O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, admitiu que, apesar de haver militares dispostos a um golpe de Estado, as Forças Armadas como instituição não aderiram à ideia. Ele reconheceu erros na gestão do acampamento em frente ao QG do Exército e criticou o Poder Judiciário por não ter agido mais cedo para dispersar os extremistas. As afirmações foram feitas ao jornal O Globo, que publicou a entrevista na sexta-feira, 5.

“Por que a Justiça não determinou que se tirasse? Por que tinha que ser um ato imposto pela Defesa? A Justiça não tirou, só depois do dia 8. O ministro Alexandre de Moraes mandou tirar, poderia ter mandado dias 7, 6, 5… Não poderia partir de nós. Poderíamos ter precipitado uma cizânia. Faria tudo de novo do jeito que eu fiz. Por ter sido feito daquela forma é que hoje nós vivemos nesse ambiente de tranquilidade nas Forças”, enfatizou o ministro.

Múcio detalhou sua chegada ao Ministério da Defesa em dezembro e os desafios iniciais para estabelecer contato com os comandantes das Forças Armadas. Ele relatou as trocas de comando nas três forças e como a posse do dia 1º de janeiro transcorreu sem problemas. No entanto, ele salientou que a ameaça representada pelos manifestantes em frente aos quartéis foi subestimada.

Quando os ataques começaram no dia 8, Múcio contou que almoçava e teve de agir rapidamente. Ele descreveu a situação como caótica, sem líderes claros para negociar entre os manifestantes, que incluíam desde crianças até idosos. Múcio também relatou sua interação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no dia dos ataques e enfatizou a surpresa e a indignação do presidente.

“O presidente estava querendo saber o que houve. Ninguém sabia de onde estava vindo, quem estava por trás. Todo mundo estava surpreso. O presidente estava zangadíssimo”, disse Múcio.

Garantia da Lei e da Ordem
Sobre a possibilidade de emitir um decreto de garantia da lei e da ordem (GLO), Múcio mencionou que isso foi considerado, mas descartado pelo presidente, devido ao medo de que as Forças Armadas pudessem aproveitar para realizar um golpe. Ele enfatizou que, apesar de alguns membros das Forças Armadas poderem desejar um golpe, a instituição como um todo não estava inclinada a tal.

“Podia ser até que algumas pessoas da instituição quisessem, mas as Forças Armadas não queriam um golpe. É a história de um jogador indisciplinado em uma equipe de futebol: ele sai, a equipe continua. No final, me parecia que havia vontades, mas ninguém materializava porque não havia uma liderança”, pontuou na entrevista a O Globo.

Múcio também falou sobre a reunião tensa no QG do Exército na noite de 8 de janeiro e a subsequente demissão do comandante do Exército, Júlio Cesar de Arruda. “No dia 20 de janeiro, surgiram as notícias de que o tenente-coronel Mauro Cid estava voltando. As coisas começaram a ficar tensas outra vez, porque estava destinada a ele uma promoção para um comando em Goiás, uma base importante do Exército. No sábado, 21, o presidente me ligou às 6h30m, contrariado. Desliguei o telefone e disse para minha mulher: ‘Isso tem que ser resolvido hoje’.

Ao abordar as críticas sobre sua suposta complacência com os militares, ele enfatizou a importância da reconstrução da confiança e da unidade antes de tomar medidas mais drásticas.

Em relação à sua posição futura, Múcio expressou gratidão ao presidente, mas também reconheceu o desejo de passar mais tempo com sua família. 

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