Nesta terça-feira, 11, às 19h30, o Teatro Goiânia recebe o 11º espetáculo de dança do Centro Educacional Bilíngue de Surdos, realizado em parceria com a Associação dos Surdos de Goiânia e a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc-GO). Com entrada gratuita, a apresentação reúne alunos surdos da primeira instituição bilíngue do Estado, em um evento que promete celebrar a identidade e as expressões da comunidade.

A proposta é valorizar a vivência artística dos estudantes e aproximar o público de narrativas construídas a partir da cultura surda, que é o tema da edição deste ano. O espetáculo, construído pelos próprios alunos, apresenta coreografias contemporâneas e explora linguagens visuais e corporais como forma de expressão. 

Cultura surda como protagonista

Em entrevista ao Jornal Opção, a diretora do Centro Educacional Bilíngue de Surdos, Alessandra Terra, destacou a importância do projeto, que teve início em 2012 e chega agora à 11ª edição. Ela reforçou a simbologia de ocupar o Teatro Goiânia pela primeira vez, palco tradicional da cena cultural da capital.

“Pra nós é uma alegria, é algo muito significativo num teatro de tanta importância da nossa cidade. Os nossos alunos são, todos eles, alunos surdos.”

Segundo ela, o tema desta edição, “mãos que fazem cultura surda”, conecta a dança à memória e à trajetória coletiva da comunidade. A intenção é transformar o palco em espaço de narração, sensibilidade e representatividade.

Processo criativo e desafios

A diretora explicou como o desenvolvimento da dança acontece entre os alunos surdos. Apesar dos desafios relacionados à percepção musical, ritmo e construção corporal, o trabalho contínuo da instituição vem fortalecendo as habilidades dos estudantes.

“Esse trabalho já é um trabalho histórico feito dentro da instituição. Então, essa corporalidade deles já está sendo construída, né? […] O nosso espaço, ele é construído para que eles consigam ter qualidade nesse aprendizado. Então, lá nós temos caixas amplificadas, nós temos um tablado de madeira. A nossa metodologia, ela é toda visual para que eles consigam ter a percepção dos combinados, do ritmo, das entradas […]. Então, são desafios nesse sentido, mas a gente está construindo caminhos de possibilidade e eles realmente são protagonistas da sua arte.”

Embora se trate de um projeto artístico, a escola observa impactos que ultrapassam o palco. De acordo com Alessandra, o envolvimento em dança potencializa o desenvolvimento social, emocional e educacional dos alunos. A experiência de ocupar espaços culturais importantes, como o Teatro Goiânia, amplia horizontes e fortalece a autoestima.

“É um impacto significativo, porque eles infelizmente não têm essa oportunidade em qualquer espaço. Então, a gente promove pra eles esse espaço, de conhecer um teatro, de se colocar nesse espaço de apresentação […]. Então, eles ficam super empolgados, ficam ansiosos, né, sendo aí artistas. […] Eles ficam realmente mais engajados, né, no processo educacional, porque a gente também tem essas outras experiências para além do muro da escola.”

Metodologias bilíngues para inclusão

A escola desenvolve práticas pedagógicas baseadas no bilinguismo, envolvendo Libras e português. A comunicação fluida entre docentes e alunos sustenta o processo de autonomia criativa. Segundo a diretora, essa presença cotidiana de professores bilíngues garante acolhimento e respeito.

“Primeiro, que quem está à frente, produzindo e conduzindo eles, é uma equipe de professores, que são bilíngues, que falam a sua língua, então tem total interação e comunicação, e que estão inseridos nessa comunidade.”

Atualmente, a equipe responsável pelo espetáculo é composta pela professora Fernanda Xavier, ouvinte, fluente em Libras e formada em Educação Física, e pelo professor Sérgio, surdo, formado em Letras Libras e artista. Juntos, os dois conduzem o processo criativo valorizando a improvisação e o contemporâneo, sempre considerando o corpo e as potencialidades de cada estudante.

Questionada sobre planos futuros, Alessandra afirmou que ampliar o acesso à escola é prioridade. Ela reforçou que há vagas disponíveis, mas muitos potenciais alunos desconhecem o serviço.

“Nós somos uma escola que tem capacidade de atender uma quantidade maior de alunos, e muitas vezes não é atendido porque não sabe da existência da escola.”

Para os próximos anos, a escola pretende buscar novos parceiros, investir em tecnologia e ampliar a acessibilidade na formação artística, fortalecendo a visibilidade da cultura surda.

Expectativa para o espetáculo

Ao convidar o público para a apresentação, a diretora destacou a qualidade estética das coreografias e a sensibilidade dos projetos desenvolvidos.

“Venha com os olhos bem atentos e um coração aberto pra receber um trabalho artístico com muita emoção, com muito carinho. […] Venham preparados para um trabalho surpreendente, de muita beleza, de uma cultura singular que é esse trabalho com os surdos dançantes.”

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