Vítimas de incêndio vão denunciar Odebrecht ao Ministério Público
28 julho 2016 às 13h19

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Empresa teria oferecido assistência aos assentados e fazendeiros e depois recuado, afirmando que não tem ligação com o incêndio
As vítimas de um incêndio que destruiu uma propriedade rural e parte de um assentamento do Incra no município de Caçu, no sudoeste goiano, vão denunciar a empresa Odebrecht ao Ministério Público de Goiás (MPGO). Segundo denúncia de fazendeiros e assentados, a queimada teria sido causada pela usina ETH Rio Claro, do Grupo Odebrecht.
Renato Dias, um dos assentados, disse em entrevista ao Jornal Opção que o grupo, formado por todos do assentamento e os fazendeiros que tiveram a propriedade atingida, registrou boletim de ocorrência e está juntando depoimentos e provas para levar ao MP. De acordo com Renato, eles tentaram um diálogo com os representantes da usina, mas foram tratados com descaso e, por isso, vão recorrer à Justiça.
Os fazendeiros e assentados reclamam que já se passaram mais de dez dias desde a queimada e eles continuam sem nenhum tipo de assistência por parte da empresa. Em uma primeira reunião logo após o incêndio, um funcionário da usina se reuniu com as vítimas do incêndio e disse que iria analisar os estragos causados pelo fogo.
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Nesse dia, contou Renato, o funcionário deixou a chegar seu telefone, o número do telefone de um gerente de gestão de pessoas e um papel timbrado da empresa para que os assentados pudessem fazer um levantamento de tudo o que foi queimado e apresentar um orçamento para a empresa.
Ricardo Vilela Ribeiro, proprietário da fazenda que foi totalmente destruída pelo fogo, afirmou que funcionários da usina chegaram a ir à sua propriedade para medir a área queimada, mas, depois disso, a empresa teria mudado de ideia. Em uma segunda reunião, no dia seguinte à primeira, os representantes da usina disseram que não tinham ligação com o caso e que não fariam nada.
Renato explicou à reportagem que a situação é muito crítica. “Somos 36 famílias. As mangueiras foram queimadas e as famílias estão sem água. Os animais estão sem ter o que comer e sem ter como beber água.” Mesmo com esse cenário a empresa não deu nenhuma assistência aos moradores.
O assentado contou ainda que a usina marcou uma nova reunião, inicialmente na tarde de quarta-feira (27/7), mas que foi transferida para esta quinta-feira (28), para tentar entrar em um acordo com as vítimas da queimada. “Eles só falaram de acordo agora porque viram que nós estamos nos mobilizando e vamos levar a denúncia pra frente”, declarou.
Responsabilidade da usina
Segundo o Boletim de Ocorrência, funcionários da usina colocaram fogo em uma “palhada” no último dia 14, o que havia sido avisado aos assentados e a um representante da Fazenda. No dia seguinte, 15, quatro assentados perceberam que o fogo não tinha sido devidamente apagado.
Foi no sábado, 16, que a queimada causou maiores estragos. Nesse dia houve uma ventania muito forte que acabou levando o fogo para uma Área de Preservação Permanente (APP), o assentamento e a fazenda vizinhos.
As casas só não foram atingidas, disse Renato, porque a própria comunidade resolveu tomar providências contra o fogo. A usina até chegou a mandar um caminhão para ajudar no combate ao incêndio, mas segundo relatos ele só chegou às onze horas da noite, quando os moradores do assentamento já haviam conseguido apagar o fogo.
Em nota ao Jornal Opção na última quarta-feira (27), a Unidade Rio Claro da Odebrecht Agroindustrial afirmou que foi a empresa que registrou o boletim de ocorrência e que trabalha juntamente com as autoridades para identificar os responsáveis pelo incêndio. A empresa ainda afirma que o fogo se iniciou em uma APP não pertencente à indústria e se estendeu a propriedades vizinhas.
A usina teria, de acordo com a nota, acionado a própria brigada de incêndio para o controle da queimada, mesmo não sendo a responsável pelo fogo, por fazer parte do Plano de Apoio Mútuo e Emergencial (PAME).