A importância da representação da Juventude Negra no Legislativo: uma perspectiva necessária

20 junho 2024 às 19h30

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Leandro Dias
Nos últimos anos, tem se intensificado o debate sobre a representação política das minorias no Brasil, especialmente a necessidade de elevar a voz da juventude negra nos espaços de poder. No cenário político brasileiro, a presença de negros e negras ainda é significativamente inferior à proporção demográfica do país. Segundo dados do governo federal, a juventude negra representa cerca de 23% da população brasileira, mas essa representatividade não se reflete de maneira equivalente nos cargos eletivos. A falta de diversidade nas esferas de poder impacta diretamente nas políticas públicas e nas decisões que afetam precisamente as comunidades mais vulneráveis.
Historicamente, a política brasileira vem sendo dominada por uma elite branca e masculina, perpetuando desigualdades estruturais e impedindo a implementação de políticas inclusivas e equitativas. A luta pela representação não se resume apenas à inclusão superficial, mas sim à garantia de que vozes diversas tenham poder real de influência e decisão.
Enquanto membro político dessa sociedade, personifico essa busca por representação autêntica e comprometida com as demandas da juventude negra. Buscar efetivamente essa representatividade não foi apenas uma escolha política, mas uma resposta ao anseio por mudança genuína e por lideranças comprometidas com a transformação social. Ao longo de minha trajetória, tenho me dedicado às lutas comunitárias e pela defesa incansável dos direitos dos jovens negros.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) evidenciam as profundas desigualdades enfrentadas pela juventude negra, seja no acesso à educação superior, seja na segurança pública. Enquanto 36% dos jovens brancos entre 18 a 24 anos cursavam uma graduação ou já tinham concluído, apenas 19,3% dos jovens negros conseguem o mesmo. E, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 70,6% dos negros nesta mesma faixa etária de idade deixaram os estudos sem concluir o ensino superior. Para os brancos, a taxa era de 57%. Além disso, em outro levantamento do IBGE, a taxa de homicídio entre jovens pretos (94 a cada 100 mil) e pardos (136 a cada 100 mil) representa 2,3 e 3,3 vezes, respectivamente, a taxa observada entre jovens (41,6 a cada 100 mil) na mesma faixa etária, refletindo um sistema que perpetua a marginalização e a violência estrutural.
Iniciativas como a criação da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho Nacional de Juventude foram passos importantes na direção de reconhecer as demandas específicas da juventude brasileira, incluindo as necessidades urgentes da juventude negra. Ainda assim, é fundamental que tais espaços sejam ocupados por representantes que efetivamente compreendam e lutem por essas pautas.
A cidade de Goiânia, assim como muitas outras capitais brasileiras, enfrenta desafios significativos em termos de representatividade no legislativo. Apesar de ser uma cidade com uma população jovem e diversificada, a Câmara Municipal de Goiânia ainda reflete pouco dessa diversidade, com uma sub-representação da juventude negra. É crucial que os jovens negros de Goiânia se vejam representados por legisladores que entendam suas realidades e necessidades específicas, promovendo políticas públicas que possam reduzir as disparidades sociais e econômicas. Aumentar a representação da juventude negra no legislativo goianiense não apenas enriqueceria o debate político local, mas também garantiria que as decisões políticas fossem mais inclusivas e justas.
Portanto, promover a inclusão e a diversidade nos espaços de poder político é uma luta que não podemos cessar. Eleger pessoas que verdadeiramente representam essas minorias indicam um passo na direção certa, mas muito ainda precisa ser feito para garantir que a voz da juventude negra seja ouvida e respeitada. A participação ativa dos jovens eleitores, informando-se e engajando-se nas decisões políticas, é essencial para o fortalecimento da democracia e o fortalecimento de políticas públicas que atendam às necessidades das juventudes. É hora de transformar indignação em ação, de garantir que os legisladores representem verdadeiramente a diversidade do povo brasileiro, em especial, dos goianienses. Afinal, a democracia só é plena quando todos têm voz e poder de mudança.
*Leandro Dias é cientista social habilitado em politicas públicas pela Universidade Federal de Goiás (UFG), atual secretário de organização do PSB em Goiás e membro da Coordenação Nacional dos Agentes de Pastorais Negros.