Esta é a quarta reportagem de uma série especial intitulada “Mês Orgulho LGBT+”, que celebra as conquistas, a diversidade e os direitos das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer e demais identidades, orientações sexuais e de gênero.

O Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) realiza o primeiro casamento comunitário gratuito para a população LGBT+ do estado. A cerimônia acontece na próxima sexta-feira, 28, o dia do Orgulho LGBT+, no Jardim Suspenso do Fórum Cível no Parque Lozandes, e deve reunir mais de 150 casais, seus familiares e amigos.

Em entrevista ao Jornal Opção, a juíza Patrícia Bretas, que está à frente do projeto, conta que o projeto “já é um sucesso”. Foram abertas inscrições para 200 casais e a procura foi totalmente suprida cinco dias após o início das divulgações. A expectativa da magistrada é de que, dos 200 casais, cerca de 150 a 170 deles consigam cumprir as obrigações burocráticas ligadas ao casamento e, finalmente, participem da cerimônia no dia 28.

“A gente está aqui para assegurar direitos”, afirma a juíza ao se referir à importância da oficialização desses relacionamentos. A oficialização do matrimônio garante direitos legais como divórcio e herança, além de ser um facilitador para questões ligadas à adoção. “Nos últimos cinco anos, em Goiânia nós tivemos 800 casamentos LGBT. Em um dia nós vamos fazer quase um quarto disso”, celebra a juíza. 

Segundo explica Patrícia, no dia do Orgulho LGBT+ acontece a entrega das certidões e uma cerimônia para os casais, mas é preciso ir aos cartórios nas semanas anteriores para assinar as documentações e definir os detalhes do regime de casamento. A expectativa de Patrícia é que novas edições continuem acontecendo, já que a demanda foi comprovada.

Andréia e Adriana 

Ao Jornal Opção, Andréia Corrêa Péres e Adriana Cardoso Botosso, que se casaram no dia 10 de junho e vão oficializar a união durante a cerimônia do dia 28, compartilharam parte de sua história. O casal se conheceu durante o réveillon de 1989 para 1990, no então Clube Social Feminino. Andréia conta que estava chegando no evento com sua prima quando viu Adriana na bilheteria, “quando eu bati o olho na Adriana eu falei ‘é hoje’”, compartilhou bem humorada. 

Ao todo, são 34 anos de relacionamento. No primeiro ano de relação, as duas esconderam seu envolvimento da família. “O pessoal ficou meio desconfiado, sem ter certeza do que estava acontecendo”, explicou. Por fim, se decidiram: “depois a gente resolveu enfrentar, porque se você não enfrenta, ninguém te respeita”. Hoje, a família de ambas já abraçou a união do casal. “Muita luta, momentos de felicidade, momentos de tristeza, mas sempre de mãos dadas”, concluiu orgulhosa. 

Andréia e Adriana nos primeiros anos de relacionamento l Foto: Arquivo.

Quando questionada sobre a importância da oficialização da união, Andréia diz que “a partir do momento que você sabe que você está seguro perante a lei, isso é muito importante, muito válido”. O apoio da família junto da oficialização legal garante “direitos que também nos cabem”, finaliza. 

Fábio e Kelvyn 

Fábio Divino Teles e Kelvyn Matos da Paz também vão participar do casamento comunitário do TJ-GO. O casal, de 33 e 27 anos, já estão juntos há quase sete anos. Os dois se conheceram através da internet e, após alguns meses, decidiram namorar. Pouco mais de um ano depois, os dois se tornaram noivos. Inicialmente, o casamento não foi possível por questões financeiras, já que os dois são estudantes. Dessa forma, o casamento comunitário gratuito do TJ-GO se mostrou como a oportunidade perfeita. 

“Inicialmente, o relacionamento com a família dele foi um pouco conturbado”, afirmou Fábio. Os pais de Kelvyn só foram conhecer o noivo do filho quase três anos depois do início do relacionamento deles. “O pai dele, em início, aceitou a gente de boa, porque ele já era assumido na época até então… mas a mãe dele teve um pouco mais de trabalho”, compartilhou. Com o passar do tempo e ajuda do pai e do irmão de Kelvyn, Fábio se entendeu com a sogra. “Ela já aceitava, mas não aceitava, como é normalmente na maioria das famílias. Não aceitam muito bem no começo, mas com o passar do tempo vão se acostumando”, resumiu. 

Fábio e Kelvyn l Foto: Arquivo.

“A gente só quer a nossa própria família, nós queremos só a nossa segurança”, Fábio explica ao falar da importância da oficialização da união do casal, que tem planos de ter filhos e construir uma casa juntos.

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