O novo Relatório Estado do Clima 2025, divulgado na quarta-feira, 29, pela revista científica BioScience, mostrou um  sinal vermelho sobre o futuro da Terra. Segundo o levantamento, 22 dos 34 “sinais vitais” do planeta estão em nível crítico, enquanto os 12 restantes seguem em forte declínio. A conclusão dos pesquisadores é que o sistema climático global está se aproximando de um ponto de não retorno, que pode levar o planeta a um regime de “estufa” permanente, em que o aquecimento continuaria mesmo com uma drástica redução nas emissões de carbono.

O estudo foi conduzido por uma coalizão internacional de cientistas e divulgado pelo Instituto Americano de Ciências Biológicas. O documento traz “provas contundentes” de que a crise climática está “acelerando a um ritmo alarmante” e destaca que a Terra “se está a aproximar do caos climático”.

O pesquisador William Ripple, da Universidade Estadual do Oregon, um dos autores do relatório, alerta que “a ultrapassagem de um ponto de inflexão pode desencadear uma cascata de outras ultrapassagens, sendo a maioria das interações desestabilizadoras”. Para ele, o planeta está cada vez mais próximo de um cenário de colapso climático total.

Desequilíbrio em “sinais vitais”

Em 2025, as concentrações de dióxido de carbono atingiram níveis recordes. Segundo os cientistas, isso se deve, em parte, à redução da capacidade de absorção de carbono pela vegetação terrestre, impactada pelo fenômeno El Niño e pelo aumento dos incêndios florestais. “O aquecimento acelerado, o reforço de reações e pontos de inflexão tornam mais provável uma trajetória perigosa de intensificação do efeito de estufa”, afirmam os autores do estudo.

Entre os chamados “sinais vitais” da Terra, os pesquisadores analisam indicadores como a concentração de dióxido de carbono e metano na atmosfera, o calor acumulado nos oceanos, as variações no nível do mar e a frequência de dias extremamente quentes em comparação à média histórica entre 1961 e 1990. A maioria desses indicadores atingiu níveis inéditos em 2024, e a tendência de alta continua em 2025. O último ano foi o mais quente já registrado desde o início das medições modernas.

O aumento do calor oceânico, o derretimento das geleiras e o branqueamento em massa dos recifes de corais também foram destaques negativos. Atualmente, a temperatura média global já está 1,6°C acima dos níveis pré-industriais. Se nada for feito, o planeta pode aquecer até 3,1°C até o fim do século. O relatório adverte que “essa estabilidade está agora dando lugar a um período de mudanças rápidas e perigosas”.

Riscos globais

O documento identifica quatro riscos climáticos principais: o ciclo de retroalimentação do efeito estufa, a perda acelerada de biodiversidade, a escassez de água doce e o enfraquecimento da Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico (AMOC), um conjunto de correntes oceânicas que transporta calor para o Hemisfério Norte.

Se o sistema colapsar, as consequências podem ser desastrosas, incluindo alterações severas nos padrões de chuva e frio extremo em várias regiões.

Outro ponto crítico é o derretimento do permafrost, o solo permanentemente congelado das regiões polares que armazena grandes quantidades de carbono. Quando esse solo descongela, libera gases de efeito estufa, amplificando ainda mais o aquecimento global. O mesmo ocorre com o colapso das calotas polares, que reduz a capacidade do planeta de refletir a luz solar, intensificando o calor.

O pesquisador Michael Mann, do Centro Penn para Ciência, Sustentabilidade e Mídia, reforça que “o foco deve ser a rápida descarbonização, para estabilizarmos o aquecimento abaixo de níveis perigosos”, afirmou à Live Science. Ele lembra que cada décimo de grau evitado faz diferença na preservação da vida e da estabilidade climática.

Um caminho ainda possível

Apesar do cenário crítico, o relatório não descarta a possibilidade de reversão. Os autores afirmam que ainda há tempo para limitar o aquecimento global se as nações agirem “com ousadia e rapidez”. Ripple destaca que alguns países já deram passos importantes, como a eliminação do uso do carvão e o controle de emissões de metano.

O Reino Unido, a Irlanda, a Suíça e a Noruega, por exemplo, eliminaram completamente o carvão de suas matrizes energéticas. A União Europeia e a Nigéria também fizeram progressos na redução de emissões.

Outro dado animador vem da Amazônia: as taxas de desmatamento caíram, e a produção de energia renovável bate recordes sucessivos. “Este relatório é tanto um alerta quanto um apelo à ação”, reforçou Ripple. 

“Desde a proteção florestal e as energias renováveis até às dietas ricas em vegetais, ainda podemos limitar o aquecimento se agirmos com ousadia e rapidez”, dizem os pesquisadores.

Além disso, o relatório aponta que reduzir o desperdício de alimentos e restaurar ecossistemas degradados, como pântanos e manguezais, são medidas urgentes. “O custo da mitigação das alterações climáticas é provavelmente muito inferior aos danos económicos mundiais que os impactos relacionados com o clima podem causar”, alertam os autores.

Um dos aspectos mais importantes destacados pelos cientistas é o papel da ação social. Segundo o estudo, “pontos de inflexão sociais podem impulsionar mudanças rápidas”. Movimentos populares, mesmo pequenos e pacíficos, podem alterar normas e pressionar governos a adotar políticas públicas mais sustentáveis.

Os autores observam ainda que “as maiorias em quase todos os países apoiam ações climáticas fortes”, mas a percepção individual de isolamento, a sensação de que poucos se preocupam com o tema, impede a mobilização global. Essa “ilusão de minoria” pode ser um obstáculo para políticas mais ambiciosas, embora o consenso científico e social seja cada vez mais sólido.

Na conclusão, Ripple, Wolf e os demais cientistas reforçam que a crise climática é também uma questão de justiça. “Estamos a prejudicar desproporcionalmente os vulneráveis e marginalizados — os menos responsáveis pela crise”, destacam. Os efeitos mais severos do aquecimento recaem sobre países e populações que menos contribuíram para o problema, como comunidades indígenas, povos tradicionais e nações em desenvolvimento.

“O futuro ainda está a ser escrito”, afirmam os autores, ressaltando que as decisões políticas, os investimentos e a ação coletiva definirão o rumo da humanidade.

Johan Rockström, do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático, complementa: “Nos últimos anos, indicadores vitais têm batido recordes por margens extraordinárias — como a temperatura da superfície, o calor dos oceanos, a perda de gelo marinho e a cobertura arbórea destruída por incêndios.”

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