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“Infelizmente, calhou de a discussão sobre esse problema acontecer durante o período eleitoral”, destacou Elie Chidiac

O processo de federalização da Celg tem sido utilizado por candidatos da oposição como alvo de críticas no debate eleitoral. Com o candidato ao Senado Ronaldo Caiado (DEM) e ao governo estadual Vanderlan Cardoso (PSB) suscitando a discussão, chegando a afirmar que o governo atual “jogou R$ 7 bilhões no ralo com o acordo” firmado nesta terça-feira (26/8), o diretor de Regulação da CelgD e vice-presidente da CelgPar, Elie Chidiac, resolveu se manifestar sobre o assunto.

De acordo com Elie, o que os candidatos da oposição fazem é tentar politizar um procedimento que é puramente estratégico e técnico. “Infelizmente, calhou de a discussão sobre esse problema acontecer durante o período eleitoral”, destacou.

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O vice-presidente apontou que os problemas da Celg são oriundos de outras gestões, mais precisamente as dos peemedebistas Iris Rezende e Maguito Vilela, que nos anos 80 e 90 venderam as Usinas Hidrelétricas Cachoeira Dourada e a Corumbá I. “A Celg ficou carregada com todas as dívidas do passivo da Cachoeira Dourada”, explica. “Desde então a empresa está em crise.”

A própria Aneel avaliou que a negociação levou a estatal goiana a um desequilíbrio financeiro muito grande, que culminou no congelamento das tarifas em 2008. “Isso quer dizer que a Celg teve seu faturamento congelado enquanto as despesas – inflação, gastos com terceirizadas, salários – subiam.” Por conta dessa defasagem, a empresa deixou de arrecadar aproximadamente R$ 2,4 bilhões em quatro anos.

Para tentar superar a crise, o governo de Alcides Rodrigues (PSB; 2007-2010) aventou a possibilidade de efetivar um processo em que 93% das ações permaneceriam nas mãos da Celg, enquanto que a direção da empresa ficaria a cargo da Eletrobras. Vislumbrando os riscos oferecidos por um trâmite como esse, a administração seguinte descartou essa possibilidade.

Esse, no entanto, é o modelo que foi defendido pelo governadoriável Vanderlan Cardoso em entrevista ao Jornal Opção Online. “Se não tivessem boicotado a negociação do governo anterior, Goiás manteria 93% das ações da companhia. Ou seja, os goianos teriam um patrimônio de R$ 16 bilhões, valor da empresa a partir da renovação da concessão que estava prevista na negociação anterior”, disse o pessebista. “Como foi entregue 51% da empresa à Eletrobras, esse governo jogou R$ 7 bilhões no ralo por pura vaidade política”, analisou.

Já o diretor da Celg enxerga a questão com outros olhos. “Esse seria o pior dos mundos. O mando seria da Eletrobras, enquanto os prejuízos seriam da população goiana”, explica Elie. “Quando quem dirige a empresa é o acionista, se ele faz besteira, é ele quem paga. Da forma como estava sendo discutido era o Tesouro goiano quem pagaria.” A proposta anterior previa o investimento de R$ 3,5 bi em 2010, outros R$ 3,5 bilhões em 2012 e a mesma quantia em 2014, o que geraria um prejuízo de R$ 11,5 bilhões.

Assim, os técnicos da empresa perceberam que essa não seria a fórmula mais eficaz de manter a empresa de forma equilibrada. Foi então que companhias internacionais e nacionais foram procuradas para ver se tinham interesse na aquisição da Celg. Até bancos chineses foram consultados. No entanto, com o fim da concessão previsto para julho de 2015, correndo o risco de não haver prorrogação, e com passivos rondando a casa dos R$ 7 bilhões, não houve retorno positivo de nenhum dos consultados.

A estratégia mais viável foi então a transferência de ações para a Eletrobras, ao invés de simplesmente entregar a ela o comando mantendo para si os eventuais custos financeiros. O processo garantiu a Celg o investimento de R$ 3,5 bilhões e o repasse de R$ 1,9 bilhão junto à Caixa Econômica Federal com juros de 6,8% ao ano, possibilitando o pagamento de dívidas e a reestruturação do caixa da empresa. Além disso, a federalização coloca no horizonte a possibilidade de prorrogação da concessão da empresa por mais 30 anos. “Com o repasse de 51% das ações para o governo federal, vamos dividir com eles todos os passivos da Celg”, relata Chidiac.

Para ele, porém, não são esses os maiores ganhos com a negociação. “Em 1999 foi aberto um processo de caducidade por conta da situação que a empresa estava. Com isso, o governo federal retomaria a concessão e o Estado de Goiás arcaria com R$ 7 bilhões de dívidas. Dois mil empregos diretos e 4,5 mil indiretos seriam perdidos”, pontua. Com a federalização, o processo de caducidade será encerrado.

Elie faz questão de ressaltar que a decisão tomada pela empresa era a única solução para o problema e que tudo foi realizado de forma estritamente técnica. Segundo ele, os responsáveis pela Celg sempre estiveram dispostos a discutir as questões relativas à empresa. “Estamos sempre abertos para um debate técnico, que não seja politizado.”