Vereador de Planaltina que imitou macaco para colega negro chama situação de “mal-entendido”

16 novembro 2023 às 18h16

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O vereador Professor Lincon (Cidadania), de Planaltina, chamou de “mal-entendido” a situação em que imitou sons de macaco para um colega parlamentar negro em uma sessão dentro da Câmara, na última segunda-feira, 13. Por meio de nota publicada pelas redes sociais, Lincon disse que seu comportamento foi “completamente desprovido de qualquer intenção racista.”
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O professor diz que a figura de linguagem utilizada durante a sessão não foram imitações de um macaco, mas uma simples tentativa de atrapalhar a fala do colega com um “som aleatório”. A onomatopeia escolhida pelo parlamentar, no entanto, se assemelha ao grito de primatas. “AaaauUuuuhh”, repetiu o parlamentar enquanto tentava debater com um colega de Câmara.
Vereador imita macaco para colega negro
Lincon diz, que no calor do debate, o outro vereador teria utilizado a religião dele para atacar seu posicionamento político. “Respondi a ele por meio do gesto de abrir e fechar as mãos perto do ouvido, indicando que ele estava apenas fazendo barulho e algazarra. Essa também foi minha intenção ao proferir os sons. Não imitei macaco. Me expressei a respeito do barulho e da confusão. Não tive intenção de ofendê-lo pela cor de sua pele que, aliás, se parece com a minha. Todos que estavam lá perceberam isso, ninguém se manifestou ofendido, e a sessão continuou”, explicou.
O parlamentar afirma ainda, na carta divulgada nas redes, que é “pardo” e tem familiares negros. “Sou filho de pai negro, e já dei aula para milhares de alunos das mais variadas raças, cores, etnias, religiões e gêneros”, justifica.
Polícia Civil vai investigar o caso
Vereador vítima das ofensas, Carlim Imperador disse ter ficado constrangido e ofendido com as imitações. Ele afirmou ainda que procurou uma delegacia para denunciar o colega por injúria racial.
“Não é a cor, não é a condição social, que vai diferir um cidadão. Somos todos iguais perante a lei. Estou extremamente constrangido e ofendido com o professor Lincon. Um vereador, um professor, não pode cometer uma barbárie como essa”, afirmou.
Veja a carta do vereador Professor Lincon na íntegra
CARTA ABERTA DO VER. PROF. LINCON
Nas últimas horas, infelizmente, surgiram alegações bastante sérias contra minha pessoa. Fui acusado de proferir injúrias raciais durante uma sessão da Câmara Municipal de Planaltina, em um episódio lamentável envolvendo um colega vereador. O comportamento ocasionou um mal-entendido baseado em uma comunicação inadequada de minha parte, completamente desprovido de qualquer intenção racista.
No calor do debate, o Ver. Carlos Lopes Ribeiro havia usado minha religião a fim de atacar meu posicionamento político. Respondi a ele por meio do gesto de abrir e fechar as mãos perto do ouvido, indicando que ele estava apenas fazendo barulho e algazarra. Essa também foi minha intenção ao proferir os sons. Não imitei macaco. Me expressei a respeito do barulho e da confusão. Não tive intenção de ofendê-lo pela cor de sua pele que, aliás, se parece com a minha. Todos que estavam lá perceberam isso, ninguém se manifestou ofendido, e a sessão continuou.
Sou pardo, filho de pai negro, e já dei aula para milhares de alunos das mais variadas raças, cores, etnias, religiões e gêneros, desafio que alguém encontre algo em minha história que indique que eu seria capaz de uma atitude racista.
Se minha história fala por mim, a história do Ver. Carlos Lopes Ribeiro, que todos em Planaltina conhecem, fala quem é ele e qual é o seu objetivo. Como representante escolhido por vocês, valorizo profundamente a diversidade e reconheço a importância de combater o racismo e qualquer forma de discriminação. Por essa razão, reafirmo meu compromisso em cooperar plenamente com qualquer investigação oficial que for conduzida sobre o incidente. Estou pronto para prestar esclarecimentos e colaborar de todas as formas possíveis.
Peço à comunidade que aguarde os resultados das investigações antes de tirarem conclusões definitivas. Acredito na Justiça e confio que, por meio de um processo imparcial, a verdade será devidamente estabelecida. É fundamental que tenhamos paciência e permitamos que os fatos sejam apurados corretamente.
Asseguro a todos que estou plenamente ciente da seriedade desse momento e comprometo-me a aprender e crescer com essa experiência. Acredito que a educação, a conscientização e o diálogo são ferramentas cruciais para transformar nossa sociedade e promover a igualdade.
Reafirmo minha convicção de que toda e qualquer forma de discriminação é inaceitável em nossa sociedade. Assim, comprometo-me a intensificar meus esforços para combater o racismo e promover a justiça social em nosso município.
Neste momento de reflexão, reafirmo meu respeito por todos os cidadãos e minha disposição de me comprometer ainda mais com a construção de uma comunidade inclusiva e justa, na qual todas as pessoas possam ser ouvidas e valorizadas.
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