União Europeia mira terras raras para garantir ímãs para carros elétricos; entenda

22 setembro 2025 às 17h49

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Executivos da indústria automobilística europeia estão se mobilizando para garantir suprimentos de ímãs de terras raras, componentes críticos para motores de veículos elétricos, em meio à escassez global e à dependência histórica da China.
Nesta sexta-feira, 19, a Neo Performance Materials inaugurou uma fábrica de US$ 75 milhões em Narva, na Estônia, capaz de produzir ímãs suficientes para abastecer até 1 milhão de carros por ano. A produção inicial, limitada a 2.000 toneladas ao ano — cerca de um décimo da demanda europeia —, poderá ser expandida a partir de 2027, conforme a demanda das montadoras cresce.
“Com exceção da Neo, não há capacidade de fabricação de ímãs para motores de tração de veículos elétricos no Ocidente”, afirmou Marvin Wolff, analista da Paradigm Capital à Bloomberg. A Neo vai fornecer seus próprios insumos, importados da Austrália, e já assinou contratos plurianuais de cinco a sete anos com valores entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões. A expectativa é iniciar as entregas em 2026.
O CEO da Neo, Rahim Suleman, destacou a importância estratégica do projeto. “Este é o projeto de materiais críticos mais importante em ação na Europa hoje”, disse à Bloomberg, lembrando que a construção da fábrica levou menos de 500 dias, dentro do prazo e orçamento previstos.
A inauguração contou com a presença do primeiro-ministro estoniano Kristen Michal, representantes da General Motors e fornecedores como Bosch, Schaeffler e Mahle. A Bosch já reservou uma parte significativa da produção anual de ímãs.
A fábrica na Estônia chega em momento crítico. Em abril, a China restringiu fortemente a exportação de algumas terras raras em retaliação às tarifas impostas pelos Estados Unidos. Em agosto, a escassez de ímãs causou sete paralisações na produção europeia, e mais 46 interrupções eram esperadas ainda este mês, segundo a Câmara de Comércio da UE na China.
Ímãs de neodímio, como os produzidos pela Neo, convertem energia elétrica das baterias em movimento, sendo essenciais para carros elétricos, mas também usados em smartphones, turbinas eólicas e jatos de combate. A escassez já forçou a Ford a suspender a produção do utilitário esportivo Explorer por uma semana.
A decisão da Neo de construir na Estônia foi tomada em 2022, meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia, que afetou a economia europeia. A empresa já possui dez fábricas globalmente, incluindo EUA e China.
Montadoras europeias, como BMW, Volkswagen e Mercedes-Benz, estão acelerando a produção de elétricos diante da meta de 2035, quando novos veículos a combustão serão proibidos de circular na União Europeia. Embora haja tentativas de suavizar regras, a tendência pelo elétrico não mudou.
Nos Estados Unidos, a General Motors também busca diversificar fornecedores, assinando contratos com empresas como Noveon Magnetics, MP Materials e E-Vac Magnetics, garantindo suprimentos domésticos de ímãs de terras raras. A MP Materials terá capacidade anual superior à da Neo, atendendo também a Apple e construindo uma fábrica financiada pelo Pentágono.
A iniciativa da Neo e de montadoras ocidentais reflete a busca por segurança na cadeia de suprimentos em meio à crescente tensão geopolítica. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, destacou a importância estratégica do projeto em reunião do G7, enquanto o primeiro-ministro canadense Mark Carney exibiu ímãs da Neo como exemplo do potencial de fornecimento de terras raras pelo Ocidente.
“Todos os outros na indústria fazem promessas sobre o futuro. Nós construímos em menos de 500 dias”, afirmou Suleman.
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