O recuo dos Estados Unidos nas ações tomadas contra o Brasil e autoridades do Judiciário brasileiro está mais relacionado a um erro no comportamento de Donald Trump. Essa é visão de John Feeley, ex-embaixador dos EUA no Panamá, que já foi considerado um dos maiores especialistas em América Latina.

Na percepção de John Feeley, a mudança na percepção de Trump sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro não refere-se a uma conquista do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante as negociações com Washington.

Em entrevista à BBC News Brasil, Feeley afirma que, após a prisão de Jair Bolsonaro, o presidente americano passou a ver o aliado político como “perdedor” e o descartou.

“Assim que Bolsonaro perdeu, ou seja, assim que foi condenado e preso, Donald Trump o viu como um perdedor, e se há algo que Trump não tolera são perdedores”, diz.

Ex-embaixador dos EUA no Panamá, John Feeley | Foto: Arquivo Pessoal

Ainda de acordo com Feeley, Trump é extremamente imprevisível e “narcisista”, o que torna quase impossível negociar com ele. Por isso, diz o diplomata, o resultado das tratativas entre o Brasil e os EUA nos últimos meses pode ser considerado sorte.

Pressões de Trump

Os Estados Unidos impuseram, em julho, tarifas de 40% sobre diversos produtos agrícolas importados do Brasil. Posteriormente, incluíram o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e sua esposa, Viviane Barci de Moraes, da lista de sancionados pela Lei Magnitsky.

Tudo aconteceu em meio a pressões do governo de Donald Trump para tentar influenciar o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump | Foto: Reprodução

Mas em 20 de novembro, o presidente americano assinou um decreto suspendendo as tarifas e, há cerca de duas semanas, retirou Moraes e a esposa da lista usada para punir estrangeiros autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.

“Acho que a reação inicial dos Estados Unidos, ou da administração Trump, ao julgamento de Bolsonaro foi resultado direto do lobby de Eduardo Bolsonaro, seu filho, em Washington”, avalia John Feeley sobre a imposição das tarifas e sanções.

Tensão entre EUA e Venezuela

Em sua entrevista à BBC News Brasil, o diplomata também comentou os últimos acontecimentos em torno da Venezuela, com a imposição por Washington de um “bloqueio total” a navios-petroleiros sancionados, que entrem ou saiam do país sul-americano.

Protestos na Venezuela contra ameaças de Trump | Foto: Reprodução

Para Feeley, o bloqueio é muito mais eficaz em ferir o governo de Nicolás Maduro do que as operações realizadas anteriormente pelo governo Trump contra embarcações acusadas de envolvimento com o narcotráfico.

O ex-embaixador dos EUA no Panamá afirma ainda que a execução das sanções por meio do cumprimento dos mandados de apreensão deve causar efeitos secundários na população, mas não deve ser apontada como a causa principal do sofrimento dos venezuelanos.

Leia também:

Retirada da aplicação da Lei Magnitsky a Alexandre de Moraes e seus efeitos jurídicos no Brasil e no cenário internacional

Trump parabeniza Lula na Malásia: “Um cara muito vigoroso”