Planejar essa nova cidade e representá-la nas diretrizes urbanas, nos pactos territoriais, nas associações de bairro, nos cantos e nas ruas, esse é o desafio

Os planos diretores e de desenvolvimento precisam apontar para o futuro | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Marcelo Safadi
Especial para o Jornal Opção

Na encruzilhada você faz escolhas. Seja com intuição, com informação, com ideologia, sempre tomamos decisões e escolhendo caminhos. Assim são as pessoas e as comunidades. No âmbito de uma Nação, de um Estado, de uma cidade ou bairro, seguimos caminhos e vamos construindo uma lógica social, um pacto cidadão, valores de um povo.

Na sociedade moderna, os instrumentos legais se aprimoraram, mas as regras ainda não dão suporte aos acordos, tornando honestidade, ética e responsabilidade conceitos relativos. Nos grandes debates urbanos, se apresenta uma nova lógica social, onde as pessoas desnudam suas intenções com mais facilidade, e por consequência se responsabilizam moralmente por seus atos.

Nos exercícios democráticos da agenda urbana, temos situações muito semelhantes a uma sociedade empresarial ou a uma família. São necessárias tomadas de decisões.

Teremos que debater os custos urbanos e as prioridades. Na política urbana, cada um tem de expor seus interesses e a forma como pretende dividir o preço das decisões com seus pares. Uma cidade decidir pela redução das vias nos centros originais, históricos, é o resultado de muito trabalho, mas também da decisão de assumir posições de risco e não óbvias, assim como são todas as decisões que visam sustentabilidade e politicas de longo curso.

A obviedade do interesse individual e a miopia dos direitos iguais colocam nossa sociedade diante de um círculo vicioso. Para ser aprovado um plano, um pacto tem de ser popular. Ao ser popular, dificilmente tomará as decisões amargas. E nesta condição tomamos o conceito de vontade política com a qual recorrentemente apontamos para os políticos. Será que nós cidadãos temos vontade política?

Lavando as mãos, a sociedade  olha para suas decisões coletivas escapando das decisões difíceis e amargas – mas, por vezes, necessárias. No coletivo, posso me ocultar no voto secreto; no coletivo, se der errado, não foi culpa minha.

Às vezes temos de dar voltas, às vezes temos de mudar de rumo. A sociedade urbana no Brasil tem de avançar para outro patamar, os planos diretores e de desenvolvimento precisam apontar para o futuro. Nosso conformismo com a hipocrisia não serve para nosso momento.

Teremos de enfrentar o carro. Teremos de cumprir a lei de trânsito, do elevador, do condomínio. Temos de usar cinto de segurança, separar o lixo. Temos de ordenar nosso crescimento urbano, temos de limitar os territórios a sua capacidade de abastecimento de água.

Uma metrópole tem limite, um destino turístico também. Temos de tributar o patrimônio e não a produção. Temos de modificar o conceito de servidor público, de aposentadoria – não teremos mais aposentadoria em nossa sociedade em 2050.

Planejar essa nova cidade e representá-la nas diretrizes urbanas, nos pactos territoriais, nas associações de bairro, nos cantos e nas ruas, esse é o desafio. Abrir mão do direito que você nunca teve em prol de uma perspectiva que você nunca tinha pensado sobre ela.

 

Marcelo Safadi é superintendente de Assuntos Metropolitanos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima)