Setores financeiro e do agronegócio buscam nomes da direita e descartam clã Bolsonaro
01 dezembro 2025 às 19h54

COMPARTILHAR
Com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro até 2060 e sua prisão, agronegócio e mercado financeiro começam a redefinir suas estratégias para a eleição presidencial de 2026.
Apesar de reconhecerem o peso político do ex-presidente, representantes desses setores afirmam que nenhum integrante da família Bolsonaro deve enfrentar Lula nas urnas. Entre as gestoras de investimento, o nome mais cotado é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Já produtores rurais avaliam que, além de Tarcísio, Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Ratinho Jr. (PSD) também despontam como alternativas competitivas para a direita. A “chapa ideal” para representantes do agro incluiria um desses quatro nomes com a ex-ministra Tereza Cristina como vice.
Segundo Fabio Murad, CEO da Spacemoney Investimentos, a exclusão de Bolsonaro da disputa já estava “incorporada aos preços dos ativos”, o que explica a ausência de reação negativa no mercado. “Agora, a expectativa é entender como a direita vai se reorganizar e quais nomes surgirão com potencial eleitoral”, afirma Murad.
No mercado financeiro, predomina o temor de que uma eventual reeleição de Lula amplie o desequilíbrio fiscal, com projeções indicando dívida bruta atingindo 100% do PIB em 2030. No agro, prevalecem reclamações sobre a falta de diálogo com o governo, baixa oferta de crédito no Plano Safra, limitações no seguro rural e críticas ao apoio do PT ao MST.
O que pesa na escolha do candidato da direita
Para investidores, o candidato ideal precisa defender estabilidade fiscal, previsibilidade institucional, avanço das reformas e continuidade das privatizações. O economista Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos, avalia que Tarcísio é o nome mais natural na ausência de Bolsonaro.
“Não há espaço para alguém da família Bolsonaro. A rejeição é alta. O mais provável é que Bolsonaro use seu capital político para fortalecer Tarcísio, embora haja divergências internas na família”, diz Marcatti.
Apesar de insistir que buscará a reeleição em São Paulo, Tarcísio sinalizou abertura ao debate nacional ao afirmar recentemente: “Quero fazer parte do time, não importa a posição.” A fala foi interpretada como gesto eleitoral por analistas.
O Ibovespa subiu 1,70%, atingindo recorde histórico após suas declarações. “O mercado gostou da sinalização e da ênfase na importância política de Bolsonaro”, explica Daniel Teles, sócio da Valor Investimentos.
Um executivo de banco afirma que Bolsonaro ainda terá papel decisivo na definição do nome da direita, mesmo inelegível. Flávio Bolsonaro é apontado como possível herdeiro político do pai.
Pesquisa interna da bancada do agro mostrou que 70% defendem anistia para Bolsonaro, reforçando a centralidade do ex-presidente no campo conservador. Apesar disso, analistas veem a família Bolsonaro como obstáculo para a unidade da direita.
“A família mais atrapalha que ajuda. Se Tarcísio entrar em conflito com eles, o mercado recua”, diz Paulo Bittencourt, estrategista-chefe da MZM Wealth. Os três governadores estiveram presentes nos principais eventos do agronegócio em 2024, defendendo políticas permanentes para o setor e conquistando apoio expressivo, embora ainda sem consenso.
Para Tirso Meirelles, presidente da Faesp, Caiado é o que mais conhece as demandas do campo, mas Tarcísio também atua de forma consistente. Ele alerta para desafios como dívida pública crescente, perdas de US$ 5 bilhões com tarifas de Trump e aumento dos custos de produção.
“O candidato da direita precisa apresentar um plano de nação”, afirma Meirelles. Já Antônio de Salvo, presidente da Faemg e do Senar, reforça que viabilidade eleitoral será o fator determinante. “O agro apoiará quem tiver maior potencial de votos, e hoje esses nomes são Tarcísio e Zema.”
Leia também:
