Demóstenes Torres

O presidente Lula da Silva (PT) precisa prestar atenção para não se tornar uma ilha, alguém de bom senso cercado de água parada por todos os lados. Ele não invadiria terras produtivas, mas sua equipe e suas comitivas em viagens internas e internacionais têm criminoso que acha normal cortar cercas, destruir laboratórios e violar as leis. Ele não serviria refresco a destruidores das sedes dos Três Poderes, porém ignora-se como vai terminar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do 8 de Janeiro. Ele não levantaria pautas como as propostas pela autoproclamada extrema esquerda, mas mantém nos ministérios apóstolos do caos.

Lula sabe que não adianta posar de flor do pântano: na administração pública, a areia invade o oásis com a velocidade do ChatGPT. Não adianta ser um Venom F5 ou Bugatti Bolid, que aceleram a 499 km/h, com pneus murchos. Máquina tem, está faltando ar ao governo.

É preciso construir pontes enquanto há rio –a simples fissura no chão se atravessa a pé. A próxima fase de Lula 3 tem de ser com a parte da sociedade que não se mobiliza, não vai à internet postar ofensas, não exibe cartaz, não atira tomates, detesta políticos, quais políticos– ou seja, a maioria da população. Até agora, tem prevalecido a opinião de quem faz cara feia. Todavia, triunfam os heróis da resistência.

Ministério Público, Executivo, Legislativo e Judiciário federais contam com integrantes destemidos, nada afeitos a quem vive de lacrar, muito acostumados a vencer quem distribui armadilhas nas entrelinhas das articulações –é a minoria, mas há. A solução é juntar as carências da maioria abandonada com o caráter da minoria corajosa.

Na Procuradoria Geral da República, por exemplo, é inútil elevar os decibéis. Augusto Aras, procurador-geral da República e chefe do MPF, decide-se pelo melhor para o país. Sempre. Não adianta crocitar, grasnar, rugir, pois na PGR quem trabalha é que tem razão.

O Congresso Nacional guarda lições das diferentes épocas de que não adianta se insurgir contra sua rota. Jair Bolsonaro demorou meio mandato e salvou-o por inteiro depois de entender que os poderes são harmônicos e salomônicos. É em vão balir, chocalhar, grunhir, pois na Câmara e no Senado quem tem voto no Plenário é que tem razão.

Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e Tribunais Regionais Federais, por estarem em sintonia fina com suas atribuições, são moucos às feras que ficam na selva de processos a chilrear, pipilar, bramir: a venda nos olhos tapa igualmente os tímpanos. No Judiciário, prevalece o óbvio dos autos: tem razão quem tem… razão.

Pode aprontar o barulho que quiser, será infrutífero nos Três Poderes e no MPF.

Antes de tudo ruir, tudo começar a carcomer, como na música “Nostradamus”, de Eduardo Dusek, cabe a Lula e sua trupe observarem o silêncio dos inocentes, os que falam, gritam e imploram até ficarem sem voz. O texto que traduz esses sons se condensa em uma frase: ainda é possível evitar o cenário encontrado pelo personagem de Mel Gibson em “Mad Max”.

Está em tempo. Basta ao atual presidente esquecer o antecessor. Basta se fixar no Lula 3, não no 1 ou 2, no Dilma 1 ou 0,5, no Temer, no Bolsonaro. Na próxima semana é maio e o 2023 é o ano que não se inicia. Vieram o 2º turno das eleições, o festival de fake news, o atentado para implodir o Aeroporto JK, diplomação de Lula e Alckmin, Natal, ida de Bolsonaro para a Flórida, posse da diversidade, quebradeira de prédios públicos em Brasília, ônibus lotados de presos do Exército para Papuda e Colmeia, Carnaval, volta de Bolsonaro da Flórida, Semana Santa, daqui a pouquinho é Dia do Trabalho. E o ano não começa.

Presidencialismo nos moldes do brasileiro concentra tudo no coldre do comandante-em-chefe, até o calendário. Muita gente no governo mostra interesse em agir. E já. Os componentes do plantel de Lula alheios ao extremismo político demonstram preparo e vontade de realizar. E logo. Aguarda-se o “sim” do presidente.

José Múcio é o ministro dos sonhos de qualquer governo, de qualquer nação. Significa equilíbrio. Agrada às Forças Armadas e desarma espíritos e coldres.

Flávio Dino dispõe de projetos, conhecimento e probidade suficientes para combater o tráfico de drogas e armas, reduzir a desumanidade nos cárceres, arrebentar ladrões, estupradores, assassinos e autores de crimes contra mulheres e crianças. Falta a Lula virar a chave no Ministério da Justiça.

Carlos Fávaro revela-se ótima escolha para o Ministério da Agricultura, refazendo os caminhos entre o governo e o agronegócio, valorizando quem equilibra a Balança Comercial brasileira, tratando o MST com termos merecidos. Falta o aeroLula jogar veneno nas pragas das lavouras.

Alexandre Padilha e Rui Costa têm habilidade, experiência e credibilidade para estabelecer as relações com congressistas, governadores e líderes municipais. Falta a Lula só abrir a boca quando tiver certeza.

Ainda é possível evitar que o Brasil seja um continente repleto de Mad Max, mas o presidente todo dia despeja combustível na fogueira das vaidades. Urge recuperar o semestre perdido desde as eleições. Rápido! Antes que reste apenas servir um café que o mundo acabou.

O artigo foi originalmente publicado no site Poder360.