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FHC diz que Iris Rezende tentou negociar presidência do Senado para apoiar a aprovação da reeleição

Nos “Diários”, o ex-presidente da República sugere que José Sarney manipulava Iris Rezende e critica Wolney Siqueira e Pedrinho Abrão Ronaldo Caiado e Iris REzende Iris-Rezende-Ronaldo-Caiado-prejudicam-Goiás- O livro “Diários da Presidência — 1997-1998” (Companhia das Letras, 869 páginas), de Fernando Henrique Cardoso, de 85 anos, menciona vários políticos de Goiás ou radicados no Estado. O ex-senador e ex-governador de Goiás Iris Re­zen­de, de 82 anos, é citado em 40 páginas. FHC o trata com respeito, mas com certo menosprezo, sobretudo na comparação com raposas políticas nacionais, como Antônio Carlos Magalhães e José Sarney. Em janeiro de 1997, quando se discute a eleição para presidente do Senado, o presidente Fernando Henrique demonstra ser um articulador mais escorregadio do que hesitante. A impressão que se tem é que, para controlar Antônio Carlos Magalhães, o ACM, o tucano gostaria de bancar Iris Rezende. Mas parece não perceber “estatura” suficiente no goiano para enfrentar o baiano. “Embora eu leia nos jornais que estou apoiando o Antônio Carlos, na verdade o Sérgio Motta e o Tasso [Jereissati] é que estão. (...) Mesmo que eu quisesse forçar, imaginemos o contrário, colocando o Iris, isso não seria assim tão fácil.” Adiante, Fernando Henrique sublinha que tem de apoiar ACM por dois motivos. Primeiro, por causa do PFL (antecessor do DEM). Segundo, devido à relação com seu filho, Luís Eduardo Magalhães, um de seus principais fiadores na Câmara dos Deputados. Mas o presidente ressalva: “Eu não posso permitir que essa questão deixe o Iris irritado, porque o Iris tem sido um fiel cooperador”. José Sarney estava “jogando pelo Iris”. A interpretação de FHC: “Iris presidente [do Senado], Sarney continua sendo uma espécie de ponte do governo federal com o Iris. Mesmo que desnecessária a ponte, ele saberá habilmente fazer com que o Iris crie algumas dificuldades para que ele possa negociá-las”. Sutilmente, o tucano indica que Sarney manipulava ou queria manipular Iris Rezende. Na questão da aprovação da reeleição, em janeiro de 1997, Fernando Henrique perguntou ao governador de Goiás, Maguito Vilela, “como estava a delegação de Goiás”. O peemedebista “disse que” estava “firme com a reeleição, mas eu o notei um pouco escabreado”. Como liderado de Iris Rezende, que estava sendo preterido para a presidência do Senado, o governante goiano sentia-se incomodado. Ante a pressão de peemedebistas, como José Sarney, FHC falou com vários líderes. “Ao próprio Iris eu disse: ‘Não é possível, senador, assim vai atrapalhar até a sua eleição, porque me condiciona, e à bancada do PSDB, a essa afronta do PMDB. Busque uma solução’.” Maguito Vilela e Iris Rezende juntos images-cms-image-000389523 O senador Jader Barbalho, do PMDB do Pará, contou a Fernando Henrique que o então deputado Michel Temer é quem estava tentando postergar a emenda da reeleição. Os senadores teriam “copiado” os deputados. O que o PMDB queria era, antes de votar a emenda da reeleição para cargos majoritários, como presidente e governador, “eleger a mesa do Senado”. Era um toma-lá-dá-cá. Iris Rezende admitiu, para o próprio FHC, que trabalhou contra a votação primeiro da re­eleição — na Câmara dos Deputados. O senador controlava a bancada. Na disputa pelo comando do Senado, “Iris me parece que está mais perdido do que o senador Antônio Carlos”. O goiano estava intransigente e não queria votar a reeleição logo. “O mais difícil é o Iris. O [Israel] Vargas, cujos parentes em Goiás são donos das [sic] Orga­ni­zação Jaime Câmara de rádio, televisão, imprensa, pediu que seus primos falem com Iris, para ver se o amolecem. Acho difícil, porque o Iris sabe, a esta altura [janeiro de 1997] que está perdendo [a oportunidade de disputar a presidência do Senado] e talvez tenha que endurecer”, relata Fernando Henrique. Em fevereiro de 1997, com percepção pouco aguçada do quadro real do Se­nado, Iris Rezende procura Fernando Hen­rique para uma conversa. “Ele queria que eu desse os votinhos, achava que tinha ganho, que é confiável, segundo ele próprio, e o Antônio Carlos [Ma­galhães] não. Eu disse ao Iris que agora a situação era diferente, porque, como ele mesmo reconhecera, cometera um erro, qual seja, ter ido a São Paulo falar com o [Franco] Montoro e com o Mário Covas, quando devia ter vindo falar comigo.” O presidente ressalva que disse a Iris que não haveria “retaliação a ele nem ao seu pessoal, embora todos os goianos tenham se abstido de aparecer no dia da votação da reeleição”. Ao mencionar a reeleição, Fer­nando Henrique admite que, a partir de determinado momento, “a coisa” começou “a feder”. Mas, claro, tira o corpo fora, atribuindo possível pagamentos a parlamentares a outras pessoas (ele está limpo). Muita gente queria dinheiro vivo — consta que o mercado persa estava pagando 200 mil reais por voto. “O deputado Pedro Canedo, de quem sempre tive boa impressão, foi abordado por um deputado de Pernambuco, um tal de Severino Cavalcanti, eu creio, que é um agente do Maluf e disse ao Pedro Canedo: ‘Você tem uma dívida pequena e o governo não resolve a sua questão financeira. Isso é uma coisa vergonhosa’. Já não é o primeiro caso”, conta o presidente. Quase no final de fevereiro, Iris Rezende havia mudado de posição, não estava mais radicalizado. “Disse que a bancada de Goiás está solidária e vai votar toda pela reeleição [no Senado].” Em maio de 1997, Michel Temer articula os nomes de Eliseu Padilha e Iris Rezende para o ministério. Este deveria ser indicado para a pasta da Justiça. “Fiquei até surpreso, porque ele e o Iris estavam em lados opostos, lembrei que talvez houvesse dificuldade com o Antônio Carlos. O Iris cimenta uma boa parte do PMDB e eu tenho uma boa relação pessoal com ele.” A história de que Michel Temer “convive” mas não tem simpatia política e pessoal por Iris Rezende é antiga. Fernando Henrique avaliou que ACM não ficaria “satisfeito” com a indicação de Iris Rezende para o Ministério da Justiça. Mas o líder do PFL não se opôs. Parte do PMDB tentou impor o senador goiano no Ministério dos Transportes e Eliseu Padilha na Justiça. Sem explicar seus motivos, o presidente anota: “É arriscado botar o Iris nos Transportes”. O problema seria seus aliados, como Wolney Siqueira, que FHC execrava? Iris Rezende e Eliseu Padilha foram nomeados por FHC. “Um pacto político é sempre um pacto com o diabo. Mas estou disposto a defender a necessidade da governabilidade”, defende-se o presidente. É, sem tirar nem pôr, o mesmo discurso dos petistas Lula da Silva e Dilma Rousseff. Curiosamente, ACM espalhou “que ele é que tinha feito o ministro Iris Rezende”. O esclarecimento do tucano-chefe: “Não foi ele quem indicou o Iris e muito menos quem o convidou”. Pacto feito, a reeleição foi aprovada no Senado por 63 a 6. Não se comprava político apenas com dinheiro, como na Câmara dos Deputados. Cargos no primeiro e segundo escalões eram outra moeda cobiçada. Maguito e Abrão Em agosto de 1997, Fernando Henrique recebeu o governador de Goiás, Maguito Vilela, acompanhado de Iris Rezende. “Maguito quer algum apoio, algum recurso para Goiás. Reclamou do ICMS.” Num encontro anterior, Maguito Vilela agradeceu “por termos negociado bem a dívida de Goiás”. Em junho de 1997, o governador ligou para FHC para falar de uma pesquisa indicando que os goianos avaliavam positivamente o governo tucano. Não há referência à privatização da Usina de Cachoeira Dourada, bancada por Maguito Vilela. O ex-deputado Wolney Siqueira é citado de maneira mais ampla no primeiro volume dos “Diários” e não consta que tenha processado o ex-presidente. No segundo, é citado apenas uma vez, na página 84. “Sarney falou da corrupção no DNER e a atribuiu ao Newton Cardoso”, afirma Fernando Henrique. Quem estava “na chefia da malandragem” seria Wolney Siqueira — “que eu não conheço e, dizem, foi indicado pelo Iris Rezende”. Na página 578, Fernando Hen­rique faz referência desabonadora ao ex-deputado Pedrinho Abrão. O presidente esteve em Acreúna e não ficou satisfeito quando o viu. “O [Pedrinho] Abrão estava lá, uma coisa meio constrangedora, eu não sabia que ele iria, nem poderia ter ido na comitiva.” Na página 764, Fernando Hen­ri­que conta que o ministro das Co­municações de seu governo, Luiz Carlos Mendonça, atacou, em novembro de 1998, José Saad, que havia assumido mandato de senador quando Iris se tornara ministro da Justiça. “Pedi que [Luiz Carlos Mendonça] não desse declarações, para não acirrar o clima tenso [devido ao caso dos grampos do BNDES).” Mas o ministro chamou “José Saad de ladrão, coisa que não é comprovável e só complica as coisas”, afirma o presidente. Leia sobre os goianos citados no livro “Diários da Presidência — 1995-1996” (primeiro volume), de Fernando Henrique: https://jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/livro-de-fhc-critica-pedro-abrao-sugere-ligacao-de-wolney-siqueira-com-lobby-e-revela-fraqueza-de-iris-51695/