‘Vai embora, africano de merda’: bilhete racista faz zelador angolano pedir demissão em colégio de Anápolis
27 novembro 2025 às 10h37

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“Não sei você, mas eu tenho nojo da sua raça. Preto brasileiro é diferente, vai embora africano de merda” são duas frases escritas em um pedaço de papelão. O ‘recado’ recheado de racismo e xenofobia foi deixado, propositalmente, ao zelador do Colégio Objetivo Prime Kids, em Anápolis na última terça-feira, 25. O trabalhador se chama Almiro Osvaldo Martins, tem 21 anos e está no Brasil há sete meses – destes seis dedicados os serviços de manutenção, conservação e organização da escola.
O ato deixou Almiro Osvaldo Martins tão abalado e triste, que fez ele pedir demissão nesta quarta-feira, 26. Ele preferiu sair calado, porém o irmão mais velho, Paulino Martins, orientou que ele abrisse um boletim de ocorrência (B.O.) devido o crime de racismo. Além disso, não aguentou silenciar e concedeu entrevista exclusiva para o Jornal Opção. Esse ato não foi isolado. Primeiro uma “denúncia” de que tinha sumido dinheiro da bolsa do chefe. Segundo, uma menina fez uma reclamação de que tinha colocado sabão na comida dela. Narrativas e tentativas, segundo Paulino de incriminar Almiro.
Enquanto o angolano cuidava do Colégio sonhando em constituir família e ajudar parentes em outro continente, a pessoa planejava como externizar o seu preconceito. Racismo é a discriminação baseada na crença falsa de que uma raça é superior a outra. E xenofobia é a aversão contra pessoas de outras nacionalidades, culturas, etnias ou regiões.
Na visão de Paulino Martins, é muito contraditório que, no mês da Consciência Negra, situações como essas ainda se repitam. “Acho que, se a pessoa quer crescer, não precisa ferir ninguém. Meu irmão está arrasado; se não estivesse noivo, acredito que até iria embora de Anápolis”, afirma.
A questão é que deixar a cidade, para Almiro, não seria a solução, até porque, infelizmente, algo semelhante pode se repetir onde quer que ele esteja. A única parte boa dessa história é que Paulino acredita se tratar de um fato isolado, pois, na percepção dele, o brasileiro não é efetivamente racista. “Eu tenho certeza de que o brasileiro não é assim, porque conheço a cultura daqui e sei que essa pessoa não representa a cultura brasileira”, enfatiza.

O que os irmãos esperam? É que o Colégio tome providências que vão além da nota de repúdio publicada nas redes sociais da instituição de ensino. “Registramos recentemente um episódio de cunho racista, envolvendo um de nossos colaboradores, situação que contrariou de maneira grave os valores, que defendemos e praticamos diariamente”. Leia nota completa:

“Se essa pessoa continua, sem que seja descoberta, a gente não está cortado o mal pela raiz. A próxima pessoa preta que entrar lá no colégio pode acontecer de novo”, finaliza Paulino Martins. No Brasil, o racismo é crime inafiançável, com pena aumentada a partir da legislação de 2023, que passou a considerar a injúria racial como crime de racismo.
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