Leonam Nogueira Fleury

Como no cabo-de-guerra, ou jogo da corda – aquele em que duas equipes se posicionam nas duas extremidades da mesma corda e usam a força de tração para vencer o adversário – o puxa-puxa na disputa pelo cargo de Superintendente do IPHAN em Goiás tem sido um dos mais acirrados no país. Quais são as duas equipes e os principais contendores? O que está em jogo são duas equipes: Mérito versus Aparelhamento.

De um lado, a comunidade de quem conserva o patrimônio e produz cultura no nosso estado aposta na excepcional capacidade técnica, na extraordinária produtividade, na genuína afabilidade e no trânsito apartidário do Dr. Antônio César Caldas Pinheiro – profissional com currículo e prática respeitáveis no setor cultural. Do outro lado, a velha-guarda do PT em Goiás promove o antiquado e abjeto jogo das nomeações de caráter político com fins de aparelhamento de estado, apoiando Pedro Wilson – ex-deputado federal e ex-prefeito de Goiânia, personalidade política igualmente respeitável, mas cujo histórico de dedicação especificamente à área cultural é bem menos relevante. Ele tem várias habilidades e competências, mas merece ser nomeado para outras pastas.

No puxa-empurra, rala-rala da disputa em Goiás, observou-se até o golpe baixo, burlesco e caquético de fazer anúncios falsos, tanto na mídia social quanto nos jornais, de uma já pretensa nomeação de Pedro Wilson, para criar o fato político. Sejamos claro: a disputa ainda não foi definida.

Ora, o sucesso do PT e seu futuro político estará justamente na sua capacidade de demonstrar que é capaz de criar uma base de apoio multipartidário, em que o interesse público prime sobre aqueles partidários ou personalíssimos. A pouca margem que o presidente Lula teve sobre seu adversário significa que os brasileiros, e sobretudo nós os goianos, estamos fartos de mensalões, de aparelhamento, de toma-lá-dá-cá partidários como forma de assegurar a governança do país.

Lula acertou em nomear Margareth Menezes para o Ministério da Cultura, bem como o atual presidente do IPHAN, Leandro Grass. Há enorme esperança e entusiasmo, sobretudo após os duros anos de deserto e vacas esquálidas no setor cultural. As escolhas dos superintendentes do IPHAN já confirmadas de Rafael Pavan dos Passos, no Rio Grande do Sul; Hermano Queiroz, na Bahia; Francisco Alves Gomes, em Roraima, por exemplo, dão alento e apontam que Leandro Grass está conseguindo afirmar sua promessa de fazer escolhas técnicas, profissionais, ao montar seu time de primeira linha.

Há quase três meses esperamos em Goiás a decisão definitiva desta nomeação. A corda está gasta. Os contendores, com fôlego curto. Há patrimônio cultural que deve ser cultuado e conservado e há tradições e patrimônio político que devem ser reinventados para evoluir. O tão ansiado resultado desta contenda nos revelará se Mérito ou Aparelhamento é o que prevalece no fazer político em Goiás.

Leonam Nogueira Fleury é goiano, 72 anos. Egresso do Curso Livre de Artes da Universidade Católica de Goiás (atual PUC Goiás) com especialização em técnica de “gravura” pela Slade School of Art (University College — Londres, Reino Unido), artista visual. É membro do Conselho Estadual de Cultura de Goiás.