O evento envolvendo o deputado Douglas Garcia (Republicanos-SP) e a jornalista Vera Magalhães, por ocasião da realização do debate com os candidatos ao governo de São Paulo, pela TV Cultura, na terça-feira, 13, foi muito mais do que um ato de grosseria do parlamentar. É uma afronta à democracia e uma experiência de assédio moral à profissional, no seu local de trabalho. Foi um ato de machismo estrutural.

Douglas Garcia estava ali, convidado pelo candidato do seu partido ao governo paulista, Tarcísio de Freitas, um dos debatedores. Até aqui nada de anormal.

Já Vera Magalhães, funcionária da TV Cultura, onde apresenta semanalmente o programa “Roda Viva”, estava ali cumprindo uma escala de trabalho, na condição de jornalista coordenadora do debate. Além da TV Cultura, Vera presta serviço em dois outros veículos de comunicação: jornal “O Globo”, onde é colunista, e Rádio CBN, onde é comentarista.

De repente, o deputado dispara a câmara de seu celular e se dirige à jornalista, que estava no local destinado aos entrevistadores, ou seja, exatamente onde deveria estar para realizar seu trabalho e ataca: “Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”. E manteve o celular apontado para a profissional, numa clara intenção de intimidação. Foi quando o mediador do debate, Leão Serva, colega de Vera na TV Cultura, na condição de diretor de redação, aproxima-se do deputado Douglas, toma o celular da sua mão e o atira para longe.

O ato não é acontecimento isolado. Na condição de deputado estadual, Douglas tem o direito de solicitar informações sobre o ganho de profissionais que prestam serviços nas empresas públicas, como é o caso da TV Cultura. No momento em que a jornalista começou a contrariar suas opiniões, no exercício das suas funções profissionais nos três veículos onde trabalha, Douglas se valeu desta prerrogativa e solicitou o valor recebido por Vera, na TV Cultura. De posse do documento, Douglas ocupou a tribuna da Assembleia Legislativa paulista para despejar críticas ao trabalho da jornalista e sugeriu seu afastamento da televisão estatal, porque seria uma “marajá”, ou seja, recebia super salário.

Para convencer quem ouvia a denúncia de que realmente se tratava de um escândalo, ele apresentou um documento exibindo o ganho anual de R$ 500 mil, só que argumentando que este era o salário mensal de Vera. Naturalmente, a jornalista mostrou a realidade dos fatos e a fake news produzida por Douglas foi desmentida. Sem se contentar com esta vergonha, ou falta dela, aproveitou a possibilidade de estar presente ao debate, para mais uma vez ir para cima da jornalista.

Embora alguns tratem o assunto como mais uma grosseria em tempos de campanha, não é. Na verdade, estamos diante de uma agressão à democracia, pois o parlamentar tentou intimidar uma jornalista, naquilo que ele batizou de “lacração”, que, explicado, é calar a boca, lacrar o direito do jornalista de emitir sua opinião e dar as informações com liberdade. Lacrar…..fechar a boca de quem informa.

A tudo isto soma-se o agravante de que a agressão, o assédio moral por meio de intimidação e a tentativa de censura (todos crimes previstos nas leis brasileiras) são prepotências de um homem contra uma mulher. Mais uma vez, a mulher pagando o preço da não aceitação da sua presença em função essencial na sociedade, numa execução mesquinha do machismo estrutural.

É preciso que haja punição severa, dentro daquilo que prevê as leis que tratam sobre os crimes cometidos, pois só assim vamos ver estas manifestações imbecis desaparecerem na vida brasileira.