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A boa intenção do ministro das Comunicações só é ruim para os usuários 

Políticos maldosos costumam sugerir, ao menos nos bastidores, que o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini (apontado como um sujeito radical, mas sério), é um dinossauro — só não dizem se tiranossauro rex ou spinossaurus (espinossauro). As ideias do petista são sempre modernas — se estivéssemos no século 18. Não à toa há quem, dentro do próprio governo, o apresente como “a vanguarda do atraso”. Fernando Collor, quando presidente, ousou chamar os automóveis brasileiros pelo nome verdadeiro — carroças motorizadas. Suas palavras (e ações), um retrato preciso da realidade, provocou duas mudanças. Primeiro, contribuíram para abrir as portas aos veículos produzidos no Japão, França, Alemanha, Suécia e Coreia do Sul. Logo os brasileiros descobriram que, pelo menos na questão dos carros, Collor dissera a verdade. Segundo, o fim da reserva de mercado — convém lembrar que a reserva de mercado na área de informática foi um desastre — obrigou as empresas que estavam instaladas no Brasil, como Volkswagen, Ford, Chevrolet e Fiat, a transformarem suas carroças em automóveis de fato. A concorrência, que possibilita ao consumidor fazer suas escolhas, melhorou o produto dito nacional.

Inspirando-se quem sabe no Policarpo Quaresma do romance de Lima Barreto, Ricardo Berzoini agora “implicou” com a Netflix e o WhatsApp. Os brasileiros apreciam séries e filmes da Netflix e a comunicação proporcionada pelo WhatsApp. Mas o ministro, aparen­temente usando a lógica, sublinha que os serviços de ambos — conhecidos como “Over the Top” — prejudicam as operadoras de telefonias instaladas no país. A lógica parece ser certeira: as empresas de telefonia, mesmo oferecendo serviços caros e de último mundo, geram empregos e, fundamental para o governo, pagam impostos.

Ricardo Berzoini propõe a regulação dos serviços de internet, so­bre­tudo aquele que “competem com os serviços de telecomunica­ções regulados pela legislação bra­si­lei­ra”, relata a Agência Câmara Notícias. O ministro frisa que é necessário resolver o que chama de “‘assimetrias regulatórias e tributárias’ e dar ‘tratamento equânime’ aos serviços de telecomunicações e os serviços chamados Over the Top (como Skype, Netflix, YouTube e WhatsApp)”. Puro palavrório pueril.

Talvez seja o momento de a presidente Dilma Rousseff, uma mulher moderna — que, como muitos políticos, aprecia “House of Cards” —, contratar um paleontólogo para “cuidar” de Ricardo Berzoini.