Estudos recentes feitos por pesquisadores do King’s College London e da Universidade de Helsinque, na Finlândia indicam que tratar infecções de canal pode trazer benefícios que vão além da saúde bucal. Os pesquisadores acompanharam 65 pacientes e observaram melhorias importantes em marcadores de inflamação e nos níveis de açúcar no sangue ao longo de dois anos.

De acordo com a publicação, a equipe identificou reduções significativas na glicose sérica e em indicadores frequentemente elevados em pessoas com risco cardiovascular. Como o excesso de açúcar no sangue está ligado a complicações cardíacas e neurológicas, os achados chamam atenção por extrapolarem o campo da odontologia.

Embora o estudo seja observacional e não comprove relação direta de causa e efeito, os pesquisadores acreditam que infecções crônicas dentro ou ao redor dos dentes podem liberar substâncias inflamatórias na corrente sanguínea. Esse processo desencadearia uma reação em cadeia capaz de alterar o metabolismo, influenciando a resistência à insulina e dificultando o controle do açúcar.

Drª Silvia Lima é especialista em periodontia | Foto: Arquivo Pessoal

Em entrevista exclusiva para o Jornal Opção, a médica periodontista Silvia Lima explica que existia a interpretação errônea de que dentista cuidava apenas da saúde bucal, o que é não é verdade, justamente pelo fato do organismo estar completamente interligado.

“A odontologia está evoluindo para a prevenção de qualquer inflamação ou infecção na boca. E o tratamento das condições, que afetam negativamente a saúde bucal beneficia o organismo como um todo. Tratando e prevenindo essas infecções, a gente melhora o bem-estar do paciente como um todo”, elucida.

Os microrganismos presentes na boca influenciam o metabolismo e têm relação com maior risco de diabetes e doenças cardíacas. Tanto é que o estudo na Finlândia comprovou que, três meses após o tratamento de canal, os exames apontavam queda nos sinais inflamatórios. Após dois anos, vários marcadores metabólicos, incluindo a glicemia, apresentavam melhorias.

“Quando o paciente possui um pico de glicemia e tem um descontrole na diabetes, normalmente, a condição periodontal se apresenta mais alterada. Então, quando a gente trata a condição bucal, o metabolismo da diabetes também tende a ser mais tranquilo e vice-versa”, explica Silvia Lima.

A dentista orienta, especialmente, aos diabéticos que cuidem da saúde bucal. Primeiro, no uso correto do fio dental e da escova de dentes, além de voltarem com mais regularidade ao consultório odontológico. “Normalmente, o dentista entra em contato com o médico que acompanha esse paciente para entender melhor o caso. E, ele tem que confiar nos profissionais que estão acompanhando – tanto o médico como o dentista”.

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