“Suspensão do tratamento oncológico não é uma opção”, alerta Hospital Araújo Jorge
24 março 2020 às 11h55

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Unidade de saúde está mais vazia e sente reflexo da pandemia do novo coronavírus (Covid-19)

Com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o Hospital de Câncer Araújo Jorge (HAJ) registrou queda de 30% no agendamento de consultas de 1ª vez. Além disso, 28% dos pacientes marcados não compareceram à unidade de saúde. O percentual é preocupante pelo fato de que o aumento da mortalidade pela doença está diretamente ligado a demora entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o diagnóstico.
Desde o início do mês uma grande maioria dos pacientes vem optando por desmarcar as consultas e seguir à risca a orientação do isolamento social. No Setor de Oncologia Torácica, por exemplo, onde são tratados casos de câncer de pulmão, menos de 30% dos novos pacientes compareceram a unidade de saúde.
No Setor de Câncer de Pele e Melanoma apenas 16% dos aguardados compareceram à consulta. A ausência mais representativa ainda se estendeu pelos setores de Cabeça e Pescoço e Neuro-Oncologia.
O presidente da Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG), Claudio Cabral, alerta que o não comparecimento pode diminuir as chances de vitória na briga contra o câncer. “Mesmo diante da determinação de quarentena a suspensão do tratamento oncológico não pode ser considerada uma opção”, defende.
Medidas de segurança
A unidade afirma que vem adotando medidas preventivas para proteger os pacientes que precisam se tratar. “O ambiente foi todo preparado: as cadeiras estão bem separadas e os atendimentos foram divididos em faixas de horários ao longo do dia, garantindo que a saída do isolamento seja curta e segura, tudo dentro das recomendações”, garante Cabral.
Além disso, todas as consultas de revisão periódica estão sendo reagendadas, as visitas aos pacientes internados foram suspensas e as regras para acompanhantes alteradas.
Queda no movimento
“Se por um lado sabemos que a população deve obedecer à quarentena, ficando em casa e se protegendo do vírus, é preciso alertar que, na luta contra o câncer, todo minuto conta. Uma única sessão de quimioterapia ou de radioterapia pode fazer diferença para o sucesso do tratamento, na busca pela cura da doença”, alerta o diretor técnico do HAJ, Roberto César Fernandes.
Fernandes ressalta que dependendo do estágio do câncer, o paciente será mais prejudicado se não comparecer ao hospital para a primeira consulta. Ele cita ainda outro grupo que preocupa a equipe médica: pacientes que têm cirurgias agendadas e que estão cogitando ficar em casa por medo da disseminação do Covid-19.
A apreensão de Roberto Fernandes é compartilhada pelo corpo clínico do HAJ. Dados recentes do Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimam o surgimento de 625 mil novos casos da doença em 2020. Destes, mais de 21 mil devem ser identificados em Goiás. Entre os homens, o mais comum (63%) é o câncer de próstata e entre as mulheres, o de mama (46%).