COMPARTILHAR

Casal decidiu não adquirir os medicamentos, mas disse que azitromicina e ivermectina são recomendados para todos os pacientes que procuram atendimento na rede municipal

Um casal de moradores de Abadia de Goiás, região Centro-Oeste do Estado, município a 18 quilômetros de Goiânia, denuncia médicos da secretaria municipal de Saúde por receitarem medicamentos do chamado “Kit Covid-19” aos pacientes da rede pública. Eles procuraram, nesta terça-feira, 18, o Centro de Saúde do município devido a apresentação de sintomas gripais e foram atendidos por uma médica que receitou azitromicina e ivermectina. No ano passado a Associação Médica Brasileira (AMB) recomendou que a indicação desse tipo de medicamento fosse banida.

Isso porque, segundo a entidade, “medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento da Covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença.” Com medo, o casal de Abadia de Goiás, cujos nomes não foram revelados, foi a farmácia da região e se informou que a indicação da médica era a mesma para todos os pacientes que buscavam por atendimento.

“Fiquei com receio de questionar a médica, já que sou morador da cidade e preciso do atendimento na unidade de saúde”, explica um deles. Segundo ele, a emissão da receita é feita pela Prefeitura de Abadia de Goiás. “A minha namorada disse que no consultório havia várias receitas já impressas sendo repassadas a população, principalmente para aquelas pessoas que possuem pouca instrução. Ainda na prescrição da profissional é possível ver envolvimento direto com as farmácias da cidade”, alega.

O denunciante ainda afirmou que tem receito de o Kit Covid-19 ocasionar outros problemas, já que não foi comprovada cientificamente qualquer eficácia dos medicamentos. “Soube que, além de não ajudar a prevenir, em certos casos piora, causando complicações irreversíveis, principalmente, ao fígado e outros problemas intestinais”, diz. A receita emitida pela profissional de saúde da cidade, tendo como identificação emitente da prefeitura municipal, conta com cinco tipos de medicamentos, tais como azitromicina, ivermectina, vitima C+zinco, vitamina D e Prednisona. A utilização dos remédios teria de ser feito por até 10 dias.

O casal, no entanto, decidiu não adquirir os medicamentos, chamados de kit Covid-19, optando por comprar apenas azitromicina, xarope e dipirona, além de fazer repouso durante o período gripal. “Não queremos nos prejudicar ao ingerir medicamentos que não foram comprovados para serem utilizados”, argumenta.

O presidente do Sindicato dos Farmacêuticos de Goiás, Fábio Basílio, reitera que os medicamentos que integram o chamado “kit covid” não têm eficácia comprovada, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele lembra que todo remédio possui efeitos colaterais e, quando ingerido de forma incorreta, pode causar mais malefícios que benefícios ao organismo. Já a Associação Médica Brasileira cita 13 pontos para enfrentamento da pandemia e reforça a necessidade de prevenção da Covid-19. Entre eles estão a necessidade de acelerar a vacinação, manter o isolamento social, o uso de máscaras e, também, a necessidade de ação das autoridades para solucionar a falta de medicamentos no atendimento de pacientes internados.

Procurada pelo Jornal Opção, a Secretaria de Saúde de Abadia de Goiás emitiu nota na qual o secretário Pedro Ludovico informa que apenas que a pasta segue todos os protocolos dos órgãos reguladores e do Ministério da Saúde (MS). O órgão da prefeitura não confirma ou nega a indicação do Kit-Covid e também não informa se vai investigar o caso. O texto acrescenta apenas que na cidade os casos aumentaram, como em todo o país, mas que, contudo, no momento, há apenas uma internação. O secretário também informa que é feita a testagem, seguindo os protocolos de tratamento.