O Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) e a Universidade Federal de Goiás (UFG) deram início nesta terça-feira, 25, à implantação do Sistema Integrado de Ocorrências de Trânsito de Goiás (SIGO), projeto que pretende unificar as bases de dados sobre acidentes no Estado.

A iniciativa busca reduzir inconsistências, evitar duplicidades e oferecer diagnósticos mais precisos para subsidiar políticas públicas de prevenção. A reunião de pactuação ocorreu na sede do Detran-GO, com a participação de órgãos ligados ao planejamento urbano, fiscalização, atendimento pré-hospitalar e investigação de acidentes.

O objetivo é consolidar um modelo interoperável capaz de reunir informações atualmente dispersas entre instituições de segurança, saúde e trânsito. O presidente do Detran-GO, Waldir Soares, afirmou que a multiplicidade de bases desconectadas tem dificultado a formulação de ações eficazes. Ele citou exemplos de divergências entre levantamentos divulgados por diferentes entidades.

“O que a gente enfrenta ao longo do tempo são informações difusas, informações diferenciadas de órgãos oficiais. Temos dados da iniciativa privada, da Secretaria de Saúde, das forças de segurança, do governo federal. Isso é complicado para o gestor que trabalha mobilidade, engenharia de trânsito, proteção à vida, e também para o jornalista, que recebe informações conflitantes”, disse.

Waldir mencionou casos em que estatísticas imprecisas ganharam repercussão nacional. “Lembra do ano passado, quando um jornal colocou Goiás como o Estado com o maior número de atropelamentos do país? Impossível. Era uma informação falsa que vira fake news. A gente precisava concentrar e não tem como não ter a Universidade Federal nesse projeto”, afirmou.

O presidente do Detran-GO destacou que o SIGO deve aprimorar a precisão das respostas do poder público. “Sabe quando vocês, da imprensa, questionam os órgãos oficiais e a gente não responde com precisão? Isso é enganar o cidadão, e a gente não quer mais isso. Vamos entregar um modelo único no Brasil, e encaminhar ao governo federal uma proposta que possa servir de exemplo”, disse.

Ele também ressaltou a necessidade de dados consistentes para acompanhar o crescimento da frota no Estado. “Vimos que Goiás aumentou a frota em 170 mil veículos. Com quais dados vamos enfrentar esse aumento? Quais informações os prefeitos terão para trabalhar? O Detran se uniu à UFG para trazer uma resposta à sociedade”, completou.

A coordenadora do projeto SIGO, professora Poliana Leite, reforçou que a falta de informações estruturadas compromete a capacidade do Estado de enfrentar as mortes no trânsito.

“Sem dados, nós ficamos às cegas. Não conseguimos criar políticas públicas assertivas porque não sabemos onde o acidente aconteceu, quando aconteceu, qual a gravidade e os fatores de risco”, afirmou. Segundo Poliana, a primeira fase do projeto envolve reunir e integrar instituições responsáveis pela produção e registro de dados.

“Hoje chamamos instituições que têm relação com as ocorrências de trânsito: Samu, Corpo de Bombeiros, delegacias, instituições de saúde, Secretaria Estadual e Municipal de Saúde, PRF. É um projeto construído a várias mãos; não pode ser feito só pela UFG ou só pelo Detran”, disse.

A pesquisadora explicou que cada órgão deverá indicar representantes técnicos para auxiliar na estruturação do sistema. “Cada instituição vai nomear alguém que entenda sua base de dados. As que não têm base estruturada também serão apoiadas. Vamos criar sistemas para que todas possam alimentar o banco unificado”, informou.

O SIGO terá duração de 18 meses, período necessário para mapear fluxos, corrigir falhas e padronizar formulários utilizados no registro de ocorrências. “O caminho do dado é muito importante e começa no local do acidente. Temos problemas de sub-registro, formulários incompletos. Vamos aplicar inteligência artificial para qualificar esses dados, e depois começar a montar a plataforma”, explicou Poliana.

Atualmente, não há previsão para a abertura pública das bases consolidadas, mas o Detran-GO e a UFG afirmam que jornalistas, pesquisadores e cidadãos interessados poderão acompanhar o desenvolvimento do projeto.

“Qualquer um que quiser participar pode procurar o Detran ou a UFG. O projeto será entregue à sociedade”, afirmou Waldir. Participaram do encontro representantes do Detran-GO, UFG, Secretaria de Segurança Pública, Secretaria de Saúde, Agência da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia, Secretaria Municipal de Engenharia de Trânsito.

Além disso, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Batalhão de Trânsito da PM, Batalhão Rodoviário, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Ordem dos Advogados do Brasil, Superintendência de Polícia Técnico-Científica, Samu e Secretaria Municipal de Saúde.

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