A deputada federal Silvye Alves (UB) em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, relatou ter sido vítima de crimes de violência política de gênero, incluindo assédio sexual, perseguição e envio de imagens pornográficas. O caso culminou na deflagração da Operação Assédio pela Polícia Federal (PF), nesta terça-feira (9), após investigações conduzidas pela Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados sobre crimes de violência política de gênero e perseguição (stalking).

“É um crime. A pessoa começa a te vigiar em todos os âmbitos em que você se encontra, para poder te atingir de alguma forma. Além disso, sofri assédio sexual e compartilhamento de imagens pornográficas”, afirmou Silvye.

A deputada conta que a situação se agravou quando o agressor enviou conteúdos explícitos diretamente para o e-mail institucional de seu gabinete, onde a maioria dos funcionários são mulheres.

“Já passei por muita coisa no Instagram, antes mesmo de ser deputada. Homens assediavam moral e sexualmente, mandavam fotos pornográficas. Mas quando ele manda para o meu gabinete, quem abre são meninas que trabalham comigo. Isso foi muito pesado”, disse.

Após o segundo envio, Silvye decidiu denunciar o caso formalmente. “Dois dias depois, a Polícia Legislativa Federal foi ao Rio de Janeiro, conseguiu, junto ao Google, quebrar o IP desse homem e descobriu que ele era de Duque de Caxias. Ele já foi indiciado pelos crimes, embora não tenha sido preso ainda”, relatou.

Segundo a investigação, o suspeito trabalhava como frentista e teria se aproveitado da posição para acessar dados pessoais de mulheres, como CPF e telefone.

“Ele tinha alvos muito fáceis e vulneráveis nas mãos dele. Uma vítima, em maio, que não é parlamentar, recebia mensagens como: ‘Eu te amo, vou morar na sua casa, esse é o nosso segredinho’. Imagina o pânico de uma mulher humilde diante disso?”, questionou.

“A violência política de gênero é muito maior contra nós”

Silvye destacou que o assédio tem impacto direto sobre a atuação política de mulheres. “Você veria isso em relação a um homem? Acho que não. É claro que pode acontecer, mas a violência política, de gênero, é muito maior contra nós, com certeza”, declarou.

Ela admite que situações como essa atrapalham o trabalho parlamentar. “Eu já estou acostumada a levar pancada, mas, nesse caso, decidi denunciar porque esses crimes são muito subnotificados no Brasil. Se a gente não registra, não entra na estatística e o governo não cria políticas públicas para combater”.

A deputada disse ainda que o machismo estrutural dificulta a reação das vítimas. “Se eu for parar minha vida para denunciar todo homem que olha para o meu corpo ou faz comentários, vão me chamar de chata. A gente não é vista como vítima, mas como problema”.

“Porém, em casos sistemáticos como esse, a denúncia é fundamental, porque o assédio pode ser uma escada para algo pior, como um estupro”, alertou. Silvye ainda fez um apelo para que outras vítimas não se calem diante desse tipo de crime.

“Peço que as mulheres não sintam vergonha. Eu mesma já me senti culpada por receber imagens pornográficas, achava que era por causa de uma foto que postei. Mas não, nós não somos culpadas. Não é porque uma mulher está de vestido ou de biquíni que ela tem que ser assediada. Nem de forma moral, nem sexual.”

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