Tratamento inédito para reverter lesão medular terá teste clínico em São Paulo

13 setembro 2025 às 17h29

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Um medicamento desenvolvido por pesquisadores brasileiros, capaz de regenerar células da medula espinhal e devolver parcial ou totalmente a mobilidade de pacientes, avançará para a fase clínica de testes em São Paulo. A polilaminina, substância obtida a partir de uma proteína extraída da placenta, recebeu aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e será aplicada em cinco pacientes em hospitais de referência do estado.
O tratamento exige apenas uma dose, seguida de fisioterapia para reabilitação. A pesquisa é conduzida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o laboratório Cristália, e conta ainda com o apoio do Hospital das Clínicas da USP, responsável pelas cirurgias, e da AACD, que fará o acompanhamento da reabilitação. Na etapa inicial, a Santa Casa e o Hospital Municipal de Itapira colaboraram com a coleta voluntária de placentas.
A polilaminina foi desenvolvida pela bióloga Tatiana Coelho Sampaio, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, e é apontada como uma alternativa mais acessível e segura do que as terapias com células-tronco, consideradas de difícil previsibilidade. Descoberta em 2007, a pesquisa foi incorporada pelo Cristália em 2018 e formalizada como parceria em 2021.
Segundo os pesquisadores, os melhores resultados são observados quando o medicamento é aplicado até 24 horas após o trauma, mas há benefícios também em casos antigos. Cerca de dez pacientes já receberam a substância em caráter experimental, sem registro de efeitos colaterais, e apresentaram melhora significativa na recuperação motora.
Casos como o de Bruno Drummond de Freitas, que sofreu um grave acidente de trânsito em 2018 e recebeu a polilaminina um dia após a lesão, reforçam a esperança em torno do tratamento. O prognóstico inicial era de tetraplegia permanente, mas, após fisioterapia intensiva, ele voltou a andar e hoje leva vida normal. Outra paciente, Hawanna Cruz Ribeiro, que caiu do terceiro andar durante uma crise de sonambulismo, recebeu o medicamento em 2020. Hoje, aos 27 anos, ela é atleta paralímpica de rugby em cadeira de rodas pela seleção brasileira.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 250 mil e 500 mil pessoas sofram lesão medular por ano em todo o mundo. Até agora, não havia tratamento medicamentoso eficaz disponível. Embora os primeiros resultados sejam considerados promissores, a Anvisa ressalta que o medicamento ainda passará por outras fases de avaliação antes de um eventual registro.
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