Primeira mulher negra diretora do Banco Central dos EUA é demitida após enfrentar Trump

26 agosto 2025 às 14h56

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A economista Lisa Cook, nomeada em 2022 pelo então presidente Joe Biden como a primeira mulher negra a integrar o Conselho de Governadores do Federal Reserve (Fed), foi afastada do cargo nesta segunda-feira, 25, pelo presidente Donald Trump. A decisão foi anunciada nas redes sociais.
Trump justificou a medida alegando “justa causa” — dispositivo da lei de criação do Fed que prevê demissões em casos de falta grave — e acusou Cook de fraude hipotecária, por supostamente declarar duas residências como principais para obter melhores condições de financiamento. No entanto, especialistas ressaltam que a legislação não concede ao presidente autoridade direta para remover membros do Conselho sem comprovação robusta de irregularidades.
Em nota divulgada por meio de seu advogado, Cook classificou a demissão como “ilegal” e reafirmou que não pretende renunciar. “O presidente Trump alegou ter me demitido ‘por justa causa’ quando não há justa causa prevista em lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo. Continuarei a cumprir meus deveres para ajudar a economia americana, como venho fazendo desde 2022”. O caso agora está sob análise do Departamento de Justiça.
Trajetória
Antes de integrar o Fed, Lisa Cook construiu uma carreira acadêmica e política marcada pela representatividade. Foi professora de economia e relações internacionais na Universidade Estadual de Michigan, economista em Oxford e doutora pela Universidade da Califórnia, Berkeley. Pesquisou os efeitos da discriminação racial sobre a economia dos EUA, o impacto das crises sobre populações vulneráveis e atuou na recuperação de Ruanda após o genocídio de 1994.
Fluente em cinco idiomas, incluindo o russo, Cook também integrou o Conselho de Assessores Econômicos de Barack Obama e trabalhou no Departamento do Tesouro americano. Sua indicação ao Fed foi recebida como um marco, mas também alvo de críticas de setores que temiam politização da política monetária em meio à inflação mais alta em quatro décadas.
No Conselho, participou diretamente de decisões sobre juros, defendendo uma postura cautelosa diante da inflação persistente e dos riscos à estabilidade econômica.
A demissão de Cook é vista como um ataque sem precedentes à autonomia do Federal Reserve, instituição responsável por conduzir a política monetária americana de forma independente do governo. Juristas e analistas alertam que a decisão de Trump pode gerar uma crise institucional, já que abre margem para questionamentos sobre a segurança de mandatos considerados até então blindados contra pressões políticas.
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