Santa Cruz de Goiás é o município com maior fiscalização eletrônica no país
02 dezembro 2025 às 12h26

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Santa Cruz de Goiás, um pequeno município do interior goiano, é referência nacional em fiscalização eletrônica de velocidade após alcançar o maior índice de monitoramento em rodovias de todo o Brasil. O dado integra o levantamento Indicadores Brasileiros sobre Fiscalização de Velocidade, elaborado pelo Observatório Nacional de Segurança Viária em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A análise, que utilizou informações do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) referentes ao ano de 2023, também mostra que Goiás se destaca no cenário nacional, especialmente nas vias urbanas, onde aparece como a unidade da federação mais equipada com monitoramento eletrônico proporcional à frota.
O estudo, produzido com apoio da Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Trânsito (Abeetrans), utiliza critérios técnicos para medir o nível de vigilância eletrônica em municípios e estados. E, embora Santa Cruz de Goiás tenha pouco mais de 3 mil habitantes, o município se projetou devido à elevada concentração de equipamentos por número de veículos, fator considerado decisivo para colocá-lo na liderança nacional.
Em entrevista ao Jornal Opção, o coordenador do estudo, professor da UFPR e membro do Conselho Deliberativo do Observatório Nacional de Segurança Viária, Jorge Tiago Bastos, explicou que “foi utilizada a taxa do número de equipamentos por 10 mil veículos da frota do município”.
Segundo ele, essa relação proporcional foi fundamental para o resultado. Bastos detalhou que a alta presença de radares impacta diretamente a posição no ranking. “A concentração de radares foi expressa pela quantidade de equipamentos em relação à frota de veículos. Portanto, certamente a quantidade de equipamentos no município influenciou no resultado”. Assim, mesmo sendo uma cidade pequena, a intensidade do monitoramento elevou o índice final.
Metodologia consolidou dados técnicos e oficiais
Ao comentar a metodologia do estudo, o pesquisador ressaltou a robustez das fontes utilizadas. Conforme explicou, “os dados sobre fiscalização eletrônica de velocidade foram extraídos dos relatórios de verificação do Inmetro, disponíveis por meio do Portal de Serviços do Inmetro nos Estados – PSIE e do Portal de Dados Abertos do Governo Federal. Os dados sobre frota de veículos foram da Secretaria Nacional de Trânsito. O indicador definido foi a quantidade de equipamentos localizados no município a cada 10 mil veículos da frota do município”.
A partir desses indicadores, a equipe concluiu que Goiás se mantém em posição de destaque. O estado ocupa o terceiro lugar nacional em fiscalização eletrônica de velocidade, somando o monitoramento das vias urbanas e rodovias. Bastos avalia que esse desempenho resulta de um conjunto contínuo de políticas municipais voltadas ao controle de velocidade e de uma rede relevante de equipamentos instalados em rodovias sob responsabilidade estadual.
Goiás ainda precisa ampliar o monitoramento
Apesar dos bons índices, o coordenador do levantamento ponderou que ainda há espaço para intensificar o controle da velocidade nas vias goianas. Bastos afirmou que o nível de fiscalização no estado é elevado em comparação ao restante do país, mas insuficiente diante dos padrões ideais para redução de acidentes fatais.
Ele destacou que o apoio a medidas como a regulamentação da fiscalização por velocidade média é uma estratégia fundamental para o país reduzir mortes e lesões no trânsito.

Segundo o pesquisador, municípios menores, como Santa Cruz de Goiás, também se beneficiam do monitoramento, justamente porque, em vias locais ou rodovias que cruzam territórios pequenos, motoristas tendem a acelerar mais rapidamente quando o desenho da pista permite velocidades acima do limite. Ele reforçou que “independentemente do porte do município, a fiscalização eletrônica de velocidade é importante para a segurança viária em qualquer tipo de via que o condutor consiga praticar com facilidade uma velocidade maior que a regulamentar”.
Além disso, Bastos enfatizou que o monitoramento eletrônico não deve ser a única ferramenta aplicada para coibir excessos. Para ele, medidas de moderação de tráfego são igualmente essenciais para induzir velocidades mais seguras. Entre elas, citou lombadas, travessias elevadas, estreitamento de vias e meios-fios avançados como exemplos de intervenções urbanísticas capazes de conter práticas de risco.
Fiscalização precisa ser combinada com presença humana
O engenheiro de transportes e professor do Instituto Federal de Goiás (IFG), Marcos Rothen, também avalia que, embora seja indispensável, a fiscalização eletrônica representa apenas parte do que precisa ser desenvolvido para reduzir acidentes.
Ele observa que a presença de agentes de trânsito continua fundamental. Segundo afirmou, “a fiscalização eletrônica representa, talvez, a metade do que precisa ser feito. Ela controla a velocidade, controla o avanço de sinal e é muito importante em muitos lugares. Mas não é só ela. A cidade precisa ter pessoas na rua, fiscalizando e orientando motoristas e pedestres”.
Rothen acrescentou que a experiência prática comprova a eficácia do monitoramento por radares. Em alguns trechos de vias onde atuou, a instalação dos equipamentos praticamente eliminou acidentes. Para ele, quando o radar está corretamente sinalizado e posicionado, os motoristas passam a respeitar o limite de velocidade.

Esse comportamento também é reproduzido pelo condutor goiano. Marcos destaca que, em cruzamentos monitorados, quase todos respeitam o sinal. Mas, segundo ele, na quadra seguinte, sem fiscalização, o índice de respeito cai fortemente. Para ele, isso demonstra que o hábito de correr ou avançar o sinal ainda é profundamente enraizado no estado. “O motorista goiano, ele tem o hábito de achar que pode correr à vontade, de avançar o sinal, né? E os acidentes estão acontecendo aí todo dia”, diz.
Segundo o engenheiro, somente com mais radares será possível quebrar esse ciclo. Ele defende que, com o tempo, a repetição do monitoramento educa o motorista, ainda que indiretamente. Essa adaptação progressiva ocorre porque, após a primeira multa, a lembrança do prejuízo financeiro, e do risco, tende a modificar o comportamento.
“A fiscalização eletrônica é complementada com a educação de trânsito e com os radares”, relatou.
Rothen afirma que somente conscientização não basta, pois muitos motoristas sabem que “é perigoso”, mas continuam cometendo infrações até serem punidos. Ele compara essa lógica à resistência de pacientes a orientações médicas: muitas vezes, apenas depois de sofrer as consequências é que reconhecem o alerta.
Ele concluiu que, apesar de mudanças culturais levarem tempo, elas acontecem, especialmente quando fiscalização e educação caminham juntas.
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