COP 30: um vexame internacional do Brasil
24 novembro 2025 às 09h53

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Vários veículos de comunicação do mundo repercutiram as falhas grotescas e a falta de infraestrutura para a realização da COP-30 em Belém, no Pará, mas o incêndio no Pavilhão Azul, onde se reuniam delegações dos países que ali discutiam as conclusões finais da Convenção da ONU, foi o “último prego” que fechou o caixão da pior COP desde que as Nações Unidas passaram a discutir de forma global as mudanças climáticas causadas pela emissão de CO₂ em encontros internacionais que, veja só, começaram há pouco mais de 30 anos, na RIO-92, no Rio de Janeiro.
A COP-30 foi um fracasso retumbante antes mesmo de começar oficialmente. Com todo respeito ao estado do Pará e à sua capital, Belém não tinha a mínima condição de receber um evento dessa magnitude. A COP é um evento bilionário que demanda organização, logística e muito trabalho que começa dois anos antes para que o país anfitrião possa se preparar para receber líderes mundiais, ativistas, cientistas e muito mais.
A indicação de Belém foi uma escolha pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem, na região Norte do país, apenas um governador aliado, Jader Barbalho Filho, do PT, o homem que governa o estado do Pará. Não foi uma escolha casual do presidente, mas com propósito. Foram gastos bilhões de reais para que Belém pudesse receber a COP-30. Para se ter uma ideia, a Usina de Itaipu investiu mais um bilhão de reais e, nem a chuva — tão típica na região, onde encontros, reuniões e outros compromissos são marcados antes ou depois do “aguaceiro” —, nem a estrutura onde as delegações e a imprensa se reuniam foram capazes de evitar o vexame de goteiras por toda a COP. Dizem que até mesmo a sala da presidência não foi poupada por São Pedro.
Foi uma tragédia anunciada. As falhas que ocorreram na COP-30 vão desde algo primário, cafona e non sense, como as árvores de plástico colocadas na entrada principal por onde passavam todas as delegações e líderes mundiais — que foram brindados com a ode ao mau gosto —, até ações grotescas e toscas, como uma avenida de 13 km que rasgou a floresta amazônica e foi aberta a fim de facilitar a chegada caótica a Belém.
Num evento em que a ecologia é pauta primordial, chega a ser uma piada o governo do Pará asfaltar a Amazônia em nome da preservação. Ao entrarem na fétida capital paraense, quem participou da COP-30 logo descobriu que a cidade conta com apenas 10% de rede de esgoto. Isso quer dizer que, tirando a elite paraense, o resto da população não tem privada e nem descarga dentro de casa. Welcome: a Idade Média é aqui mesmo, entre as palafitas e o esgoto a céu aberto que, há anos, já viraram cartão-postal da terra de Fafá de Belém. Será que a artista tão famosa conta com banheiro em casa?
O que aconteceu em Belém já entrou para a história pela porta de trás. Até a plácida e quase inerte ONU reclamou, em carta oficial ao presidente Lula, da desorganização e falta de estrutura da COP-30. O governo brasileiro investiu 400 milhões de reais na Conferência Climática, que teve até Mariah Carey a bordo de uma vitória-régia gigantesca como palco no meio de um igarapé, em um show para uma plateia de 70 vips confortavelmente acomodados numa plataforma flutuante entre sofás e almofadas, numa apresentação “histórica” para salvar a floresta. Mariah Carey é conhecida por não sair de sua mansão com ares de palácio, em Beverly Hills, por menos de 5 milhões de dólares. Imagina para cantar num igarapé entre moscas, botos e jacarés.
Para receber tanta gente, os moradores de Belém se aproveitaram do momento COP e quase “floparam” a Convenção porque os preços de apartamentos, casas, hotéis ou até mesmo um simples quartinho em uma casa de palafita cercada de esgoto por todos os lados não saía por menos de 300 euros por dia. A alta foi tão escandalosa que, há menos de um mês para o início das discussões, chegou-se a cogitar mudar a COP-30 para uma cidade mais viável para a habitação. Resultado: motéis viraram hotéis — trocaram o M pelo H —, mas o espelho no teto e as camas redondas deram as boas-vindas a várias delegações que, entre um filme pornô e outro, não conseguiam sintonizar as TVs em um canal onde pudessem pelo menos assistir ao noticiário local.
A alimentação também foi tema de duras críticas durante a COP-30. Para se ter uma ideia do abuso dos preços, que o Procon deu de ombros, uma simples coxinha de frango e uma lata de refrigerante não saíam por menos de 80 reais. E não havia saída, porque o local do evento foi no antigo aeroporto de Belém, que fica a quilômetros de uma simples carrocinha com tucupi e tacacá para “ficar de boa”, como diz a cantora Joelma. E, para piorar, o caos alimentar tornou-se um pesadelo para as milhares de pessoas que participaram do evento, porque a comida simplesmente acabou. As prateleiras ficaram vazias. Quem comeu bem mesmo foi a delegação da Presidência da República, todos a bordo de dois navios luxuosos, enquanto o presidente, sua comitiva e a primeira-dama preferiram se hospedar em um iate de luxo, com dez cabines. O governo gastou mais de 250 milhões de reais para ficar a bordo dessas embarcações. O iate onde estava o casal presidencial pertence a um amigo de Lula, que, para evitar especulações, determinou o sigilo de cem anos sobre os gastos governamentais na COP, que tinha o objetivo de salvar a Amazônia. Acontece que os navios e o iate são movidos a diesel e altamente poluentes. Mas quem liga para isso, não é? Enquanto as delegações e a imprensa enfrentaram escassez alimentar, a primeira-dama fez questão de visitar a sala de imprensa e checar, num gesto caridoso, se estava tudo bem com a alimentação no pavilhão. Mas só checou e logo voltou para o iate, onde, no deck principal, dançou — e muito — com sua amiga e ministra da Cultura, Margareth Menezes.
Lula não contava com o desastre da COP-30. Pelo contrário, o presidente acreditava que o evento seria seu passaporte para a glória internacional como líder mundial da preservação do verde. No entanto, o que o mundo viu em Belém foi um show de incompetência que deixou os brasileiros, os povos originários e até Tupã e o Curupira estarrecidos com o desastre retumbante que virou a COP-30 — e que começou com um cartão de visitas do Brasil atual: terror na porta do evento. Vans incendiadas, assaltos a delegações estrangeiras. Já as boas-vindas à imprensa nacional e internacional, com milhares de colegas que estavam ali para mostrar o que o Brasil tinha de bom quando o assunto é sustentabilidade, não puderam lavar as mãos, escovar os dentes ou dar uma simples descarga, porque não havia água nos banheiros.
Foi a falta de segurança, de estrutura e os custos absurdos os verdadeiros motivos que levaram dezenas de delegações a cancelar a vinda ao Brasil. E quem veio? Quase ninguém. As grandes lideranças mundiais ignoraram o evento. Dos 120 chefes de Estado que participaram da COP da França — onde foi assinado o importante Acordo Climático de Paris — menos da metade apareceu em Belém. Lula ficou falando sozinho na COP-30. Os poucos líderes que se arriscaram a ir a Belém ficaram aterrorizados com a pobreza, a poluição, a violência e o calor infernal que, segundo o chanceler alemão, foi o motivo pelo qual ele e sua comitiva agradeceram aos céus quando voltaram para a civilizada Alemanha. O esvaziamento da COP-30 é um sinal de que os países resolveram deixar as discussões sobre o clima em segundo plano. Lula passou por uma saia justa e preferiu não confrontar a situação internacional contraditória que ele mesmo criou ao subir ao palco para pedir o fim do uso do petróleo, mas, no mesmo dia, anunciar novos planos de exploração de gás e petróleo na Foz do Rio Amazonas.
Se até aqui você, caro leitor, ainda acredita que a COP-30 foi um sucesso, é agora que vem o golpe final dessa história que envergonhou um país inteiro e que virou motivo de chacota mundo afora. Quando o Comando Vermelho ameaçou cortar o fornecimento de energia elétrica para a COP-30, acendeu-se um sinal — também vermelho — porque poderia haver um blackout geral que comprometeria um encontro internacional ameaçado por uma facção criminosa. Um vexame internacional.
O final dantesco da COP-30 levou o Brasil a ser colocado nas manchetes da imprensa mundial, que assistiu, incrédula, à invasão dos pavilhões por várias tribos indígenas e líderes do partido PSOL, que protestavam por uma maior participação no evento. Queriam ser realmente ouvidos, mas não conseguiram nada. A COP foi interrompida durante horas, uma pessoa ficou ferida e, no dia seguinte, as delegações, amedrontadas por flechas e tacapes, preferiram entrar pela porta lateral, devidamente protegida por agentes de segurança que, no dia anterior, não conseguiram conter a baderna.
O gran finale da COP-30 foi um incêndio que consumiu rapidamente o Pavilhão Azul, onde as delegações faziam os arremates finais do texto da Conferência da ONU, que acabou sendo criticado porque não abordou devidamente temas sensíveis como a contenção eficaz da emissão de gás carbônico na atmosfera e o controle da exploração e uso dos combustíveis fósseis. Quer dizer, na COP que virou flop, nada — ou quase nada — que diz respeito à preservação do meio ambiente e que está diretamente relacionado à sobrevivência da espécie humana ficou resolvido. A Conferência Climática acabou mesmo em um climão de incertezas. Certo mesmo foi que o evento acabou fazendo do Brasil motivo de piada por todo o planeta.
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