Por A.C. Scartezini

Encontramos 258 resultados
Temer pode ser a ponte para reduzir o isolamento de Dilma no poder

A dúvida está no temperamento histórico da presidente: até quando ela aceitará a partilha de poder?

Entre trapalhadas, vingou a ideia de Lula para a articulação política

[caption id="attachment_32708" align="alignleft" width="620"]Lula consegue, melhor que Dilma, enxergar o futuro do PT no governo | Ricardo Stuckert/ Instituto Lula Lula consegue, melhor que Dilma, enxergar o futuro do PT no governo | Ricardo Stuckert/ Instituto Lula[/caption] A presidente Dilma amanheceu no Planalto, na segunda-feira, 6, disposta a resolver de uma vez dois problemas: a troca do amigo e companheiro gaúcho Pepe Vargas na Se­cretaria de Relações Institu­cionais por alguém do PMDB; e uma nova colocação para o secretário demitido. A semana prometia barulho. A posse do novo ministro da E­ducação, Renato Janine Ribei­ro, naquela manhã seria o mo­mento para outras mexidas na equipe. Na quinta-feira, 9, a CPI da Petrobrás na Câmara interrogaria o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Neste domingo, novos protestos nas ruas contra Dilma pelo país todo. Na véspera, domingo, 5, um artigo da repórter Vera Rosa, com fontes retiradas do bolso do colete, como os antigos de­finiam soluções que surgiam en­tre amigos, plantadas no predominante PT de São Paulo, de onde Lula reina sobre o partido. Renovavam-se na matéria as criticas do ex-presidente ao prestígio que o Planalto concede ao chefe da Casa Civil, companheiro Aloysio Mercadante, o real articulador político do governo. Mas nem sempre feliz no sucesso de suas formulações, como o embate permanente com o PMDB. Lula insistia no esvaziamento de Mercadante e na remoção de Pepe Vargas como articulador político no varejo do dia a dia e a quem o ex criticava por falta de envergadura, experiência e maturidade. Ainda estava fresco na memória geral o novo despencar do prestígio de Dilma em pesquisas. O ex sugeria que a função, se era para ficar no PT, deveria ser do companheiro Jaques Wagner, acomodado como ministro da Defesa que não apreciaria dar expediente no Planalto neste momento. Porém, o melhor negocio seria entregar a articulação ao PMDB, principal aliado e em litigio com o palácio. Recomendava a transferência do peemedebista gaúcho Eliseu Padilha da Secretaria de Aviação Civil para a de Relações Ins­titucionais, de Vargas. Além de destacar-se na articulação política, Padilha é amigo do vice-presidente Michel Temer, o que facilitaria o trânsito dele no PMDB. Na manhã de segunda-feira, Dilma, ansiosa, aproveitou a presença de Padilha na posse do novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, e o convidou à troca de pouso: sair da Aviação Civil e desembarcar nas Relações Institucionais. Ao lado dos dois, estava Michel Temer. Prometeu a Padilha autonomia nas negociações com o Congresso. O secretário se colocou “à disposição” da presidente, mas não assumiu compromisso naquele momento. Preferiu sentir, antes, o pulso do PMDB. Os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha não se animaram. Eles tinham outros interesses quanto a ministros. Na terça-feira, Padilha agradeceu o convite, mas o dispensou. Achou melhor continuar onde estava, na Aviação Civil. A cúpula do partido previa que Padilha, se aceitasse a troca de lugar, entraria em choque com o antipeemedebista Mercadante numa disputa por espaço. No fim do dia, a presidente se voltou à opção pelo vice Temer, que se recusou a ser secretário. Veio então a ideia de esvaziar as Relações Institucio­nais e montar uma coordenação na vice-presidência. Não houve oposição na cúpula do PMDB, onde a escolha de Temer não perturbava a ordem pré-existente. O senador Calheiros continuaria a defender a permanência do amigo Vinicius Lages no Ministério do Turismo. Enquanto o deputado Cunha continuaria a trabalhar para colocar no lugar o ex-colega Henrique Alves, antigo presidente Câmara.

A patética demissão de Pepe Vargas montou uma comédia no Planalto

[caption id="attachment_32706" align="alignleft" width="620"]Pepe Vargas acabou se tornando o centro de mais uma trapalhada de Dilma | Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados Pepe Vargas acabou se tornando o centro de mais uma trapalhada de Dilma | Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados[/caption] Uma comédia como aquela era inédita nos 55 anos que o Palácio do Planalto comemora no 21 de abril, aniversário da mudança da capital. O companheiro Pepe Vargas pediu demissão como secretário de Relações Institucio­nais quando soube que o posto de foi oferecido ao vice Michel Temer. A presidente Dilma pediu a Vargas que ficasse frio porque, em compensação, seria nomeado secretário de Direitos Humanos. Iria para o lugar da companheira Ideli Salvatti, que não sabia de nada. Então, Vargas convocou a entrevista coletiva para anunciar a nomeação dele próprio. “A Dilma me convidou”, comunicou aos repórteres com a intimidade de companheiros do PT. A presidente soube e mandou abortar a coletiva, dentro do palácio. Vargas foi a um canto, conversou por telefone com a chefe. Retornou à mesa de entrevista e anunciou a novidade mais recente: — Não fui nomeado ministro. Era a confirmação de mais uma trapalhada de Dilma, agravada por Vargas, o simplório. Então, os relógios marcavam quatro e meia da tarde de quarta-feira. Às oito e meia da noite, Ideli Salvatti, aquela que não sabia de nada antes da entrevista do sucessor, pôde confirmar sua demissão numa nota do palácio: — A presidenta anunciou o nome de Pepe Vargas para a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

A presidente discursou como se estivesse sozinha na chefia do governo

[caption id="attachment_32702" align="alignleft" width="620"]Presidente Dilma Rousseff: será ela acometida do mesmo destino de Fernando Collor, por um caminho diferente? | Foto: Agência Brasil Presidente Dilma Rousseff: será ela acometida do mesmo destino de Fernando Collor, por um caminho diferente? | Foto: Agência Brasil[/caption] Não me deixem só. Eu preciso de vocês. Fernando Collor, ex-presidente, em cadeia nacional, em junho de 1992 Quase 23 anos depois, a presidente Dilma, exposta à mesma pressão pelo impeachment que derrubou Fernando Collor, isolou-se da participação popular em sua gestão. “Eu tenho certeza de que a luta pela recuperação da Petrobrás, é minha, é do meu governo”, discursou na segunda-feira e completou: — E eu tenho certeza de que interessa a todo o povo brasileiro. O disparate da presidente está no uso da primeira pessoa do singular na referência a uma disposição do governo em sanear a petroleira, seguida do reconhecimento de que se trata de algo do interesse popular. Sendo algo de interesse geral, Dilma poderia empregar a primeira pessoa do plural, nós. Mas não era o caso. A ênfase inicial deixou claro que a erradicação do petrolão é um caso pessoal dela. Assim como o governo é apenas da presidente. Três dias depois, Dilma, em nova fala, programada para Duque de Caxias, no Rio, onde se instalou a refinaria Reduc, retomou o tema do petrolão. Assim como, na segunda-feira, aproveitou-se da posse do novo ministro da Edu­cação, Renato Janine Ribeiro, para enxertar a Petrobrás em seu discurso de ocasião. “A Petrobrás está de pé”, discursou a presidente em tom vibrante de indignação com quem denuncia a corrupção sobre a petroleira, numa inauguração de moradias populares em Duque de Caxias, e foi em frente: — Ela limpou o que tinha de limpar. Tirou aqueles que tinha de tirar lá de dentro e que se aproveitaram das suas posições para enriquecer os seus próprios bolsos. Em outro momento, Dilma se gabou de que “nós investimos R$ 1,6 bilhão na Reduc”. A presidente não mencionou quem eram os ‘nós’, mas se trata daquela refinaria onde numa tacada o então diretor de serviços da petroleira, companheiro Renato Duque, arrecadou R$ 5,4 milhões para o PT. O suborno foi pago pela empreiteira Galvão Engenharia segundo planilhas apresentadas pelo delator Shinko Nakandakari, um dos 11 operadores de propina na Diretoria de Serviços. Hoje, ele está preso, como Renato Duque, antigo tesoureiro do PT, depois indicado pelo Planalto para a diretoria da estatal. No mais, o juiz federal Sérgio Moro, encarregado do petrolão, atestou que o pagamento de propinas a Duque continuou no segundo semestre do ano passado, mesmo depois do inicio da Operação Lava Jato, pela Polícia Federal, em março de 2013, com Duque já preso. “É assustador”, registrou Moro. Quanto à presidente Dilma, o discurso de quinta-feira não menciona o momento em que a petroleira “limpou o que tinha de limpar” ou “tirou lá de dentro aqueles que tinha de tirar” - ladrões de dinheiro público. Não ofereceu algum exemplo. No entanto, o tema poderia render uma cadeia nacional de televisão e rádio, como aquela de Fernando Collor, que caiu pelo impeachment. Ficou sozinho. Quem sabe se os protestos nacionais deste domingo não a motivam?

A Lava Jato diversifica as ações e avança sobre novas áreas do governo

[caption id="attachment_32699" align="alignleft" width="620"]Se continuar assim, PF acabará por encher o “saco” com suas descobertas | Antonio Cruz/ABR Se continuar assim, PF acabará por encher o “saco” com suas descobertas | Antonio Cruz/ABR[/caption] Com pouco mais de um ano de atividade, a Operação Lava Jato amplia a ação da Polícia Federal e penetra em novas áreas do governo Dilma administradas pelo PT desde Lula, como se revelou na sexta-feira com a Caixa Econô­mi­ca Federal e o Ministério da Saúde. Ambas, a CEF e o ministério, anunciaram no mesmo dia que se autoinvestigarão. Pode ser, a PF está abrindo a picada. Mas a iniciativa poderia ser dos dois órgãos federais, surpreendidos com a informação pública de que se repete neles o esquema do mensalão. O governo gasta dinheiro em publicidade, grana cujo excedente fica entre políticos, como o bônus com que agências de propaganda, agradecidas, devolvem aos clientes. No mensalão, o bônus deveria ser do Banco do Brasil, mas não chegava ao caixa do freguês. O dinheiro ficava com o então diretor de marketing do BB, companheiro e mensaleiro Henrique Pizzolato, que desviava o dinheiro em outras direções, como o PT. No caso Lava Jato, agências subcontratavam produtoras e distribuíam a grana entre elas, de onde chegavam a políticos. Assim, havia um canal que abastecia o velho e conhecido ex-deputado do PT paranaense André Vargas, cassado pela Câmara com apoio do partido, que o expulsou. Agências abasteciam produtoras controladas por Vargas, que participava do lucro extra. Era um negócio em família, pois André Vargas voltou a ser preso na sexta, agora na companhia do irmão Leon Vargas. Outro ex-deputado preso agora é o baiano Luiz Argolo, que começou no PP e hoje chegou ao Solidariedade. Ele tinha a própria mãe como laranja. Além disso, Argolo não foi preso sozinho. Levou consigo a secretária Eliá Santos da Hora. Do grupo, ou quadrilha, foi pre­so ainda o publicitário Ricardo Hoffmann. O terceiro ex-deputado preso é outro velho conhecido desde o mensalão, que o condenou, o pernambucano Pedro Corrêa, do PP. Como mensaleiro, ele já vinha cumprindo prisão em regime semiaberto.

No sufoco, Dilma engoliu sapo, vomitou borboleta e revelou o novo jogo de cintura

Num exercício de autocontrole, a presidente domina o impulso de recriminar Joaquim Levy e preserva o ajuste fiscal

Se a presidente repreendesse Levy, ambos perderiam autoridade para tocar o ajuste

[caption id="attachment_32186" align="alignnone" width="620"]Ministro Joaquim Levy: “Mal interpretado”, segundo a presidente  | Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil Ministro Joaquim Levy: “Mal interpretado”, segundo a presidente | Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil[/caption] A última pesquisa do Ibope aponta a continuidade da queda do prestígio da presidente Dilma e amplia sua condição de refém do ajuste fiscal para o bem e para o mal. Assim, ela paga pelos desgastes com os sacrifícios impostos pelas mudanças nas contas públicas. Ao mesmo tempo, o resgate da presidente depende do sucesso do ajuste. Como condutor da mudança, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sequestra Dilma, queira ou não o PT com os movimentos sociais que controla. O que ocorreria se Dilma repreendesse o ministro porque ele criticou o confuso processo de decisão presidencial ao realizar a palestra perante ex-alunos da Universidade de Chicago? Se a zanga ocorresse, os problemas da presidente se agravariam na gestão da crise. Haveria perda de autoridade em mais de uma esfera de poder. Ela própria e o ministro se enfraqueceriam politicamente diante do Congresso e do mercado, sem falar no Executivo. Dilma seria ainda mais vulnerável diante dos congressistas. Como seria aquela conversa do ministro, dois dias depois da divulgação da palestra, com o Senado, aonde foi negociar o adiamento, bem sucedido, da votação do projeto que manda regular, em 30 dias, a aplicação do novo indexador das dívidas estaduais e municipais com a União – que ficaria com o prejuízo? Qual seria o moral de Levy diante dos senadores? O fato é que o ministro convenceu os senadores a deixar para o próximo ano a sangria federal. Agora o Senado deve aprovar uma emenda ao projeto, de modo que os devedores continuem a pagar pelo indexador atual até 2016. Então, a União devolveria o dinheiro pago a mais. Começa que, para valer, a recriminação teria de tornar-se pública. O modelo clássico adotado na atual gestão do Planalto é aquele vazamento em que alguém do palácio passa à imprensa a notícia de que a chefe se irritou com alguém. No caso de Chicago, coube ao chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, passar à frente o recado de sempre. Porém, em seguida Dilma se redimiu, recuou – coisa que não aprecia nem um pouco. A própria amorteceu o choque a viva voz, na entrevista a repórteres na paraense Capanema. Antes, ela mordeu, depois soprou. Mostrou-se compreensiva com a fala do ministro, a portas fechadas no auditório com antigos estudantes de Chicago, sendo ele também ex-aluno. No final de fevereiro, Dilma recorreu à repreensão clássica em outro choque com Joaquim Levy. Ocorreu quando o ministro questionou a eficácia das desonerações de empresas com que a economista Dilma Rousseff conduziu a política econômica de seu governo. No caso, ela se encarregou da recriminação: — O ministro foi infeliz. Na época Levy conversava com outras pessoas e referiu-se a Dilma indiretamente. “Você aplicou um negócio que era muito grosseiro”, comentou sobre a desoneração da folha de pagamento. “Essa brincadeira nos custa R$ 25 bilhões por ano. Vários estudos nos mostram que isso não tem protegido o emprego”, avançou, impiedoso. “Tem que saber ajustar quando não está dando resultado”, duvidou do discernimento da presidente e arrematou que ainda não foi possível eliminar a desoneração, mas apenas reduzir a carga. “Não deu os resultados que se imaginava e mostrou-se extremamente caro. A gente não está eliminando. Está reduzindo.”

A mudança no comportamento foi de caso pensado: pesquisa Ibope estava sobre a mesa

A última pesquisa de opinião do Ibope, paga pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), voltou da coleta nas ruas no dia 25, uma quarta-feira. O resultado foi divulgado exatamente uma semana depois. Porém, a presidente Dilma conheceu os números bem antes, no último fim de semana. No domingo passado, quando vazou na imprensa a conversa do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com ex-alunos da Universidade de Chicago, em São Paulo, a chefe já sabia que, em cada 100 brasileiros, apenas uma dúzia estava satisfeita com o seu governo, como atestou o levantamento. Determinou, então, a repreensão a Levy, a cargo do chefe da Casa Civil, companheiro Aloizio Mercadante,. Depois, a presidente pensou melhor e conscientizou-se de que era um caso para sua intervenção pessoal, sem machucar Levy e o ajuste fiscal. Preparou-se para enfrentar os repórteres no Pará, no dia seguinte. O comportamento de Merca­dante, por sinal, comprova a fragilidade da posição do governo Dilma perante o país. A cada pesquisa negativa que se sucede, o chefe da Casa Civil responde a repórteres que a solução é “trabalhar, trabalhar, trabalhar.” Ele não consegue dizer algo mais do que isso. Poderia treinar outra coisa. É assim a assessoria mais íntima da presidente, que ela renovou em parte para o segundo mandato no palácio. Trouxe dois gaúchos, sendo ela agauchada. Ambos rudes no pensar. O secretário-geral, Miguel Rossetto, não conseguiu enxergar nos protestos de rua de 15 de março algo mais do que a presença de eleitores do presidenciável Aécio Neves. O secretário de Relações Institucionais, Pepe Vargas, não tuge nem muge. Agora chegou o novo secretário de Comunicação Social, Edinho Silva, paulista ligado a Lula e capaz de ser servir a uma troca de recados entre a presidente e o ex, se Dilma continuar interessada em não manter uma convivência mais próxima com o antecessor. Edinho chega como favorito, mas isso pode ser momentâneo. Antes mesmo de assumir na terça-feira, o novo comunicador foi chamado a juntar-se a uma reunião do conselho político da presidente. Na quinta-feira, véspera dos feriados, foi o único a constar da agenda de Dilma, que não foi ao expediente no Planalto. Fi­cou no Alvorada, onde a agen­­da pode ser apenas uma forma de simular trabalho. É a equipe que, no próximo domingo, deve estar ao lado da presidente, na residência oficial, para acompanhar e comentar as novas manifestações de rua pelo país, agora embaladas pela progressão da rejeição à rejeição de Dilma. Mais uma oportunidade para Rossetto enxergar nas ruas alguém mais do que eleitores tucanos.

O novo secretário de Comunicação desafia as manifestações de rua de domingo

Em cada 100 brasileiros, 74 rejeitam o governo da presidente Dilma, conforme a pesquisa do Ibope. É uma informação que torna o governo vulnerável, sujeito à perda de estabilidade diante do apelo popular ao impeachment da presidente que alimenta os protestos de rua sobre o mapa brasileiro, como os do próximo domingo. “Não é panelaço que vai fazer a presidente Dilma se intimidar”, desafiou o secretário de Comuni­ca­ção Social, Edinho Silva, às repórteres Marina Dias e Natuza Nery, em entrevista publicada na quinta-feira. A pergunta era restrita. Apenas queria saber se as manifestações intimidam, sem abordar outros reflexos sobre o governo. A resposta do companheiro Edinho aceitou o foco. “Quem já passou por tudo o que ela já passou... não é uma crise conjuntural que vai intimidá-la”, defendeu a coragem de Dilma. “Ela já colocou sua integridade física a serviço desse projeto”, referiu-se à luta na clandestinidade, hoje convertida na defesa do projeto de poder eterno ao PT. A posição do secretário sugere que a comunicação será aplicada ao confronto por parte de quem não se intimida com nada. Mas, ao mesmo tempo, ele afirmou que o “enfrentamento só interessa à oposição”, a propósito do desgaste do PT com a corrupção no governo. Aí, o comunicador se referiu a tra­balho da Secretaria de Co­mu­nicação como uma necessidade de o palácio se contrapor exibindo a propaganda do governo com mais energia do que as aversões que chegam da oposição em geral, o que inclui as ruas: — Os fatos precisam falar mais alto e serem mais sólidos do que as narrativas. Acredito que, no médio prazo, serão (sic). Qual fato existe contra o governo Dilma? Tempo há para essa reversão no médio prazo, se não ocorrer acidente de percurso ao longo dos quatro anos de mandato à frente da presidente. Com a agitação popular de junho de 2013, a popularidade de Dilma despencou, mas ela conseguiu se reeleger dois anos depois. Hoje, há uma diferença considerável entre 2013 e 2015 quanto à qualidade do movimento popular. Algo assim como a disparidade entre o vulto do mensalão e a dimensão do petrolão. Diferença que se alarga com a anexação de outros casos de corrupção que surgem diariamente.

Os protestos deste ano corroem as bases populares de apoio tradicional ao PT

Em cada 100 brasileiros, 76 consideram que o segundo mandato da presidente Dilma está pior do que o primeiro, conforme a pesquisa do Ibope. O governo é ruim ou péssimo para 64%. Entre esses, 55%  também consideram que serão ruins ou péssimos os anos que restam a Dilma. Entre os mais pobres, com renda mensal na família até um salário mínimo, 60% pensam que o governo é ruim ou péssimo.  No meio dos menos escolarizados, 56% julgam o governo ruim ou péssimo – no Nordeste, eles também são maioria, com 55%. Todos eles são segmentos que votaram maciçamente em Lula e depois duas vezes em Dilma, em 2010 e 2014. O governo Dilma era ótimo ou bom para 56% no início do mandato. O grupo perdeu apenas um ponto em junho de 2013 e foi a 55. Em dezembro, depois da reeleição, eram 40%. Em março despencaram para 12. A gestão era ruim ou péssima para 5% no início do mandato. Depois, naquele mesmo período, foi a 50, 31, 27 e 64% em março. O grupo que considera o governo regular tinha 27% no início e depois foi a 37, 32 e chegou a 23%. Confiança no governo.  Os que confiam eram 74% no início, caíram a 45 em junho de 2013, foram a 51 em dezembro e estavam com 24% em março. Ao que não confiam eram 16% no início, subiram a 50 em junho de 2013, desceram a 44 em dezembro e caíram para 24% em março.

O novo escândalo na Receita ameaça o reinado do petrolão como o maior roubo

Órgão de recursos junto à Receita pode ter desviado R$ 19 bilhões com o perdão ou redução de multas a supersonegadores

A conspiração a favor do PL e contra o PMDB agitou a noite de terça no Planalto

Na noite de terça-feira, o vice-presidente Michel Temer, líder do PMDB, discou o número do ramal do che­fe da Casa Civil, Aloizio Merca­dante, seu vizinho no Planalto para uma reclamação. “Este tipo de coisa só atrapalha”, protestou o vice porque na véspera entrou no Tribunal Su­pe­rior Eleitoral o pedido de recriação do PL. “O ambiente ficou muito ruim no partido”, emendou Temer que a insistência na criação de um novo partido governista para buscar a adesão de peemedebistas insatisfeitos aprofunda o ambiente de revolta no PMDB contra a presidente Dil­ma. Mercadante respondeu que o go­verno não tem a ver com a volta do PL. Então, o chefe da Casa Civil discou pa­ra o patrono da ressureição do novo par­tido antigo, Gilberto Kassab, para falar da irritação de Temer e senadores do PMDB que, naquele momento, estavam ao lado do vice no anexo do palácio. Mercadante pediu que ele acalmasse Temer. Responsável pela volta à vida também do PSD, Kassab ocupa agora o Mi­­nistério das Cidades, nomeado por Dilma com a missão de colocar a vocação criadora a serviço do extermínio do PMDB com novas legendas confiáveis, como o PL, para continuar a atração de aliados deslocados em suas legendas originais. Em seguida, com movimentos sucessivos e agitados como uma dança de quadrilha, Mercadante discou de volta a Te­mer, que se recusou a atendê-lo. Veio en­tão a ligação de Kassab. O vice atendeu e re­passou o telefone aos senadores que estavam ali, o presidente Renan Calheiros e o líder Eunício Oliveira. Com eles, o mi­nis­­­tro de Minas e Energia, Eduardo Braga. O ministro procurou explicar que o palácio não era responsável pelo pedido de registro do PL, que entrou no Tribunal Superior Eleitoral na véspera. A recriação do partido seria um processo autônomo entregue a pessoas que decidiram, por conta própria, o momento de ir ao tribunal pedir o registro. Se era assim, por que os burocratas do PL esperaram para ir ao TSE apenas na segunda, antes que a presidente sancionasse, no dia seguinte, a nova lei que restringe a criação de partidos? Uma voz do Planalto avisara a Kassab que a sanção sairia no dia seguinte porque era o último dia de prazo para alguma providência no caso. Por que a sanção apenas no fim do prazo? Para surpreender o PMDB com uma manobra palaciana. Quando souberam da sanção aqueles pemedebistas correram a Temer, indignados com a falta de aviso prévio. Ainda precisaram esperar pelo dia seguinte, quarta-feira, quando o texto sancionado seria publicado no Diário Oficial. Nem o vice-presidente conheceu o texto antes da publicação. O objetivo do PMDB e da oposição era evitar que o PL nascesse para, em seguida, fundir-se com o PSD e compor uma legenda forte. Por isso o projeto estabeleceu que partido novo só poderia se fundir com outro depois de cinco anos de vida. Como o PL entrou antes no TSE, escaparia dos cinco anos. Tinha mais. Dilma vetou outro objetivo estratégico do projeto. O dispositivo abria o prazo de 30 dias para parlamentar mudar de um partido antigo para outro resultante de fusão sem perder o mandato. A ideia era preservar a hipótese de uma fusão entre o PTB, o DEM e o PMDB. Agora o veto deve cair no Congresso, com nova derrota para Dilma. Tudo bem, a lei é casuística. Veio da oposição para bloquear a ação de Kassab solicitada por Dilma por inspiração da criatividade também casuística de Mercadante. Autor do projeto que se tornou lei, o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho, de Pernambuco, alegou legítima defesa: — O Kassab foi o exterminador da oposição. Ele tirou 17 deputados do DEM. Agora quer ser o exterminador dos aliados do governo Dilma.

A vingança peemedebista deve acontecer antes da Sexta-feira Santa e da Páscoa

[caption id="attachment_31674" align="alignnone" width="1918"]Gilberto Kassab: o criador de partidos para secar o PMDB | Foto: André Borges/ Agência Brasília Gilberto Kassab: o criador de partidos para secar o PMDB | Foto: André Borges/ Agência Brasília[/caption] Antes que a quaresma termine, o PMDB promete castigar a presidente Dilma pelo pecado que comete ao oferecer o paraíso ao novo PL do ministro e semeador de partidos governistas Gilberto Kassab e mandar os peemedebistas ao inferno. Agora, eles não querem perdão ao governo. Terça-feira, uma semana depois da discussão noturna no Planalto sobre o favorecimento do governo ao PL, o presidentes do Senado, Renan Calheiro, pretende demonstrar que a virtude ainda está na força do PMDB, que o novo partido pretende secar ao fundir-se com o PSD também kassabiano para atrair quadros peemedebistas. A promessa é colocar em votação dois projetos que arrombam o orçamento federal. Um deles reduz a dívida de Estados e municípios com a União ao mudar o indexador que corrige o valor do débito. Se aprovado, vai à sanção presidencial. Se houver veto, a interdição poderá cair no Congresso. O outro projeto permite o perdão a incentivos fiscais concedidos no passado pelos Estados. Bastaria a anulação receber a aprovação do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), formado pelos secretários estaduais da Fazenda com a União. Se aprovado, irá à apreciação da Câmara, onde encontrará à espera o presidente Eduardo Cunha. Por ironia, no mesmo dia deve estar no Senado o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para defender a aprovação do ajuste fiscal do governo. Se votados os projetos, os senadores terão rompido um acordo com a área econômica do governo para deixar essas matérias para discussão num contexto que envolva o pacto federativo, incluindo a forma do pacto federativo.

Lula não queria, mas a ação política de Mercadante continua ativa no palácio

[caption id="attachment_31672" align="alignnone" width="620"]Ministro Aluizio Mercadante: Lula não quer, mas ele continua forte | Foto: José Cruz/Agência Brasil Ministro Aluizio Mercadante: Lula não quer, mas ele continua forte | Foto: José Cruz/Agência Brasil[/caption] Como se viu no bastidor da sanção presidencial ao projeto sobre no­vos partidos, a atuação política do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, continua ativa no Planalto. Ele serviu, então, de ponte entre o patrono do PL, Gilberto Kassab, o vice Michel Temer e ou­tros peemedebistas irritados com o trabalho do governo a favor do PL. Não há sentido na versão difundida por amigos de Lula a respeito de um bloqueio da presidente Dilma à articulação política pelo companheiro Mercadante como insiste o ex-presidente. Ele também se frustrou na recomendação à sucessora para devolver o chefe da Casa Civil ao Ministério da Educação, vago com a saída do aliado Cid Gomes. No meio da semana, Mercadante ofereceu uma prova de que o seu trabalho ainda vai além da área administrativa do governo, ao contrário do que sugeriu Lula. Contestou a informação de que Dilma prometeu ao ex, fazer uma revisão no arrocho fiscal e, com isso, suavizar o prejuízo dos trabalhadores com as novas medidas. “O governo tem absoluta prioridade e total compromisso com o ajuste fiscal”, assegurou Merca­dante. “Não procedem as informações de que, seja em relação ao presidente Lula ou ao Partido dos Trabalhadores, o governo esteja flexibilizando o ajuste”, emendou numa fase torta para garantir que o arrocho continua onde estava. Lula acredita que aquela informação partiu do companheiro e senador gaúcho Paulo Paim, que, na véspera da publicação, o procurou, em São Paulo ,para conversar sobre o assunto. No dia em que a notícia saiu em jornal, o ex comentou com amigos que não é comum receber visita de Paim, que ameaça deixar o PT se o arrocho ficar como está.

A mídia paga será a prioridade da comunicação do governo, agora em nova mão

O novo secretário de Comunicação Social da Presidência, companheiro Edinho Silva, foi o tesoureiro da campanha pela reeleição da presidente Dilma no ano passado. Isso significa que o professor de ciências sociais Edinho também sabe lidar com coisas bem mundanas como o dinheiro. Representa ainda uma definição de identidade da secretaria, até então dirigida por jornalistas tendo como foco principal a imprensa. Agora, define-se o foco na publicidade como forma de popularizar o governo, em especial a presidente. Em bom português, a prioridade se torna a mídia paga, mesmo que Edinho não seja publicitário. Em meados de março, o presidente do PT, jornalista Rui Falcão, reuniu-se em Brasília com um grupo de deputados petistas mais influentes. Em pauta, a possibilidade de o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, ser convocado pela CPI da Petrobrás, o que acabou acontecendo, mas ainda sem data marcada. Os deputados se queixaram da falta de influência do PT na CPI por causa do alinhamento do PMDB com a oposição. Disseram ainda que outro fator adverso é o estímulo da imprensa à investigação de denúncias. No fim da conversa, o jornalista Falcão sorriu para os companheiros como quem diz que aquilo iria mudar. Todos entenderam que a mídia paga pelo governo iria entrar em campo com a disposição de anular os danos à imagem do governo causado pelo jornalismo espontâneo e independente. Uma das saídas pode ser o pagamento de publicidade a veículos condicionado a boa presença no noticiário considerado espontâneo. Um dos que entenderam essa guinada, agora a ser conduzida por Edinho, ex-deputado estadual em São Paulo ,foi o líder do PSDB no Senado, o paulista Aloysio Nunes Ferreira. Entendeu e pensou em promover um debate na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado para discutir a comunicação do governo. A ideia era chamar o então secretário Thomas Traumann para explicar aquele documento da secretaria que denuncia o “caos político” no governo. Ele concordou em comparecer, mas pediu que sua presença fosse marcada para depois da Semana Santa. Então pode ser na próxima. O documento levou à substituição de Traumann por Edinho. O texto denunciava a “comunicação errática” do governo, realizada por amigos que atuavam como “robôs” pagos para apoiar o governo nas redes sociais. Desde o início da gestão Dilma, os blogueiros amigos reclamam compensação, que pode vir como propaganda nos blogs. Agora, na era Edinho, o tema pode interessar ainda mais ao debate do líder Aluysio Nunes, antigo guerrilheiro contra a ditadura que se candidatou a vice-presidente na chapa do tucano Aécio Neves, derrotada pela reeleição da presidente Dilma.