Saída da Enel de Goiás virou referência para ofensiva de São Paulo contra a concessionária
18 dezembro 2025 às 15h00

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A decisão do governo de São Paulo de iniciar o processo para afastar a Enel da distribuição de energia elétrica no Estado não surge no vácuo. Ela dialoga diretamente com um precedente recente no país: o rompimento entre Goiás — político e regulatório— e a concessionária italiana. A comparação entre os dois casos revela um padrão de enfrentamento entre o poder público e concessionária, em que a má prestação do serviço se converte em fator determinante para a inviabilidade da permanência da empresa.
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Em Goiás, a Enel assumiu a antiga Celg Distribuição em 2016, após vencer o leilão de privatização por R$ 2,187 bilhões. Desde então, a concessionária passou a conviver com indicadores recorrentes de baixa qualidade no fornecimento, com sucessivos descumprimentos de metas de continuidade estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O problema, no entanto, extrapolou a esfera técnica. A partir de 2019, quando o governador Ronaldo Caiado (UB) assumiu o mandato, ele passou a intensificar a pressão política sobre a empresa, cobrando investimentos, agilidade no atendimento e melhorias estruturais. O desgaste se aprofundou com multas aplicadas pela agência reguladora, cobranças públicas do Executivo goiano e críticas reiteradas de parlamentares estaduais.
Além das críticas à prestação do serviço, o rompimento de Goiás com a Enel também deixou um rastro de questionamentos sobre o destino e a transparência dos recursos envolvidos na venda da distribuidora. A operação, concluída em 2022 com a transferência da Enel Distribuição Goiás para a Equatorial Energia, movimentou bilhões de reais e passou a ser alvo de suspeitas levantadas por parlamentares, sindicatos e entidades da sociedade civil, que cobraram esclarecimentos sobre como os valores foram contabilizados, quais passivos foram efetivamente assumidos e se houve prejuízo ao interesse público.
Com a pressão sobre a empresa, em 2022, antes que o processo avançasse para a caducidade da concessão, a empresa optou por vender a distribuidora para a Equatorial Energia, encerrando sua atuação no Estado.
São Paulo repete a mesma lógica
O movimento anunciado por São Paulo segue a mesma lógica. Após apagões de grande impacto na Região Metropolitana, o governo paulista, a prefeitura da capital e o Ministério de Minas e Energia passaram a defender publicamente a abertura de processo de caducidade da concessão da Enel Distribuição São Paulo, controladora da antiga Eletropaulo.
Os dados regulatórios reforçam essa convergência. Avaliações recentes da Aneel colocam operações da Enel entre as concessionárias com queda de desempenho nos rankings de continuidade, sobretudo no Rio de Janeiro e no Ceará, estados onde a empresa também atua. Embora os contextos regionais sejam distintos, o padrão de questionamento é o mesmo: o distanciamento entre as obrigações contratuais e a experiência concreta dos consumidores.
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