João Paulo Teixeira

A Amazônia quase não foi nossa. Se o Brasil tivesse feito como outros países sul-americanos, hoje poderíamos ter pelo menos mais cinco ou seis Guianas, administradas por potências europeias, cada uma explorando um pedaço da floresta.

Mas a história tomou outro rumo porque a ditadura civil-militar compreendeu algo que quase ninguém mais menciona: a soberania não se defende com discursos, mas com presença.

Nos anos 1960 e 1970, a geopolítica amazônica já estava traçada. A França, que nunca largou a Guiana Francesa, mantinha ali uma base sólida.

O Reino Unido tinha consolidado sua Guiana Britânica (hoje Guiana), e a Holanda, com seu Suriname, ainda governava o território como colônia. Se o Brasil não agisse, os estrangeiros fariam da Amazônia um espaço fragmentado, onde cada potência teria sua fatia.

Foi nesse contexto que o governo militar lançou sua política de ocupar para preservar. A lógica era brutal e direta: ou o Brasil povoava a Amazônia, ou assistiria sua dissolução territorial, lote a lote.

O Exército mapeou a região e começou a enviar gaúchos, catarinenses e paranaenses para povoar as terras amazônicas. O Norte, antes vazio, passou a ser preenchido por brasileiros que sabiam o que era construir algo do zero.

Se essas pessoas não tivessem ido, se essa ocupação não tivesse acontecido, talvez hoje tivéssemos um novo mapa da América do Sul, e a Amazônia não fosse mais nossa.

Exemplo do Acre: o Estado que já estava perdido

Quem duvida do que poderia ter acontecido com a Amazônia precisa apenas olhar para a história do Acre.

No final do século XIX, esse território não pertencia ao Brasil — era boliviano. E pior: estava sendo negociado com potências estrangeiras.

A Bolívia, com apoio da Inglaterra e dos EUA, criou o Bolivian Syndicate, um consórcio que arrendou o Acre para empresários estrangeiros.

Isso significava que, se o Brasil não reagisse, o Acre hoje poderia ser um enclave internacional, um pedaço de terra sob domínio estrangeiro dentro da América do Sul.

Foi só depois da Revolução Acreana, quando seringueiros brasileiros se revoltaram contra a ocupação boliviana, que o Brasil percebeu que não podia mais ignorar a questão.

O Barão do Rio Branco entrou em cena e negociou a devolução do Acre ao Brasil pelo Tratado de Petrópolis, em 1903. Mas essa história quase foi outra. Se tivéssemos demorado mais alguns anos, o Acre poderia ser hoje um território especial, como a Guiana Francesa, ou mesmo um estado independente, governado por empresas estrangeiras.

Emílio Médici (à direita) com Ernesto Geisel, em foto de 1973, ainda durante o governo do segundo | Foto: Reprodução

O que a ditadura militar fez e ninguém conta

O que os militares fizeram foi evitar que o resto da Amazônia passasse pelo mesmo destino que o Acre quase teve.

As potências estrangeiras nunca desistiram da ideia de que a floresta pertence ao “mundo”, e sempre que puderam, tentaram criar narrativas para esvaziar a soberania brasileira na região.

Foi por isso que a ditadura militar abriu estradas como a Transamazônica, incentivou a migração do Sul para o Norte e garantiu que, se alguém tentasse dizer que a Amazônia era terra de ninguém, haveria brasileiros para lembrar que não.

Hoje, pouca gente reconhece esse feito.

Muitos criticam os erros do regime militar — e há vários —, mas quase ninguém menciona o que teria acontecido se o governo não tivesse tomado essa decisão.

Sem a política de ocupação, o Brasil teria perdido território, e a Amazônia não estaria integralmente dentro de nossas fronteiras.

A história está aí para quem quiser aprender. O problema é que nem sempre queremos olhar para o que realmente nos salvou.

João Paulo Teixeira é publicitário, dono da agência Mind. É colaborador do Jornal Opção.