Trabalhadores da Cifarma aderem à paralisação organizada por sindicato

10 setembro 2025 às 16h07

COMPARTILHAR
Na manhã desta quarta-feira, 10, trabalhadores da indústria farmacêutica Cifarma, em Goiânia, aderiram à paralisação convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Química, Farmacêutica e de Material Plástico do Estado de Goiás (Sind.Q.F.P-GO).
O movimento ocorreu entre 5h20 e 9h. Em frente à fábrica, dirigentes sindicais realizaram uma assembleia para aprovar a pauta de reivindicações. Entre as principais demandas, os funcionários destacaram pagamento integral do FGTS; melhorias no vale-alimentação; e reajuste salarial justo.
Segundo o sindicato, a Justiça do Trabalho condenou a Cifarma a pagar mais de R$ 3,4 milhões por não recolher o FGTS em 2021. Ao Jornal Opção, o presidente Francisley Martins informou que o protesto foi contra o não cumprimento de direitos previstos na Convenção Coletiva da categoria.
“Os pontos centrais que motivaram a paralisação foram o não recolhimento do saldo de FGTS, a questão do Vale Alimentação e a imposição da empresa de descontar o benefício quando o trabalhador apresenta um atestado médico”, afirmou. Segundo ele, a situação afeta cerca de 780 funcionários da indústria.
Martins explicou que a empresa entrou recentemente em recuperação judicial, estratégia que tem usado, segundo o presidente sindical, para justificar o não cumprimento de direitos trabalhistas. “Eles utilizam a recuperação judicial como artifício para não recolher o FGTS, não aplicar reajuste no Vale Alimentação e suprimir o direito do trabalhador de receber o benefício quando apresenta atestado médico”, disse.
Ainda na tarde desta quarta, houve uma audiência na Justiça do Trabalho, que questionava a legalidade da greve. “Teve audiência com a participação do nosso sindicato, do Sindicato Patronal e de advogados e representantes de outras empresas filiadas ao Sindicato Patronal. Avançamos nas negociações, mas não houve consenso para validar a Convenção Coletiva”, afirmou Martins.
Um dos pontos mais criticados pelo sindicato é a forma como a empresa aplica o Vale Alimentação. “Todas as indústrias do ramo farmacêutico devem pagar, no mínimo, R$ 250 em Vale Alimentação. A Cifarma, no entanto, paga apenas R$ 200 e ainda pune o trabalhador que apresenta atestado médico, fazendo com que ele trabalhe doente para não perder o benefício”, explicou Martins.
Posição da Cifarma sobre a paralisação
A vice-presidente da Cifarma Sônia Braga concedeu entrevista à reportagem e apresentou a versão da empresa sobre a manifestação. Segundo ela, a mobilização foi mais uma tentativa do sindicato de se aproximar dos trabalhadores.
“Eles estão querendo fazer uma demonstração para os funcionários, talvez para mostrar a atuação do sindicato. Trouxeram um café da manhã, colocaram caminhão de som, faixas, e fizeram essa manifestação pedindo apoio dos empregados. Mas, na verdade, não é todo mundo que quer ser sindicalizado”, afirmou.
Em relação às pautas apresentadas, Sônia Braga rebateu algumas reivindicações. Sobre o vale-alimentação, a executiva defendeu que a Cifarma mantém um dos melhores restaurantes corporativos de Goiás, oferecendo café da manhã, almoço, lanche e jantar, dependendo do turno. O benefício em cartão, segundo ela, existe apenas como complemento para funcionários de menor renda.
“Existe um cartão que é um benefício extra para quem ganha até o piso salarial, como uma cesta básica. Não é para todos porque a alimentação principal é feita dentro da empresa, inclusive eu e meu marido comemos aqui. Houve um erro de interpretação quando o sindicato falou em falta de vale-alimentação.”
Quanto ao reajuste salarial, a vice-presidente explicou que a empresa aplicou o aumento previsto em lei, já que a convenção coletiva ainda não havia sido fechada.
“Nós temos uma política interna de benefícios muito ampla, que inclui auxílio educação, seguro de vida ampliado, plano de saúde sem custo, mentoria. O sindicato, no entanto, quer que a empresa retire esses benefícios internos e mantenha apenas os que passam pelo sindicato, o que consideramos um prejuízo para os trabalhadores.”
Martins rebateu: “Esses benefícios não substituem os direitos garantidos na Convenção Coletiva. O sindicato jamais pediu que a empresa retirasse benefícios; apenas exige que cumpra os direitos estabelecidos legalmente, como o Vale Alimentação”, disse.
Sobre o FGTS, Sônia Braga garantiu que a situação está regularizada. “O FGTS está sendo pago normalmente. Houve um atraso no passado, mas já existe um parcelamento em andamento e todos os recolhimentos estão sendo cumpridos. Nenhum funcionário fica sem receber o FGTS quando se desliga da empresa.”
Martins relatou que a empresa só começou a regularizar os pagamentos após a ação judicial movida pelo sindicato, estimando que o valor devido aos trabalhadores ultrapassa R$ 3 milhões.
Por fim, a executiva criticou a postura de alguns manifestantes, afirmando que houve relatos de agressões verbais contra funcionários que tentavam entrar na fábrica.
“Eles têm o direito de se manifestar, mas não de agredir verbalmente quem queria trabalhar. Alguns funcionários ficaram tão abalados que tiveram crises de ansiedade. Nossa gerente de RH precisou intervir. Depois de duas horas, o movimento se dispersou e o trabalho voltou ao normal.”
Sobre denúncias de assédio durante a paralisação, Martins afirmou que o movimento foi pacífico. “Os trabalhadores que não aderiram são, em geral, gerentes ou encarregados. Os conflitos foram pontuais e não houve agressões físicas ou situações fora do controle”, disse.
Martins ressaltou que os pontos em disputa afetam diretamente cerca de 90% dos trabalhadores, cuja remuneração média está em R$ 1.567. “Os trabalhadores estão exercendo um direito fundamental, apresentando atestados médicos sem sofrer penalizações. A empresa, ao impor descontos, está induzindo o trabalhador a trabalhar doente, o que é inaceitável”, afirmou.
A audiência na Justiça do Trabalho, segundo o sindicato, marcou o avanço das negociações, mas sem consenso final. Martins concluiu: “O nosso objetivo não é prejudicar a empresa, mas garantir que os direitos garantidos na Convenção Coletiva sejam respeitados. Enquanto isso não acontecer, continuaremos defendendo os trabalhadores”.
Leia também: