Flávia Furtado, 44 anos, ainda enfrenta risadas e comentários desconfortáveis por causa da sua cor. Mesmo tendo disputado e garantido sua cadeira de vereadora em Rio Verde, região tida como conservadora e de domínio de homens do agronegócio, ela diz ainda ser “confundida” com a faxineira. “Hoje, na Comissão dos Direitos Humanos e das Mulheres na Câmara Municipal, lutamos para mudar essa realidade”, defende.

Os comentários maldosos, não começaram e nem findaram com a conquista do seu mandato. Desde a época como secretária do prefeito do município, Furtado se incomodava com os olhares e comentários de outros funcionários que a viam com desprezo. “Quando o prefeito me convidou para ser candidata, eu fiquei com o pé atrás. Não tinha nem o apoio da minha família, não tinha recursos e mesmo assim ele acreditou em mim”, conta.

Apesar dos desafios, especialmente para uma mulher negra em um ambiente masculino e, em suma, branco, a primeira vereadora negra da cidade não encara o racismo com a cabeça abaixada. “Fui para a rua pedir voto, mostrando nosso trabalho. Foram 58 dias de intensa movimentação e muita sola dos sapatos”, desabafa.

O racismo nunca deu trégua, revela. Se na maioria das vezes sua voz não é sequer ouvida ou ignorada, há quem se aproveite das boas ideias e pautas que ela defende e “roubam” como se fossem dele. “Os homens se aproveitam e dizem que foi deles”, lamenta.

O desafio, para os próximos anos, é tornar a Câmara um ambiente mais democrático, com o acesso de mais mulheres no parlamento e a eleição de pessoas negras para representar a cidade.