucinação”: “Um preto, um pobre, uma estudante, uma mulher sozinha, blue jeans e motocicletas, pessoas cinzas normais, garotas dentro da noite, revólver: cheira cachorro, os humilhados do parque com os seus jornais.” A humanidade centra no amanhã que nasce atrasado e agora toma o elevador social que desce e sobe, finge que cai, balança, equilibra-se, enfim e sem fim, brinca com a mente da gente sem dente, sem dor nem sorte. Há os que nascem decentes, diferentes dos normais, ou seja, aqueles que jamais alcançarão o status de gente. Assim caminha e tropeça a sociedade civil (des)organizada, produtora de imagens de um filme concreto e cruel, pêndulo cardeal das notícias diárias às quais repassa a mídia, articulada em rede mundial que ecoa a lama que escoa à míngua na língua da mentira contada fiado na flor de pequi e espinho do Planalto Central. O final de semana passado tal qual o imposto – posto – me rouba o lucro parco da semana seguinte, pedinte, ouvinte e carente. Recomponho-me em fotos e fatos novos. Penúltima semana antes das férias esvaziadas em transeuntes e veículos nas ruas da cidade grande. A manchete que mais dói é a de mais um trabalhador sem face e negro, pobre e semianalfabeto, sujo de terra por cavar a cisterna ou a sepultura, assustado à luz dos holofotes da imprensa que lhe empurram goela abaixo os gritos dos microfones alardeadores da denúncia fria e cruel – verdade que queima a língua do crente – gente que morre de frio nas esquinas, sem acesso ao poder em denunciar o peso da exclusão social, a dor de dente presa ao sistema e ao terminal de ônibus que despacha ao inferno uma pobreza destinada à penitenciária mais próxima. Um rapaz que se encontrava dentro do ônibus urbano, desumano, travou longa jornada de trabalho e medo, incerteza e certeza rumo à sua residência, sonho barato tal qual fumaça de cristal queimado invadiu o terminal tomando de assalto o veículo, roubando e agredindo inocentes, tal qual a letra da música: “Um preto pobre, uma estudante, uma mulher sozinha.” Enxame de abelhas africanas, argelinas babilônicas a turba incita a seção de espancamento do pobre coitado, parido do coito forçado e abandonado ainda em feto metafísico no banco traseiro do ônibus, do barco, da decência, da razão que aprova e toma do facão manchado de suor marceneiro, espanca a paciência e espera até a morte pelo jardineiro que traz à mão em calos de servente, indigente, do dedo torto e assassino que aciona o gatilho que ecoa a fedentina, que escorre na baba raivosa dos agressores. A mídia que liberta – desde os tempos de Tiradentes – é a mesma que encarcera, a amiga que trai, a amante incapaz de se entregar. A transparência da inocência, autodefesa sem consciência da preocupação com a esposa e a família, estranha o pedido de prisão estruturado na falácia da acusação. E dos “humilhados do parque com os seus jornais” resta saber o porquê da delegacia “despachar” mais um negro para a penitenciária, a rapidez do processo julgado na lei dos brancos, rápido, antes mesmo que o cidadão insista em denunciar qualquer tipo de dor nas costelas abalroadas no tempo de combate. Entre “blue jeans e motocicletas, pessoas cinzas normais, garotas dentro da noite e revólver que cheira cachorro”, mais um pobre e negro, morador de periferia urbana, sujo de terra, “pé de toddy”, sem lenço nem documento, sem advogado sequer currículo, morre sem face nem saliva, provavelmente apenas mais um “rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco e sem parentes importantes, vindo do interior”. Se, de acordo com Karl Marx, “não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência”, a rotina concreta do homem pobre e faminto - enclausurado nas celas abertas da urbe violentada e banalizada, denuncia um coletivo vitimado pela escassez de valores multiculturais localizados globalizados de uma geração vazia, empobrecida e assaltada pela falta de ética e razão, desrazão. A conjuntura socioeconômica reafirma a filosofia barata do cotidiano, incapaz de pensar o homem como ser que pensa e faz, age, reage, mesmo que alienado, escravizado sob o jugo do sistema. A corrupção é mãe e a violência, o feto parido, filho bastardo da desenfreada maldição pós-moderna da loucura e alucinação imediatas tal qual figurinha carimbada que desponta do sorteio da virgem no bordel. Haja prozac, tome gardenal! Uma alucinação viva e concreta que retrata “carneiros, mesa, trabalho, meu corpo que cai do oitavo andar e a solidão das pessoas dessas capitais, a violência da noite...” e a sede de água pura e límpida capaz de lavar a alma da gente que caracteriza e delimita muito mais que uma simples nação que respira estreito e sob as bênçãos do papa social democrata escravo do poder entalhado a ferro e fogo sob o perfil do cifrão, incapaz de vestir a sandália rota ou as vestes de Gandhi. A pompa e os paramentos ejaculam a realidade nua e crua em vestes que enfeitam homens comuns. A população assiste adormecida ao desmonte de um quebra-quebra recortado a juventude transviada e contemporânea a qual, nos dias efêmeros tão atuais assiste-se incapaz e anêmica em reivindicar alguma paz, a migalha de amor ou ainda a legalização, seja ela da marijuana, da honestidade, de alguma igualdade social, um naco de inclusão ou a fagulha igualitária capaz de transparecer algum poder da lei a qual, neste momento, abriga bandidos e prende cidadãos. E o pulso ainda pulsa! Antônio Lopes é filósofo, assistente social e mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).

“O Brasil precisa dizer não à reeleição para qualquer cargo”

[caption id="attachment_69103" align="aligncenter" width="620"]Professor discorre sobre a necessidade do fim da reeleição, para que políticos como Eduardo Cunha não se perpetuem | Foto: Lula Marques/AGPT Professor discorre sobre a necessidade do fim da reeleição, para que políticos como Eduardo Cunha não se perpetuem | Foto: Lula Marques/AGPT[/caption] Eduardo Silva O que o Brasil passa hoje em dia, com tantos escândalos – e tantos mais por aparecer – tem várias origens. Uma delas é a nossa própria cultura ancestral e portuguesa, segundo a qual era lícito levar tudo daqui para a metrópole Lisboa. Passaram-se os séculos e a metrópole se tornou o bolso de cada um. Infelizmente, vivemos em uma das nações mais corruptas do mundo. Mas existe um fator que, ultimamente, tem contribuído e muito para que as coisas se degringolem ainda mais: a tal da reeleição. Ela já existia para os cargos do Legislativo e a partir de 1998 passou a valer também para o Poder Executivo, graças à famigerada emenda que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso bancou (de forma bastante suspeita, inclusive). Pois minha opinião é de que deveríamos acabar com a reeleição para todos os cargos, mesmo para o Legislativo. Hoje deputados, vereadores e senadores podem ficar o tempo que quiserem. Tem deputado que já poderia se aposentar por tempo de serviço (se de fato trabalhassem, o que muitos não fazem), assim como tem vereador em Goiânia que está no poder desde os anos 80. E ainda vai tentar mais uma reeleição. Eu digo uma coisa, que talvez sirva para entender um pouco melhor essa questão de forma mais didática: se não fossem as seguidas reeleições, não teríamos um Eduardo Cunha (PMDB-RJ) fazendo o que fez. O deputado carioca queridinho dos evangélicos está na Câmara Federal há mais de 20 anos, período que usou para tecer sua rede de podres poderes. Hoje toda a população brasileira é obrigada a arcar com as consequências de sua corrupção já mais que comprovada. Pois bem, ainda que tivesse as piores das intenções (como, aliás, parece que realmente teve), Cunha não poderia fazer muita coisa se seu poder fosse interrompido depois de quatro anos. Caso quisesse voltar a Brasília, deveria ele antes manter um intervalo sabático de quatro anos. Com certeza o País não estaria pior com gente dessa espécie dando um tempo do poder. É bem verdade que a falta da reeleição penalizaria alguns nomes interessantes do Congresso e da vida pública brasileira em geral. Mas é como diz aquele velho ditado: os bons, às vezes, têm de pagar pelo mal que fazem os pecadores. No caso, ainda que a política perdesse gente boa por conta da medida, haveria uma quebra do círculo vicioso que fabrica tantos picaretas, para dizer uma palavra bastante generosa com tais indivíduos. Qual a chance de termos algo assim implantado no Brasil? Mínima. Afinal, são os próprios deputados que fazem as leis. Será que ousariam legislar contra a causa própria para prestar um bom serviço ao País? Eu, de minha parte, duvido muito e não me faltam motivos para isso. O que podemos fazer, como população, é não reeleger ninguém durante um bom tempo. É difícil, mas não é impossível. Eduardo Silva é professor.

“Um País que não é para amadores”

Gustavo Henrique Consigo até entender as pessoas cometendo esse ato ilícito, pois a situação do país não é boa e também devido a carga ter seguro e que nesses casos por serem produtos alimentícios a cobertura chega a ser quase que total, não havendo prejuízo pelas partes prejudicadas. Mas, mesmo assim, não deixa de ser lamentável, pois em país serio isso não devia acontecer mesmo nessa situação. Como, depois, querem cobrar dos políticos práticas minimamente éticas se não olham para o próprio umbigo? Realmente, o Brasil não é para amadores. [“Vídeo mostra população saqueando caminhão de cerveja após acidente em Goiânia”, Jornal Opção Online] E-mail: [email protected]

“Grana não compra a essência do jornalismo”

Ribamar Júnior  Grande análise! Parabéns a todos os profissionais envolvidos, e ao Jornal Opção pela imparcialidade. A “grana” pode comprar as melhores páginas de anúncio, mas não compra a verdadeira essência do jornalismo. [“Embargo do Nexus prova como o funcionamento das instituições pode salvar uma cidade”, Jornal Opção 2137] E-mail: [email protected]

“Medida do MPF contra Crea pode ser tiro no pé”

Nestor Bendo  Em relação à matéria “MPF aciona Crea para proibir engenheiros de desenvolver projetos arquitetônicos” (Jornal Opção Online), se esse tipo de medida conseguir delimitar adequadamente os âmbitos profissionais de cada classe, de tal sorte que o mercado se obrigue a valorizar ambas as categorias, há de ser bem vinda. Caso contrário, é apenas um tiro no pé de ambas as profissões. Prejuízo na certa. Os arquitetos estão se mobilizando para preencher todos os espaços que puderem, e a fraca atuação dos Crea [Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia] e do Confea [Conselho Federal de Engenharia e Agronomia] vai apenas permitir que nós, engenheiros, percamos esses espaços. Uma vez que os arquitetos não têm formação técnica especializada em vários dos pontos em que os engenheiros se especializam com grande profundidade, os riscos de erros de projeto crescem. Há o que melhorar na situação? Há. Acionar à Justiça para fazer as mudanças necessárias? Não é o ideal. Devemos lidar com nossos colegas diretamente, respeitar os limites de cada área técnica, fazer concessões e exigências, estudar os casos específicos detalhadamente. Acionar advogados para isso não é o ideal, já que eles desconhecem as minúcias da situação e dificilmente conhecerão. Temos de arregaçar as mangas e fazer isso sozinhos. Nestor Bendo é engenheiro civil. E-mail: [email protected]

“Estou fascinado com o ‘conhecimento’ dos brasileiros”

Arnaldo B. S. Neto Fico fascinado com meus compatriotas brasileiros. Nossa cultura e nosso conhecimento não têm igual. Agora todos opinam com profundo conhecimento e propriedade sobre a economia inglesa. No dia em que todo esse nosso conhecimento for usado em prol da nossa própria economia será um avanço fantástico! Arnaldo B. S. Neto é professor da Faculdade de Direito da UFG.

“O menino tornado homem pelas leis da droga e do Estado”

Antônio Lopes O ídolo adolescente Justin Bieber disse: “Escola é uma droga. Eu quero que o meu mundo seja divertido. Sem regras, sem pais, sem nada. Como se ninguém pudesse me parar” . A mídia local estampa a manchete da prisão de mais um sujeito sem face da sociedade apressada, banal e violenta. Redundam hipocrisias, normas, empurra a geração pós-moderna e efêmera estruturada na era dos signos, contemporânea, que assinala o território mental da vida remanescente do século passado, uma conjuntura que, de acordo com Hobsbawm, tornou “o mundo, ou seus aspectos relevantes, tornou-se pós-industrial, pós-imperial, pós-moderno, pós-estruturalista, pós-marxista, pós-Gutemberg, qualquer coisa”. Preso pela Polícia Militar nada mais que um homem, estanque ao corpo de menino, 10 anos de idade, junto a três outros adolescentes de 17 anos, apreendidos por fumar maconha, substância ilícita (Lei de Drogas 11.343/06) na periferia de Goiânia. Há um dito popular que ensina, a partir da história de um Brasil “descoberto, catequizado, explorado e expropriado” que existem leis e “leis”, segundo o barão de Montesquieu: “Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se as que lá existem são executadas, pois boas leis há por toda parte”. No local do “crime”, a casa suja desmorona – destoa das mansões instaladas pelo cifrão em condomínios de luxo ou aquários sociais –, abriga e esconde jovens pobres alienados pelo tráfico articulado os quais tocam a “vida loka”. A pistola calibre ponto 45 e 300 gramas de cocaína denunciam o consumo e tráfico de substâncias; numa foto a criança segura seu brinquedo: uma arma de verdade, e, de fogo; o aparelho celular vaza áudios e vídeos que dão o tom de ameaça: “E aí, doido! Quem mandou foto minha aí vai cair na bala”. Provas materiais de uma “contravenção” abstrata, notícia que é raspa no prato do debate, denúncia da realidade concreta, “proposta de salário fácil” pago ao soldado da vida bandida protegida, proporcionada e assassinada pela máfia do tráfico organizado. Segundo Hart, “não precisamos apenas compreender os resultados de uma política, mas também analisar determinadas formas pelas quais as estratégias de combate ao uso de drogas vieram a ser usadas para fins políticos”. Para entender os verdadeiros efeitos das drogas sobre o comportamento e a fisiologia do usuário, é preciso estancar a hemorragia social de uma realidade provocada pelo nome da rua onde aconteceu o fato: Avenida Canaã, para muitos cristãos, a cidade bíblica, ou lugar que tem em abundância “leite e mel”, propiciador de conquistas materiais retratadas pelos fetiches capitalistas. Trespassada pela violência concreta, toda uma região, onde, muito antes da introdução da maconha e outras drogas, diversas famílias já eram esfaceladas pelo racismo institucionalizado, a pobreza e outras forças, como a do mercado imobiliário, alimentando a patologia social constatada em outros pontos da metrópole erguida para abrigar 50 mil habitantes. O serviço social determina a questão como resultado do processo histórico-político do modo de produção capitalista moderno, monopolista cumulativo, escancara sua consequência imediata, a desigualdade fomentada na má distribuição da riqueza socialmente produzida, fenômeno que alavanca a vulnerabilidade social e determina a luta de classes, história mal contada a partir dos vencedores ou a miséria da razão. A Carta Magna de 1988 esclarece que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei; por isso, pelo fato de ser justa a garantia dos direitos e a proteção à infância e adolescência brasileira, o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] deve ser lei, e como tal deve ser cumprido por todos”. O senso comum e hipocrisias da moral inundam a discussão sobre a expressão social da droga, enterra sua condição ontológica ao sugar direito, liberdade e saúde, estampa a mídia impressa que vocifera e lucra com a novidade da velha mentira que culpa o sujeito e não a droga. A realidade antropofágica de um garoto de 10 anos, “boca”, “gerente” ou “patrão” obrigado a comer sua própria história, coloca em xeque sua restrição de liberdade, denuncia o sistema que omite a criança, seus hormônios e sua adolescência. A coletividade, ocupada e covarde, endossa a negação de direito avalizada pela assistência social desarmada em conhecimento da causa e comprometida com o poder, revela-se incapaz de questionar e processar, ao contrário do menino, o Estado. Enquanto isso, na esquina, e, lá fora, direitos são negados, o sistema se omite, o baseado queima. A “boca”, braço lucrativo do Estado paralelo, retrata duas falácias: a do sistema capitalista e a do Estado. E o pulso ainda pulsa. Antônio Lopes é filósofo e mestre em Serviço Social pela PUC-GO.

“Henry McCullough criou um dos solos mais bonitos do rock”
João Paulo Lopes Tito Henry McCullough, guitarrista do Wings (já que a banda acabou, não tem por que dizer que ele é ex-guitarrista, não é verdade?), faleceu dia 14 de junho, aos 72 anos. Ele ajudou a moldar o álbum “Red Rose Spee­dway” (1973) e criou um dos solos mais bonitos do rock'n roll, a partir dos dois minutos do hit “My Love” (dizem que Paul McCartney ficou perplexo ao ouvi-lo pela primeira vez). Achei que valia a menção, pelo muito que fez em tão pouco. João Paulo Lopes Tito é assessor jurídico no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO).
 “Não somos mais o País do futebol”
Arnaldo B. S. Neto Quando eu era garoto, nossa seleção era objeto de devoção. Sugerir que não éramos simplesmente os melhores do mundo não passava pela cabeça de ninguém. Éramos os colecionadores de Copas, o celeiro dos craques, a pátria de Pelé e Garrincha. Isso parece que acabou. Não somos mais o País do futebol. Esta é, provavelmente, a única dimensão da sociedade brasileira em que passamos da glória para a decadência (nas demais, nunca fomos gloriosos). Mas nem por isso vou deixar de dormir. Arnaldo B. S. Neto é professor da Faculdade de Direito da UFG.
“Brexit foi uma vitória da xenofobia”
Wellington dos Santos Aqui no olho do furacão, a percepção é de que foi uma vitória da xenofobia. Toda a campanha para o Brexit [expressão resultante da fusão das palavras “Britain” (Grã-Bretanha) e “exit” (“saída”, em inglês)] foi baseada em cima do ódio e da raiva sobre os imigrantes. O que se sente é que não querem nenhum tipo de imigrante em UK. Mas se esqueceram de que esses mesmos imigrantes pagam uma bolada em impostos e que virá uma retaliação forte, por parte da União Europeia (UE), para servir de exemplo para outros países não seguirem o mesmo caminho do Reino Unido. Ainda sobre os imigrantes, os que eles mais odeiam – indianos, paquistaneses e africanos – em sua maioria têm documentação inglesa, pois a imigração deles para cá aconteceu há vários anos desde a reconstrução de Londres após a Segunda Guerra Mundial. No final, foi um tiro no pé. O primeiro ministro incendiou a casa para salvar os móveis e acabou sem a casa e sem os móveis. Wellington dos Santos é goiano e mora em Londres.
“Nada de positivo para o Reino Unido com sua saída do bloco”
Itamar Oliveira Pra mim não tem nada de positivo para Inglaterra. Irão perder o controle sobre a Escócia e a Irlanda do Norte provavelmente. Terão problemas com a política de imigração, digo com os ingleses que vivem fora de lá em outros países do bloco. Vários acordos comerciais serão desfeitos, tudo isso em nome dessa falso moralismo nacionalista. E o que é pior, se um dia quiserem voltar, terão de ter aprovação unânime de todos os países do bloco. Itamar Oliveira é engenheiro ambiental.
“Penso que os britânicos se precipitaram”
Paulo Júnior Engraçado que a diferença de resultado nas regiões do Reino Unido foram parecidas com a que vimos aqui nas últimas eleições no Brasil, guardadas as devidas proporções. Enfim, penso que toda decisão tomada em momento emotivo é ruim e tal decisão foi tomada em um desses momentos. Mo­mento conturbado no mun­do, principalmente envolvendo ataques, crise econômica em algumas regiões, diferenças religiosas. Penso que os britânicos se precipitaram, sim, assim como se realizassem um plebiscito sobre pena de morte ou redução da idade penal em um momento de explosão de violência no Brasil. Teríamos uma triste mudança sem as devidas discussões das implicações que isso poderia resultar. Paulo Júnior é funcionário público.
“A verdade que ela defende é mais verdade que a verdade dos demais?”
Mario Junior Essa sra. Sandra Lima de Vasconcelos Ramos se diz pesquisadora. Bom, ela acredita que por um lado há “doutrinação ideológica” aceitando “x” pensamentos. Mas aceitar os “y” pensamentos que ela acredita serem legítimos e ensiná-los de igual modo não seria “doutrinação ideológica” da mesma forma? Ou a verdade que ela defende é mais verdade que a verdade dos demais? Vamos ler Mi­chel Foucault, minha gente! Não existe “a” verdade. Toda crença tem para si um discurso legitimador. As verdades são construídas. A palavra ideologia é neutra. Tudo é ideológico. Causa-me admiração que uma “educadora” não saiba disso. Os cristãos fundamentalistas (sim, porque existem aqueles que não o são) achavam que estariam para sempre inabalados com suas fogueiras inquisidoras de verdades perenes. Sinto muito, “perdeu, playboy”. A tal “família tradicional” e a “verdade biológica” que a suposta professora Sandra defende continuarão a existir, mas não mais sozinhas. Há outras famílias e outras verdades e, que bom, que já há sistemas de ensino (como o de Goiâ­nia) que se alargam para incluir e não se estreitam para segregar. ["Prova de concurso público em Goiânia é mais um caso de estupro coletivo", no online do Jornal Opção] E-mail: [email protected]
“Escolas não têm intenção de doutrinar as pessoas, mas de abrir discussões”
Fran Brasil Não há doutrinação ideológica na educação, o que existe é o acesso à informação. As escolas e as bancas de concursos não têm a intenção de doutrinar pessoas, ao contrário das religiões, cujo propósito é bem claro. O que se vê nas salas de aulas é a abertura de pautas atuais para discussão de ideias. O que é bem saudável e construtivo. Nenhum professor e nenhuma banca têm a intenção de pregar valores e exigir uma conduta ou um ponto de vista específico, unilateral, dos cidadãos, ao contrário das igrejas; o que se busca é o conhecimento. Pois esse é o papel dos educadores: apontar as fontes de conhecimento, de produção científica, a fim de atualizar e inserir o educando na realidade do dia a dia. Não são descartadas as concepções do indivíduo como religioso e sua formação familiar, muito pelo contrário. O que é descartada é a visão unilateral, a bitolagem, o preconceito e censura de temas com demandas populares. Até mesmo para descartar uma ideologia, para renegá-la ou mesmo invalidá-la é necessário ter conhecimento do objeto que se critica. Esse conhecimento não deveria ser considerado nocivo, ou uma ameaça, se as concepções são condizentes, adequadas, sólidas e bem embasadas. Se o que se acredita for a postura correta e adequada para a atualidade em que está inserida, se não for algo inadequado e fraco de bom senso. Atualizem suas mentes e não tenham medo do novo e do conhecimento, porque o novo sempre vem, concordando ou não, achando-o válido ou não. E até mesmo para saberem posicionar-se contra ele, é de extrema importância que as pessoas fiquem atualizadas e que tenham conhecimento sobre essas ideologias. Não precisam concordar, mas é necessário que conheçam, sim. Afinal, a filosofia, a sociologia, a antropologia e a história nunca param de produzir, é preciso acompanhá-las para saber onde se está e onde se colocar. E-mail: [email protected]

“A insegurança no campus e na sociedade é um tema sério e urgente”

Correndo o risco de ser mal interpretado e até de sofrer com as consequências do que vou postar, acho que temos de tirar lições deste episódio por qual passa a Univer­sidade Federal de Goiás

“O ‘black power’ do Eixo Anhanguera deixou meu dia mais leve”

VALÉRIA RAMOS Na sexta-feira, 3, estava eu vindo para o trabalho como de costume. Levantei de madrugada, fui para o ponto. Esperei, sem novidades, e tomei o ônibus também assim, mesmo porque não me sentei — porque sentar-me seria novidade! De Trindade até a Praça A, em pé, vim ouvindo conversas entre pessoas que não eram nada que chamasse tanto a atenção, a não ser pelo burburinho que incomodam um pouco quando se vai trabalhar morrendo de sono. Desci na Praça A para trocar de veículo e pegar agora o Eixo Anhanguera para chegar ao destino. Junto comigo entrou um casal. Uma senhorinha e um jovem senhorzinho. Alto, afrodescendente, forte, com cabelo “black power” (lindo por sinal) e muito, mas muito bem-humorado mesmo, levando em consideração o horário: eram 7 horas da matina, numa sexta-feira. Estar assim de ônibus cheio é para levantar o astral do resto da turma. Inclusive o meu. Assim que entrou, começou a conversar com essa senhora que estava com ele. Pareciam ser amigos de longa data. Em suas palavras: “Cara, minha mãe quer que eu corte o cabelo. Eu não queria cortar. Mas ela está falando tanto, que resolvi cortar...” A senhora sorriu e ele continuou: “Fui ali num salão na Avenida Goiás para saber o preço. O moço disse: ‘é (sic) 20 reais o corte. Pensei: meu Deus do céu, se é (sic) 20 um cabelo normal, o meu será de 25 reais pra frente”. Isso já foi suficiente para chamar minha atenção, olhar o cabelo dele e sorrir para ele, que de forma muito delicada sorriu de volta. E continuou: “Cara, falei para minha mãe; ô mãe, não vou cortar o cabelo mais não, Deus me livre, mãe. Vinte e cinco reais dá pra comprar um pacote de fraldas, num vou cortar, não!” Aí eu não resisti, soltei uma risada caprichada e quase todo o Eixo também. Todo mundo olhou para o rapaz e sorriam levemente. De repente, a senhora que estava com ele disse: “E eu, que tenho três filhos? Tenho de pagar para cortar dos três!” Foi demais. Ele se virou para ela: “Deus me livre, cara! Sessenta reais? Dá para pagar meu aluguel!”. Nesta hora foi impossível não entrar na conversa — eu era a que mais estava próxima dele —, e brinquei: “É, ao menos com o talão de água ou de luz 60 reais dá para ajudar, não é?” E ele: “Tá doído, mas é nunca que vou cortar o cabelo, deixa assim mesmo, está bom demais. Sessenta reais dá (sic) para água, luz, aluguel, fraldas...”. E falava tudo isso o tempo todo sorrindo. E não havia que não sorrisse! Então, desci no meu ponto e ele continuou a viagem. E eu fiquei a pensar naquela história toda e refletindo como o bom humor pode salvar o dia da gente. A vida da gente. Numa sexta-feira, quando o cansaço é visível, apesar de estar no Eixo lotado, meu dia ficou mais leve, mais agradável, mais digno. Não que eu estivesse mal-humorada, não é meu forte ficar de cara feia. Mas aquilo ajudou a desanuviar o pensamento da semana corrida. Fiquei pensando: é claro que 25 reais, ou mesmo os 60 reais, não vão resolver suas necessidades com filho pequeno, como no caso dele, que falou mais de uma vez nas fraldas, mas certamente farão diferença no orçamento nesse momento de crise. E afinal, que mal há em ter cabelos grandes? “Black power” é o máximo! Ele não está incomodado com a cabeleira e muito menos incomodando alguém com aquela “juba” toda. Enfim, foi um dia que começou e terminou feliz e leve —apesar de todos os pesares. Valéria Ramos é secretária.