Um estudo publicado nesta semana na revista científica Nature revela que as vacinas de mRNA utilizadas contra a Covid-19 podem aumentar a eficácia dos inibidores de checkpoint imunológico (ICIs) — um dos principais tratamentos usados contra tumores agressivos. Os autores identificaram que pacientes recentemente vacinados apresentam melhora expressiva na sobrevida global quando iniciam a imunoterapia em até 100 dias após a aplicação do imunizante.

A pesquisa combinou resultados de modelos pré-clínicos e dados retrospectivos de grandes coortes humanas, incluindo pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células (CPNPC) e melanoma metastático. O mecanismo identificado indica que as vacinas de mRNA desencadeiam um pico de interferon tipo I (IFNα), o que ativa células de defesa e promove infiltrado de linfócitos T no microambiente tumoral — processo que torna os tumores mais responsivos aos ICIs.

Segundo o artigo, essa modulação imune transforma tumores considerados “frios” (pouco responsivos à imunoterapia) em tumores “quentes”, isto é, capazes de serem reconhecidos pelo sistema imune e atacados com maior eficácia.

Resultados clínicos

Os dados apresentados na Nature mostram impacto direto na sobrevida:

  • Câncer de pulmão: pacientes vacinados até 100 dias antes da imunoterapia tiveram sobrevida mediana de 37,3 meses, contra 20,6 meses nos não vacinados.
  • Melanoma metastático: a taxa de sobrevida em 36 meses saltou de 44,1% para 67,6% entre os vacinados.
  • Entre pacientes com tumores pouco expressivos em PD-L1 (TPS < 1%), tradicionalmente resistentes à imunoterapia, a resposta foi “restaurada” após a vacinação.

Outro dado relevante é o aumento médio de 24% na expressão de PD-L1 em tumores de pacientes vacinados, tornando-os mais responsivos ao bloqueio de checkpoint.

Mecanismo imunológico

O estudo identifica três etapas centrais:

  1. Surto inicial de IFNα induzido pela vacina, ativando a imunidade inata.
  2. Apresentação aumentada de antígenos tumorais, estimulando linfócitos T CD8+.
  3. Infiltração tumoral e aumento de PD-L1, o que potencializa a eficácia dos ICIs.

Os autores demonstram ainda que bloquear o IFN-I elimina o efeito antitumoral, confirmando o mRNA como modulador chave do sistema imune.

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