Estudo revela segredo da felicidade no trabalho e fim da escala 6×1 fica mais perto de ser realidade

23 julho 2025 às 17h06

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Um estudo publicado na revista científica Nature Human Behaviour afirma que trabalhar menos pode fazer bem não só para a saúde dos trabalhadores, mas também para o desempenho das empresas. A pesquisa, coordenada pela socióloga Wen Fan, do Boston College, analisou dados de quase 3 mil funcionários de 141 empresas em seis países – Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Irlanda, Austrália e Nova Zelândia – que adotaram a jornada reduzida sem corte de salários.
A pesquisa mostra uma redução significativa nos níveis de esgotamento físico e mental (burnout), além de melhora na saúde geral e na satisfação com o trabalho. As empresas participantes migraram do modelo tradicional de cinco dias úteis (5×2) para a chamada escala 4×3 – quatro dias de trabalho e três de descanso, mantendo os mesmos salários e, em muitos casos, a produtividade.
A transição foi acompanhada por consultoria da organização sem fins lucrativos 4 Day Week Global, que atua promovendo testes e estudos sobre a viabilidade da nova jornada de trabalho. Durante dois meses, as empresas receberam orientação para reestruturar fluxos de trabalho, eliminar ineficiências e otimizar tarefas – por exemplo, substituindo reuniões desnecessárias por trocas simples de mensagens.
O período de teste durou seis meses. Ao longo desse tempo, os pesquisadores analisaram questionários respondidos por 2.896 funcionários das 141 empresas que efetivamente participaram do programa. Os dados foram comparados com as respostas de trabalhadores de 12 empresas que inicialmente demonstraram interesse, mas desistiram antes de implementar o modelo.
De acordo com o estudo, os benefícios do novo regime foram observados independentemente da idade, gênero ou tipo de trabalho (presencial ou remoto). Um dos diferenciais foi o impacto observado entre supervisores e gerentes, que relataram ganhos ainda maiores em comparação com funcionários de cargos não gerenciais.
Mais tempo para dormir, menos estresse
Entre os fatores que podem ter influenciado os resultados positivos estão o aumento do tempo de sono de qualidade, a redução do cansaço acumulado ao longo da semana e a sensação de maior controle sobre a vida pessoal e profissional. A maior sensação de autonomia e bem-estar também contribuiu para o aumento da motivação e do engajamento.
Uma preocupação comum ao debater a semana reduzida é a possível intensificação do trabalho. A lógica é simples: se há cinco dias de tarefas para realizar, como comprimir tudo em apenas quatro? No entanto, o estudo indica que, com uma reorganização eficiente, o tempo menor de expediente não levou ao aumento de estresse, mas sim a uma melhoria das condições de trabalho. Segundo os autores, a redução da jornada proporcionou mais foco, menos distrações e maior clareza nas prioridades.
Apesar da eficácia comprovada no exterior, o debate ainda encontra resistência no Brasil. Em fevereiro deste ano, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para extinguir a escala 6×1 – em que o trabalhador folga apenas um dia por semana – e estabelecer a carga máxima de 36 horas semanais, distribuídas em quatro dias.
A proposta, no entanto, enfrenta forte oposição no Congresso Nacional. Levantamento recente do instituto Quaest aponta que 70% dos deputados federais são contrários ao fim da jornada 6×1. O debate tem sido impulsionado por movimentos como o Vida Além do Trabalho (VAT), que defende uma reforma mais ampla nas relações laborais e no direito ao tempo livre.
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