A história das colônias árabe, síria e libanesa em Anápolis
16 agosto 2024 às 12h26
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Abílio Wolney Aires Neto*
A escritora Haydée Jayme nos lembra que, a 20 de dezembro de 1931, os sírios, residentes em Anápolis, decidiram formar um núcleo, para a defesa da colônia, com a denominação de União Síria, que muito viria contribuir para o congraçamento da volumosa classe residente na cidade, formada, em sua maioria, de comerciantes. A excelência da primeira Diretoria, tendo como Presidente Jad Salomão, deflagrou a participação da colônia em diversos setores da vida anapolina, inclusive no educacional e no de assistência social. [1]
Por sua vez, os escritores Amador de Arimatéia e Lindberg Cury contam a história dos sírios e libaneses em Anápolis, trazendo as raízes genealógicas de importantes famílias de imigrantes que formaram a Colônia em Anápolis, cuja história, desde sua origem, foi marcada pela presença árabe.
Contam os autores que “em 1890, quando a cidade não passava de um povoado, já circulava nas fazendas da região, vendendo suas mercadorias – dentre tantos outros – o sírio Charrud Spir, conhecido como Joaquim Turco.”
Com o intuito de investigar, desde a emancipação política do município em 1907 até 1950, constata-se que esse período coincide com a decadência das atividades da ferrovia em Anápolis, a consolidação de Goiânia e o fim da Segunda Guerra Mundial, a partir de quando surge nova fase de imigração para a cidade.
Dizem os autores que:
finalizados os aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais, os objetivos específicos foram: buscar esclarecer os motivos que levaram grupos étnicos tão distintos um dos outros a escolherem Anápolis para viver com as famílias: investigar uma forma de divisão de trabalho comum entre os árabes: a familiar; e, ainda, elaborar uma fonte de pesquisa, que possibilitasse novos estudos sobre o assunto.
E, assim, a obra perfila a gênese de famílias locais importantes, em franca galeria de vultos sírios e libaneses de Anápolis, a propósito do que chamaram:
registro histórico e iconográfico daqueles pioneiros e contemporâneos sucessores que – decididamente – há mais de um século, participaram e ainda hoje participam do desenvolvimento de Anápolis e nesta cidade fizeram multiplicar suas raízes, estabelecendo como valor maior a cidade que os abrigou e os acolheu como se fora a Terra Natal de cada um, assimilando seus costumes, seus valores morais e suas tradições, retribuindo a Anápolis, pela acolhida, com muito trabalho, dedicação e a efetiva participação do seu desenvolvimento e da sua grandeza.
Num extenso rol, traz ao palco da vida anapolina as diversas famílias sírio-libanesas e suas ramificações no transcurso das décadas:
Famílias: Miguel João Alves – 1905, Abraão Miguel Alves – 1907, Zacarias Miguel Alves – 1907, Zacharias Alves – 1910, Antonio Jose Quinan – 1910, Antonio Miguel – 1910, Georges Miguel – 1912, Feres Aidar – 1912, Elias Jose Isaac – 1913, Sahium – 1914, Achilles Elias – 1918, Miguel Elias – 1918, Carlos Elias – 1918, Razem Elias – 1918, Aziz Cury – 1918, Abrahão Jorge Asmar – 1919, João José da Silva – 1920, Abdala Badauy – 1921, Miguel Haje – 1922, Jose Nackle Haje – 1928, Jibran El Hadj – 1928, Nazir Nakhle Haje, Abdallah Habib Naoum, Mounir Naoum – 1947, Willian Naoum – 1957, George Naoum – 1957, Samir Naoum – 1957, Ésper Gebrim – 1922, Calil Miguel Sabbag – 1922, Rachid Cury – 1922, Calixto Abdalla – 1922, João Pedreiro – 1915, Jorge Abrahão pedreiro – 1927, Pedro Thomé – 1923, Abrahão José Isaac – 1923, Miguel José da Silva – 1923, Gabriel Issa – 1925, Fayad Hanna – 1925, Nabih Siade – 1927, Barbahan Helou – 1928, Halim Helou, Anysio Cecilio – 1928, Salim Caied – 1928, Zeke Sabag – 1928, Manuela Beze – 1928, João Beze – 1928, Mansur Abdalla – 1928, José Elias –1930, Amim Beze – 1932, Eduardo Chehab – 1932, Miguel Abrão Dib – 1932, Higino Siade – 1932, José Curi – 1933, Elias Jorge – 1935, Zacharias Elias – 1935, Calixto Dagues – 1936, Jad Salomão Koury– 1937.
Os mesmos autores contam, de outro lado, a história real de como e porque surgiu a maior e mais vibrante equipe da história da cidade de Anápolis [3]:
Então, necessariamente, temos que remontar ao tempo do Colégio São Francisco – idos de 1950/51, quando este era dirigido por padres educadores norte-americanos, com mão de ferro do diretor geral Frei James, o consagrado e meigo Frei André e o Frei Francisco, este último, além de grande educador, trazia consigo uma outra qualidade, ou seja, excepcional jogador de bola ao cesto, modalidade esportiva que o consagrou como jogador titular da Universidade Siena, que disputava a Segunda Divisão do basquete dos Estados Unidos.
Já outros craques, como Célio Sabag, Valdinar Puglise, Miguelzinho Taube, completavam a equipe de São Francisco.
Mas foram esses três excepcionais jogadores – os padres Franciscanos – os responsáveis pelo efetivo surgimento do basquete em nossa cidade, mesmo porque foi nas dependências do Colégio São Chico, construída a primeira quadra oficial desse esporte na cidade.
Por isso, não há que se registrar outros feitos maiores desse esporte antes da chegada dos padres franciscanos. Relance de um rudimentar esporte igual foi praticado por atletas no fim da década de 40, quando podemos relembrar de craques antigos como Jibran El Hajje, Tio José Hajje, Santinho de Freitas, Laudo Puglise, Vicente da Aerovias, Alípio valente, Valter Dede, José Antonio de Freitas e outros atletas que, se não foram, grandes ases do basquete, com certeza, estes mesmos nomes formam, naquela época, uma equipe de voleibol de grande expressão na cidade. Deixou saudade esse time de voleibol.
Outro registro importante e quanto a outro clube de basquete daquela época, este chamado de “Clube de Basquete 102”, formada pela família dos Torres, que integrava um time de baixinhos que deu muito trabalho naquela época. Dentre esses atletas, realce maior para um grande craque, Thales Siqueira – o Mandraque – que se consagrou mais tarde na Federação Goiana de Basquete, como um dos bons jogadores de basquete do Estado.
O professor e escritor João Asmar deu a Anápolis a obra Os Árabes no Sertão, onde apresenta valioso estudo sobre a integração dos árabes na cidade, as primeiras dificuldades, as mudanças de nomes, a religião, as comidas árabes, a mascateação no início e o apogeu dos empresários que se tornaram na comuna, trazendo no Capítulo III da obra as suas considerações oportunas em biografias de pelo menos 135 nomes de imigrantes que se tornaram anapolinos, começando por Abdalla Badauy e passando por todas as letras do alfabeto até chegar em Zacarias Miguel Alves, sendo essa, ao nosso sentir, uma necessária obra complementar de pesquisa no setor.
1] Haydée Jayme Ferreira – Anápolis, sua Vida, seu Povo, Kelps, 2011, 2ª edição.
2] Dos Cedros ao Cerrado, Kelps, 2009.
3] Dos Cedros ao Cerrado, História dos Sírios e Libaneses de Anápolis – 1903-2009, Amador de Arimathéa-Lindberg Cury, Brasília, StarPrint Gráfica e Editora Ltda.
*Abílio Wolney Aires Neto é autor, Juiz de Direito, membro da Academia Goiana de Letras.