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Nunes D’Acosta

É com imensa alegria e um profundo senso de responsabilidade que testemunhamos um evento que reescreve a história natural do Vale do Rio Turvo: o retorno da Arara-Azul-Grande (Anodorhynchus hyacinthinus).

Após uma ausência dolorosa que perdurou por cerca de 80 anos, as magníficas aves, com sua plumagem azul-cobalto vibrante e seu bico poderoso, voltaram a colorir e ecoar pelas copas de nossa região.

A presença destas araras, a maior espécie de psitacídeo do mundo, é um indicativo da recuperação e da vitalidade de nosso ecossistema.

No entanto, sua sobrevivência e fixação permanente exigem mais do que apenas um ambiente saudável; requerem a nossa intervenção cuidadosa.

Com a Mata Atlântica e Cerrado fragmentados e muitas das árvores antigas e ocas — que seriam os locais naturais de nidificação da espécie — desaparecidas, a tarefa de garantir a reprodução das araras-azuis tornou-se crítica.

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Arara Azul Grande: Cada filhote que nascer e alçar voo no Vale do Rio Turvo representa uma vitória contra a extinção local | Foto: Nunes D’Acosta

É neste ponto que entra em ação o nosso projeto de conservação. Nossa missão é simples e vital: instalar ninhos artificiais em pontos estratégicos do Vale do Rio Turvo.

Tais ninhos, cuidadosamente construídos para replicar as condições ideais de um oco de palmeira ou árvore madura, são essenciais para que as araras-azuis possam procriar com segurança e sucesso, oferecendo um local seguro contra predadores e intempéries.

Ao disponibilizar locais adequados para a postura, aumentamos significativamente as chances de sucesso reprodutivo da espécie, facilitando ativamente a recuperação de uma população que foi extinta localmente por décadas.

O esforço conjunto de biólogos, ambientalistas e a comunidade local para instalar e monitorar esses ninhos não é apenas um trabalho técnico; é um ato de fé, de amor pela natureza e um compromisso com o futuro.

Cada filhote que nascer e alçar voo no Vale do Rio Turvo representa uma vitória contra a extinção local.

Esperamos que, com esta intervenção, as araras-azuis-grandes não sejam mais visitantes esporádicos, mas sim, uma população significativa e autossustentável em nossa região.

O vibrante azul no céu do Rio Turvo é um lembrete constante de que a natureza, quando recebe uma chance, sempre pode retornar à sua glória.

Nunes D’Acosta, fotógrafo e ambientalista, é colaborador do Jornal Opção.