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Segundo o cientista social e futurista Adam Dorr, estamos prestes a viver a mais drástica disrupção da história econômica moderna: dentro de apenas 20 anos, quase todos os empregos humanos vão desaparecer, substituídos por robôs e inteligência artificial. “O que o carro fez com os cavalos, a eletricidade com os lampiões a gás e a câmera digital com a Kodak, a IA fará com a mão de obra humana”, alerta ele. “Nós somos os cavalos.”

Dorr, de 48 anos, dirige pesquisas na RethinkX, uma organização americana sem fins lucrativos especializada em prever rupturas tecnológicas. Com base em uma análise de mais de 1.500 revoluções tecnológicas ao longo da história, ele defende que a automação está avançando em um ritmo previsível e implacável, e que o mundo terá que lidar com uma economia onde os humanos simplesmente não serão mais necessários para a maioria das funções produtivas.

“Máquinas que pensam já existem e suas capacidades melhoram dia a dia. Sabemos que a substituição será rápida. Não temos muito tempo para nos preparar”, afirma ao The Guardian. Dorr argumenta que até 2045 a força de trabalho humana será, em grande parte, obsoleta — um cenário que ele considera inevitável.

Embora reconheça que alguns setores possam resistir por um tempo — como os que dependem da presença humana, entre eles terapeutas, líderes religiosos, artistas ou profissionais do sexo — ele afirma que essas exceções não serão suficientes para sustentar uma população global de bilhões de pessoas. “Mesmo esses nichos enfrentarão concorrência de máquinas. O problema é que não há ocupações suficientes para empregar 4 bilhões de pessoas.”

A previsão, embora alarmante, vem acompanhada de uma visão otimista: se conduzida corretamente, a revolução tecnológica poderia inaugurar uma era de “superabundância”, com ganhos de produtividade tão altos que permitiriam à sociedade eliminar a escassez de recursos básicos. Dorr acredita que a humanidade poderá viver melhor, sem precisar trabalhar.

Mas ele também faz um alerta: sem planejamento adequado, o processo poderá agravar desigualdades e concentrar ainda mais poder nas mãos de poucos. “A transição exigirá novas estruturas de propriedade, novas formas de distribuir valor e novos princípios sociais. O risco é criarmos uma oligarquia tecnológica se não lidarmos com isso agora.”

Dorr esteve recentemente na Irlanda, onde discursou no Fórum Dargan sobre as transições verde e digital. Seu livro, Brighter: Optimism, Progress and the Future of Environmentalism, defende que o futuro, apesar dos desafios, pode ser brilhante — desde que a sociedade reavalie conceitos como trabalho, valor e propósito.

E quanto ao que faremos com nosso tempo quando não houver mais trabalho? Dorr recorre à história: “Uma pequena parcela da população, como a aristocracia, já viveu sem trabalhar. Alguns desperdiçaram a vida, mas muitos encontraram sentido em arte, comunidade e relações humanas. Acredito que esse será nosso caminho.”

Ele conclui com uma provocação: “Não sabemos se temos as respostas certas. Talvez nem tenhamos feito ainda as perguntas certas. Mas precisamos começar agora.”

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