Saiba qual pode ser a primeira capital do mundo a ficar completamente sem água

25 julho 2025 às 10h16

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Um relatório divulgado em maio pela organização humanitária Mercy Corps aponta que Cabul, capital do Afeganistão, pode enfrentar um colapso total no abastecimento de água até 2030. Segundo a ONG, o risco é real e, se confirmado, provocará impactos humanitários, econômicos e ambientais severos.
A crise hídrica que ameaça a cidade não é recente. O estudo indica que ela é resultado de uma combinação de fatores, como as mudanças climáticas, o crescimento acelerado da população, a má gestão dos recursos naturais e a ausência de políticas de planejamento urbano.
Há três décadas, Cabul tinha menos de 2 milhões de habitantes. Hoje, estima-se que a população esteja entre 5 e 6 milhões. Essa expansão aumentou drasticamente a demanda por água e forçou a extração dos aquíferos subterrâneos em ritmo superior à capacidade de recarga natural. O déficit anual de água na cidade já chega a 44 milhões de metros cúbicos.
“Sem mudanças significativas na gestão hídrica, a capital afegã poderá enfrentar um desastre humanitário sem precedentes na próxima década – ou até antes disso”, afirma a Mercy Corps.
Água escassa e contaminada
Além da escassez, grande parte da água disponível em Cabul está contaminada. A ONG estima que até 80% do suprimento da cidade esteja poluído, em razão do descarte inadequado de resíduos industriais e do uso de latrinas rudimentares, que despejam dejetos diretamente no solo.
As consequências já são sentidas: casos de diarreia e vômito são frequentes, especialmente entre crianças e idosos. Em muitos lares, filhos deixam de frequentar a escola para buscar água em pontos públicos, como mesquitas. “As horas que deveriam ser usadas na educação agora são gastas em filas para encher baldes”, relata Marianna Von Zahn, diretora de programas da Mercy Corps no Afeganistão.
Mulheres e meninas enfrentam obstáculos adicionais. Sob o regime do Talibã, não podem sair sozinhas de casa, o que dificulta ainda mais o acesso à água. Além disso, estão mais expostas a situações de assédio durante os deslocamentos diários.
Ajuda internacional suspensa
A crise se agravou com o retorno do Talibã ao poder, em agosto de 2021. A mudança de regime levou à suspensão de parte significativa da ajuda internacional, incluindo o financiamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Em 2025, apenas US$ 8 milhões dos US$ 264 milhões previstos para projetos de água e saneamento devem ser entregues ao país.
Sem apoio externo e com recursos internos escassos, o cenário é de colapso iminente. Muitos moradores já cogitam deixar a capital, mas a maioria não tem recursos para migrar.
Tendência global
O colapso hídrico de Cabul reflete uma tendência global. De acordo com a revista Scientific Reports, o número de pessoas afetadas por escassez de água subiu de 240 milhões, em 1900, para 3,8 bilhões em 2000. Regiões como o Oriente Médio, o norte da África e o sul da Ásia estão entre as mais vulneráveis.
Casos como o da Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2018, e de Chennai, na Índia, em 2019, mostram que o risco de uma capital secar completamente não é apenas teórico. Cabul pode ser a primeira, mas dificilmente será a última.
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