Os melhores livros de 2015
24 dezembro 2015 às 12h47

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Confira alguns dos títulos destacados por escritores e críticos de Goiás, como Edival Lourenço, Ademir Luiz, Francisco Perna Filho, Carlos Augusto e Itamar Pires
Yago Rodrigues Alvim
Nas derradeiras semanas do ano, uma retrospectiva é sempre válida, seja para fazer um balanço da própria vida, traçar novas metas, ou mesmo relembrar certas felicidades e infortúnios. Por isso, tantas listas surgem — as já clássicas. Dentre elas, algumas elencam músicas, filmes e, claro, livros. Com a ajuda do jornalista Euler de França Belém, do escritor e presidente da União Brasileira de Escritores de Goiás, Edival Lourenço, do escritor e professor Ademir Luiz, do crítico literário Francisco Perna Filho, do professor e crítico literário Carlos Augusto e do inveterado leitor e promotor de justiça Itamar Pires, elegi alguns dos títulos que mais se destacaram em 2015.
Antes, algumas menções honrosas. São elas a obra de Amir Labaki, “A Verdade de Cada Um”; “Aulas de Literatura”, de Julio Cortázar; “Novelas Exemplares”, de Miguel de Cervantes; “O Adolescente”, de Fiodor Dostoievski; “Obra Completa” de Machado de Assis; a nova edição de “Paraíso Perdido” de John Milton; e “Sapiens — Uma Breve História da Humanidade”, de Yuval Noah Harari. Ao fim da lista, você ainda encontra alguns dos títulos lançados no final de 2014, que se destacaram este ano.
A Grande Fome — John Fante (José Olympio)
Descobertos pelo biógrafo de Fante e o organizador da obra, Stephen Cooper, os contos que integram “A Grande Fome” são divertidos e dizem muito sobre a infância do próprio escritor. Inédita, a antologia de Fante, epítome da geração de autores imersos na contracultura norte-americana, reúne seus costumeiros personagens: imigrantes, escritores miseráveis, crianças travessas e incógnitos ordinários.
A Poeira da Glória — Martim Vasques Cunha (Record)
Ao examinar a literatura de autores como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, o ensaísta Martim Vasques dialoga com a chamada “fortuna” crítica e aponta assim como e quando a ideologia política envenenou a imaginação artística. Em detalhes, o autor mostra como o país foi brutalizado pela paranoia e mistificado a respeito de si mesmo. Muitos constroem diques, o crítico abre canais.
Antologia da Poesia Erótica Brasileira — Eliane Robert Moraes (Org., Ateliê Editorial)
Organizada pela professora da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do CNPq, Eliane Robert Moraes, a antologia apresenta ao leitor as principais composições da lírica erótica brasileira desde o século XVII. Figuram poetas de épocas, estética e contextos diversos: de Gregório de Matos a Hilda Hilst; de Gonçalves Dias a Carlos Drummond de Andrade; de Álvares de Azevedo a Ana Cristina César; de Olavo Bilac a Ferreira Gullar.
Assim Começa o Mal — Javier Marías (Companhia das Letras)
A obra de Marías conta a história de Juan de Vere, um jovem recém-formado que é contratado como secretário particular de Eduardo Muriel, um cineasta bem-sucedido. De Vere, graças à função, se insere na privacidade da casa da família e se converte em um espectador da união misteriosa e bastante infeliz entre Muriel e sua esposa Beatriz Noguera. Muriel o encarrega de investigar um amigo, o dr. Jorge Van Vechten, o qual acompanha em excessivas noitadas do auge da “Movida Madrileña”. Por fim, descobre que não há justiça desinteressada e que tudo, o perdão ou o castigo, nasce a partir de decisões arbitrárias.
A Segunda Pátria — Miguel Sanches Neto (Intrínseca)
A história se passa às vésperas da Segunda Guerra Mundial, quando Getúlio Vargas resolve se tornar um aliado do Terceiro Reich. Na obra, Adolpho Ventura é um engenheiro que convive atônito com o progressivo cerceamento de sua liberdade. Seu crime é ser negro e pai de uma criança mestiça. Na mesma cidade se desenrola a trajetória de Hertha, uma jovem sedutora que encarna todos os predicados da superioridade ariana. A ela é confiada uma misteriosa missão. Com violência e sensualidade, Miguel Sanches revela uma paixão proibida, enquanto subverte os fatos para criar um Brasil que não está nos livros de história e que nem por isso deixa de ser assustadoramente plausível.
Amnésia Cicatrizada — Milton Camargo (Kelps)
Ambientada no início do século XX, “Amnésia Cicatrizada” é um romance que se destaca por sua sedutora e comovente narrativa repleta de surpresa. O livro conta a história de Martinho, um menino que cresce no serviço militar e estabelece uma dúbia relação com as forças armadas. Aos 30 anos, ele acompanha um amigo em visita a uma cigana-vidente. Ao se aproximar da cabana, é acometido de sete visões que o marcam para sempre. A obra é o primeiro romance do publicitário Milton e trata da natureza humana e de sua seara de vida e morte.
Assim Foi Auschwitz: Testemunhos 1945-1986 — Primo Levi e Leonardo de Benedetti (Companhia das Letras)
Aos 24 anos, Primo Levi foi mandado a Auschwitz, fábrica construída pelos nazistas para exterminar judeus e minorias. Ele trabalharia junto de outro prisioneiro, o médico Leonardo de Benedetti. A obra traz memórias do químico que, após publicar seu primeiro testemunho das condições de saúde dos campos de concentração, não mais parou de escrever suas experiências.
Autobiografia Poética — Ferreira Gullar (Autêntica)
Inédito, o volume revela, de forma honesta e sensível, a trajetória do poeta maranhense Ferreira Gullar. O livro é um depoimento, uma reflexão do próprio fazer poético, cuja linguagem se estabelece como um franco diálogo com o leitor. A obra ainda reúne duas entrevistas com Gullar, uma de 1965 e outra de 2014, e ensaios sobre nomes da literatura internacional, como o do grande poeta peruano César Vallejo, do enigmático Fernando Pessoa e de Rimbaud.
Contos Completos — Liev Tolstói (Cosac Naify)
O box reúne, em três volumes, todos os contos de Tolstói. Escritos entre 1850 e o início do século XX, os contos têm como pano de fundo uma época de intensa transformação da Rússia, marcada pelo início das relações capitalistas, guerras imperialistas sobre o Cáucaso e pelo constante ideal de modernização. Sempre dedicado aos camponeses, às classes baixas ou aos que estavam em conflito com alguma ordem dominante, ele orienta sua escrita para um questionamento do modelo literário europeu vigente.
Diários da Presidência — Fernando Henrique Cardoso(Companhia das Letras)
Com quase mil páginas, a obra é um retrato incômodo dos anos iniciais (1995-1996) do governo Fernando Henrique Cardoso. O primeiro de quatro volumes conta, por exemplo, que Pedro Malan, José Serra, Gustavo Franco e Pérsio Arida viviam em guerra; relata que Sarney queria ser presidente pela segunda vez; e afirma que o dono da “Veja” pedia canais de televisão.
História da Filosofia Ocidental — Bertrand Russell
(Nova Fronteira)
Monumental com suas quase mil páginas, a obra apresenta, de modo eclético e espirituoso, reflexões de um dos maiores pensadores dos séculos XIX e XX a respeito da filosofia ocidental, desde o período pré-socrático. Dividido em três volumes, o box é inédito no Brasil. Imperdível tanto para os amantes de filosofia quanto para quem quer conhecer um pouco mais sobre os grandes pensadores da história.
Histórias Civilizadas — James Frederico Rocha Coelho
(Gráfica e Editora América)
Em seus contos, James Frederico enfoca personagens acometidos e também castigados pela violência. “Histórias Civilizadas” é, então, uma ironia. O autor sublinha que tratar somente de polêmicas e tabus é muito chato e acentua que o banal, o clichê, também estão no mundo e não podem ser ignorados, devendo-se, assim, chamar a tudo e a todos para o palco.
Inventário — Heleno Godoy (Martelo)
Lançado já nas derradeiras semanas do ano, no mês de dezembro, a obra “Inventário — Poesia Reunida, Inéditos e Dispersos” reúne textos de Heleno Godoy escritos entre 1963 e 2015. O livro do poeta, professor e ensaísta foi publicado pela casa editorial goiana Martelo e tem organização da professora Solange Fiuza Cardoso Yokozama.
Lições de Literatura — Vladimir Nabokov (Três Estrelas)
Os manuscritos das aulas de literatura dadas em universidades americanas pelo escritor russo Vladimir Nabokov, que emigrara para o país na década de 1940, foram reunidos em dois volumes. O primeiro foi lançado no Brasil ainda em 2014; o segundo chegou às prateleiras neste ano. No livro, o escritor de “Lolita” (1955) examina clássicos de Jane Austen, Dickens, Flaubert, Proust, Kafka e James Joyce.
Michelangelo — Martin Gayford (Cosac Naify)
Vaidoso, ciumento, obsessivo, tímido, excêntrico e, claro, genial, Michelangelo Buonarroti transformou para sempre a ideia ocidental do que pode ser um artista. Se sua vida e a complexidade de suas obras podem ser comparadas à saga do herói da mitologia clássica Hércules, igualmente foi o esforço empreendido por Martin Gayford em sua biografia.
Ovelha — Gustavo Magnani (Geração)
“Ovelha — Memórias de Um Pastor Gay” é a primeira obra do escritor paranaense, o idealizador do maior blog literário do Brasil, Gustavo Magnani. “Polêmico e provocante”, o livro é sobre fé, paixão, sexo e loucura e, como o próprio subtítulo diz, conta a história de um pastor que, após descobrir uma grave doença, escreve um diário revelando sua homossexualidade.
Número Zero — Umberto Eco (Record)
A história se passa em 1992, ano em que se prefiguram mistérios e loucuras dos próximos 20 anos. É uma aventura amarga e grotesca que se desenrola na Europa do fim da Segunda Guerra. A obra do autor italiano é um manual do mau jornalismo que o leitor percorre sem saber “se foi inventado ou simplesmente gravado ao vivo”.
Paisagens humanas do meu país — Nazim Hikmet
(Editora 34)
Com tradução de Marco Syrayama de Pinto, “Paisagens humanas do meu país” é a obra máxima do poeta turco Nâzim Hikmet (1902-1963), que a ela dedicou aproximadamente 22 anos de trabalho, boa parte deles na prisão. Numa mistura de lirismo, revolta e compaixão, o resultado é um retrato comovente da conturbada história do tempo.
Submissão — Michel Houellebecq (Alfaguara)
Vencedor do Prêmio Goncourt, o livro foi considerado pela crítica como um dos mais polêmicos do ano. Com tradução de Rosa Freire d’Aguiar, a obra é comparada a “1984”, de George Orwell e a “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley. Sátira precisa e devastadora, “Submissão” trata dos valores da sociedade.
Wawekrurê: Distintos Olhares — Rodolfo Ward (Org., Senado Federal)
Publicado pelo Senado Federal, “Wawekrurê” é uma obra interdisciplinar, organizada pelo publicitário e fotógrafo Rodolfo Ward, que registrou a passagem do filósofo francês Edgar Morin pelo Estado do Tocantins. Trilíngue (português, inglês e francês), a obra tem textos de diversos intelectuais do Brasil e do Exterior, incluindo o próprio Edgar Morin e também o tocantinense Francisco Perna Filho, com o texto “Memória, Cultura e Arte”.
O Irmão Alemão — Chico Buarque (Companhia Das Letras, 2014)
Pelo artifício da ficção, o livro conta a história de um filho alemão do historiador Sérgio Buarque de Holanda. Sergio Günther, irmão mais velho de Chico Buarque, era jornalista, cantor e apresentador de TV na Alemanha Oriental, a comunista.
Poesia Reunida (1983 – 2013) — Edival Lourenço (Editora Ex Machina, 2014)
O volume reúne seis obras de um dos artistas goianos mais laureados, o presidente da seccional goiana da União Brasileira de Escritores, Edival Lourenço. São elas “Estação do Cio”, livro de estreia de 1983, “A Caligrafia das Heras”, “Enganos do Carbono”, “Coisa Incoesa”, “As Vias do Vôo” e a mais recente “Pela Alvorada dos Nirvanas”, de 2013.
Sem Vista Para o Mar — Carol Rodrigues (Edith, 2014)
Vencedor do Jabuti 2015 e do prêmio da Biblioteca Nacional, a obra reúne 21 contos que falam da fuga e da solidão do homem. O livro foi publicado graças ao incentivo de Marcelino Freire, com quem Carol cursara uma oficina de criação literária, intitulada “Quebras”. Os contos inovam por sua sonoridade e fuga da gramática ou da solidão humana.