Três funcionários da Equatorial são indiciados por homicídio culposo pela morte da adolescente Náthaly Rodrigues
13 novembro 2025 às 09h57

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Três funcionários da Equatorial foram indiciados pela Polícia Civil por homicídio culposo pela morte da adolescente Náthaly Rodrigues, de 17 anos, no último dia 23 de setembro. A adolescente recebeu uma descarga elétrica após um fio da rede de energia romper durante o temporal que caiu em Goiânia no dia da morte da jovem. Eles também vão responder por lesão corporal culposa pelos ferimentos causados no operador de máquinas, Wil Robson dos Reis, que também tomou choque, porém conseguiu escapar com vida, tendo queimaduras de 2º grau.
Em entrevista ao Jornal Opção, o delegado Fernando Martins conta que esses funcionários são um supervisor, um gerente e um operador do Centro de Operações da concessionária. Ele explica que a perícia constatou que, pela força da chuva, um cabo de energia encostou no outro, deram um curto-circuito e se romperam. O Centro de Operações constatou a anomalia na região devido ao dispositivo chamado religador automático, que deve fazer o desligamento e religamento de energia automático em situações como essa.
Entretanto, o delegado afirma que ele foi desabilitado manualmente devido à oscilação constante em razão da forte chuva e ventania. Ele funciona como um dispositivo de segurança . “Nesse caso, o sistema passou a receber comandos manuais do Centro de Operações da Equatorial, ou seja, da distribuidora de energia. Nesse Centro, havia um operador, um supervisor e um gerente. O rompimento ocorreu por volta das 16h45. A descarga elétrica que o jovem recebeu foi às 17h15. O operador, que estava fazendo os comandos manuais, não sabia a dimensão do que tinha ocorrido em campo, que os cabos estavam soltos e em contato com a água. Ele retomou a energia naquele ponto específico, sem ver o que estava acontecendo, porque o religador automático não detectou os cabos rompidos”, explica.
O delegado conta ainda que o sistema indicou baixa amperagem, pois, dos três cabos existentes no local, apenas dois haviam se rompido; o terceiro ainda continuava recebendo energia. “Quando o operador restabeleceu o fornecimento, houve uma energia de retorno do cabo intacto para os dois rompidos. Eles receberam baixa intensidade, mas o suficiente para gerar o acidente. O religador automático não foi sensibilizado por essa situação, chamada tecnicamente de falta por alta impedância — uma baixa intensidade que os cabos recebiam e que o sistema não identificou como falha”, pontua.
Omissão
Segundo o delegado, houve omissão dos profissionais pelo fato de que a situação poderia ter sido evitada caso tivesse sido encaminhada uma equipe no endereço para verificar a situação do local antes do restabelecimento da energia. “Eles tiveram cerca de 30 minutos entre o rompimento (16h46) e a descarga elétrica (17h15) para deslocar uma equipe e verificar o que estava acontecendo. Em vez disso, religaram a energia manualmente, com os cabos rompidos submersos em água. Do ponto de vista penal, houve omissão, imprudência e negligência da equipe do Centro de Operações pelos três funcionários, todos com relação direta com o evento”, pontua o delegado.
Dos profissionais indiciados, o delegado conta que dois dos indiciados tinham mais de 20 anos de experiência, o que demonstra que eles já se depararam com situações semelhantes e tinham conhecimento do risco. A perícia pontuou ainda que Náthaly Rodrigues recebeu uma descarga que tinha cerca de 1.156 volts. Segundo o delegado, o inquérito será encaminhado ainda nesta quinta-feira, 13, ao Poder Judiciário.
Por meio de nota, a Equatorial disse que “até o presente momento, não consta nos autos do inquérito policial qualquer relatório conclusivo sobre o caso.” Informou ainda que “a companhia acompanhará o andamento das investigações pelas vias oficiais e, tão logo tenha acesso formal às conclusões, adotará as medidas cabíveis.”
“A distribuidora ressalta que, em nenhum momento, as informações fornecidas às autoridades mencionam falha ou defeito na rede de energia elétrica da região. Ressalta-se que a infraestrutura do sistema encontrava-se regular e que as manobras operacionais realizadas no dia do ocorrido seguiram rigorosamente os protocolos técnicos aplicáveis ao setor elétrico e o laudo da polícia científica conclui que o evento está relacionado a fatores externos ao fato, corroborando as informações já apresentadas pela empresa às autoridades”, finaliza a nota.
O Jornal Opção entrou em contato com advogado Guilherme Alves Machado, que representa os três indiciados, e aguarda um posicionamento.
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