Tema da redação Fuvest aposta em reflexão filosófica e exige maturidade dos candidatos, avaliam professoras
14 dezembro 2025 às 18h21

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O tema da redação da Fuvest 2025, “O perdão é um ato que pode ser condicionado ou limitado?”, marcou um retorno da banca a propostas mais abstratas e conceituais, exigindo dos candidatos reflexão ética, repertório sociocultural e domínio argumentativo. A avaliação é de professoras ouvidas pelo Jornal Opção, que destacam a complexidade e a atualidade do debate proposto.
Para a professora Helga Zafred, fundadora da Escola de Redação Helga Zafred, a escolha do tema foi “extremamente pertinente” por permitir múltiplos caminhos argumentativos. Segundo ela, propostas amplas e subjetivas são eficazes para avaliar o grau de criticidade dos estudantes. “A partir delas, é possível observar a capacidade do aluno de articular diferentes abordagens com coesão e coerência dentro de um espaço textual limitado”, afirma.

Helga diz ainda que o tema dialoga diretamente com discussões contemporâneas do país. “O perdão se conecta, por exemplo, ao debate sobre anistia política, que tem ganhado força no Brasil. É um assunto que exige do jovem não apenas opinião, mas consciência histórica e social”, analisa.
Na mesma linha, a professora Cassiana Carvalho, do Articularte Redação e graduada em Letras pela UFG, avalia que a Fuvest retomou um viés mais filosófico, afastando-se de temas estritamente sociais que predominaram em edições recentes. “É uma proposta aberta, que não impõe posicionamento prévio e convida o candidato a refletir sobre o perdão em suas dimensões moral, ética, social e até institucional”, explica.
Segundo Cassiana, o principal desafio conceitual esteve na compreensão do próprio enunciado. “‘Condicionado’ e ‘limitado’ não são sinônimos. Entender essa diferença e saber articulá-la de forma clara foi fundamental para evitar generalizações ou respostas superficiais”, pontua. Para ela, o tema exigiu mais reflexão crítica e domínio conceitual do que apenas técnica de escrita, característica tradicional da Fuvest.

As duas professoras concordam que o repertório sociocultural segue sendo o ponto mais frágil da maioria dos candidatos. “Desconsiderar criticidade, repertório ou técnica inviabiliza uma redação de excelência”, diz Helga. Cassiana complementa que os textos motivadores tiveram papel essencial para orientar a argumentação diante de um tema abstrato.
Nesta edição, a Fuvest também estreou a possibilidade de escolha entre dois gêneros textuais. Além da dissertação argumentativa, os candidatos puderam optar por escrever uma carta dirigida a uma pessoa fictícia que os teria acusado injustamente, expondo os motivos para conceder ou negar o perdão. Para as especialistas, a novidade reforça a exigência de maturidade interpretativa e amplia o desafio para os vestibulandos.
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