“Teoria do pássaro” viraliza e recria debate sobre conexão emocional nos relacionamentos
27 dezembro 2025 às 19h00

COMPARTILHAR
Uma tendência que ganhou força nas redes sociais, conhecida como “teoria do pássaro”, voltou a chamar atenção para um tema antigo da psicologia: a qualidade da escuta e da resposta emocional dentro dos relacionamentos. A proposta é simples: comentar algo trivial, como ter visto um pássaro, e observar a reação do parceiro. Interesse, curiosidade e diálogo indicariam vínculo; indiferença ou desprezo, um possível distanciamento.
A ideia que viralizou no TikTok e no Instagram não surgiu do acaso. Ela tem base em pesquisas conduzidas desde os anos 1980 pelos psicólogos americanos John Gottman e Julie Gottman, referências mundiais em terapia de casal. Os estudos mostram que pequenas tentativas diárias de conexão emocional, chamadas por eles de bids for connection, são determinantes para a longevidade de um relacionamento.
Em um dos estudos mais citados, os Gottman acompanharam casais recém-casados e observaram que aqueles que permaneceram juntos respondiam positivamente a essas tentativas de conexão em cerca de 86% das vezes. Entre os que se divorciaram, o índice caiu para 33%. A conclusão é direta: não são grandes gestos que sustentam uma relação, mas a atenção cotidiana aos detalhes.
A metáfora do pássaro foi mencionada por Julie Gottman em entrevista ao The New York Times como exemplo de como comentários aparentemente banais funcionam como convites à conexão emocional. O conteúdo do comentário importa menos do que a resposta oferecida.
Apesar da popularização da teoria, psicólogos afirmam que um único episódio não define a saúde de um relacionamento. Distração, cansaço ou estresse podem explicar respostas frias em momentos isolados. O que merece atenção é o padrão recorrente de indiferença, sarcasmo ou hostilidade.
Especialistas também fazem um alerta ético: gravar o parceiro sem consentimento e expor reações nas redes sociais pode violar a privacidade e transformar questões íntimas em espetáculo. Para muitos profissionais, o caminho mais saudável continua sendo o diálogo direto dentro da relação, não a validação pública.
Outro ponto destacado por terapeutas é que diferenças de socialização influenciam essas interações. Homens, em geral, são educados para uma comunicação mais objetiva, enquanto mulheres tendem a usar a conversa como forma de criar vínculo emocional. Isso ajuda a explicar por que muitos vídeos mostram mulheres “testando” parceiros homens, nem sempre por desinteresse, mas por diferenças na leitura do significado da conversa.
No fim, a chamada “teoria do pássaro” funciona menos como um teste e mais como um termômetro simbólico. Ela revela se existe espaço no relacionamento para compartilhar pequenas histórias do dia a dia sem julgamento ou apatia. Como resumem os próprios Gottman, não se trata do pássaro em si, mas da disposição de estar presente, ouvir e responder.
Leia também

