Suspensão surpresa e saída apressada do presidente: os bastidores do leilão milionário da CelgPar

15 outubro 2025 às 18h28

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No último dia 3 de outubro, o governo de Goiás comemorou com euforia o resultado do leilão para a alienação de ações da Companhia Celg Participações, a CelgPar, realizado na B3, em São Paulo. Na ocasião, o Estado conseguiu arrecadar R$ 227,3 milhões após o arremate de quatro lotes pelas empresas Órion Transmissão, EDP Goiás, Neoenergia Renováveis e Hy Brazil Energia – valor 16% maior do que o que o montante inicialmente estimado, de R$ 194,6 milhões.
A celebração, contudo, foi antecedida por uma confusão que envolveu o adiamento do leilão e a saída abrupta, e nada amigável, do então presidente da companhia, Fernando Navarrete.
O leilão dos ativos estava marcado para o dia 30 de setembro. No entanto, conforme apurado com exclusividade pela coluna, representantes do governo estadual que haviam desembarcado em São Paulo no dia 22 para acompanhar, no dia seguinte, a entrega dos envelopes de lances do leilão, receberam a notícia assim que chegaram à capital paulista de que o certame havia sido suspenso pela diretoria da CelgPar.
O argumento usado foi o da necessidade da atualização da data-base das avaliações econômico-financeiras das investidas. Os valores atualizados, porém, já constavam em edital.
Integrantes da alta cúpula do governo, incluindo o secretário de Governo, Adriano da Rocha Lima, ficaram atônitos com a suspensão uma vez que ela teria sido decidida por Navarrete, diretor-presidente, e Anita Belchior, diretora de Gestão Corporativa, sem aviso prévio e sem aval do Conselho de Administração da CelgPar – situação vedada pelo regimento da companhia.
A iniciativa de Navarrete, ainda segundo apurado pela coluna, deflagrou uma crise com reação em cadeia. Na mesma semana, o Conselho de Administração convocou uma reunião que teria já como objetivo a destituição do diretor-presidente do cargo.
Navarrete chegou a enviar e-mails para integrantes do Conselho na tentativa de postergar a reunião, sob o argumento de que não poderia participar dela, mas sem sucesso.

Foi quando, ciente de que já seria retirado do comando da companhia, o diretor-presidente foi às pressas ao Palácio Dr. Pedro Ludovico Teixeira entregar sua carta de renúncia ao governador Ronaldo Caiado, que não o recebeu. O ofício teria sido entregue a um integrante do gabinete do chefe do Executivo estadual.
Na ocasião, Navarrete divulgou nota afirmando que “as razões que motivaram o pedido de exoneração do cargo de Diretor Presidente da CELGPAR foram devidamente comunicadas ao Excelentíssimo Senhor Governador por meio de ofício entregue presencialmente no Palácio Pedro Ludovico Teixeira, na última quinta-feira (25)”.
Ex-secretário da Fazenda de Marconi Perillo, Fernando Navarrete disse também na nota que retornaria “à sua profissão de origem: a advocacia”.
Ainda no dia 25, a diretoria da CelgPar se reuniu e revogou a suspensão do leilão, determinando nova data para o dia 3 de outubro, mas com voto contrário de Anita Belchior. A diretora também foi demitida dias depois.
Na mesma semana em que o leilão foi concluído, Caiado promoveu outras mudanças na cúpula da companhia. Entre elas a nomeação do então vice-presidente Gustavo Mendanha como diretor de Gestão Corporativa, no lugar de Anita, e de Luiz Leite como o novo vice-presidente. Leite já trabalhou na companhia e foi coordenador da estruturação da venda da Celg – T em 2021.
No departamento jurídico da CelgPar, foram destituídos o procurador-geral e controlador-geral, sendo nomeada como nova diretora jurídica a advogada Thais Moraes, um dos “braços direitos” de Adriano da Rocha Lima, que hoje comanda a companhia. Até então, Thais coordenava o Grupo de Trabalho que subsidiava as decisões do acionista majoritário sobre a companhia desde outubro de 2024.
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